ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 4:00:52

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“Fazei o que Ele vos disser”: Maria e a família

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro.

 

No desejo de breve análise, faço-o a lançar luzes de esperança na base dos lares cristãos. Assim, refletiremos o papel da Virgem Santa como ‘Mãe das Famílias Cristãs’.

De ante mão, afirmo: para nós, que amamos Nossa Senhora, é inquestionável o seu maternal patrocínio sobre os lares, em especial em dois tipos de família: primeiramente, naquelas que escutam a sua ordem: “Fazei tudo o que Ele [Jesus] vos disser!” (Jo 2,5); e nas famílias em crise, quando ela mesma observa, e diz ao seu Jesus: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3). A figura de Maria Santíssima é também inspiradora e educadora, pois ao lado de São José, muito tem a ensinar à ‘proto-sociedade’ humana, denominada família.

O grande e inesquecível Papa São João Paulo II muito afirmou acerca desta divina instituição, corroborando o que já dissera em 1981, com a Exortação Familiaris Consortio. Com a sua forte espiritualidade mariana, o Papa, na perspectiva do Ano da Família, em 1994, não ficou indiferente, escrevendo uma carta aberta destinada à vida familiar. Neste documento, não hesitou em chamar a Virgem como ‘Mãe do Belo Amor’, um sinônimo à maternidade de Maria, que gerou e nos apresenta o Cristo, o ‘Belo Amor’.

Trazendo o Salvador do gênero humano em seu coração e ventre, a pequenina ‘Família de Nazaré’ – a saber: Maria e José – não ficaram indiferentes à pertença que a obra redentora de Cristo os iria configurar. Assim, o ‘Lar de Nazaré’ é a primeira de todas as famílias, seja em primazia, seja em cronologia, a consagrar-se ao Coração de Jesus, que lhe nascia, vindo ao mundo como homem, habitando em companhia daquelas pessoas admiráveis, também pela fé. O exemplo de Maria e José levam a feito em perfeição aquilo que o Patriarca Josué já havia dito milênios antes: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor!” (Js 24,15). Daí a autoridade que a Virgem Santíssima tem de ordenar aos serventes – “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5) –, porque somente de um coração, de uma vida exemplares é que tal imperativo faz sentido e tem a sua autoridade. Maria, na perfeição de sua vida fiel ao Senhor, e José, seguindo o exemplo da fidelidade de Maria, fizeram, constantemente, o que o Senhor sempre quis como resposta afirmativa da consagração dos seus corações e do seu lar.

É a partir deste demonstrativo de Maria e de José que se descortina para aqueles tipos de família a quem catalogamos à audição do “Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3) um novo horizonte, um ideal a ser alcançado. Esta esperança não se perde no tempo, mas resplandece como um remédio para as mazelas da família hodierna, combatendo igualmente como um antídoto as pseudo-famílias – instituições meramente humanas, excludentes da vontade de Deus, fadadas à condenação por estarem encarquilhadas no pecado, onde imperam a desordem infértil e o capricho de paixões corrompidas. Para os lares desvalidos de ‘vinho’, porque estão desvalidos de Cristo, a ‘Família de Nazaré’ fulge, na tentativa de despertar famílias esmeradas no bem, na santidade de, em tudo, realizarem o querido por Deus, como colaboradores, em todo o seu potencial, da obra d’Ele de criação e salvação.

Na atualidade, o Sacramento do Matrimônio, base da família autenticamente cristã, parece estar ultrapassado. Diz-nos tal aberração o pensamento relativista que dita as normas do momento, distanciando a sociedade do que o Evangelho instrui. Ainda entre aqueles que contraem o Matrimônio existem aqueles que se esquecem de que a vida que abraçaram é correspondência a um plano de amor delineado e executado por Deus com participação especial daqueles corações que se receberam mutuamente sob o olhar de Deus e de Sua Igreja. Não apostam no amor, o verdadeiro amor, cujo principiar é o próprio Deus-Amor (cf. 1Jo 4,8). Com estes pensamentos, temos desde o utilitarismo Daquele que é o essencial e dá sentido ao amor humano (o que se caracteriza em um escanteio de Deus, buscando-O superficial e descomprometidamente), até o pérfido ateísmo que não vê em Deus, ‘Belo Amor’, o nascedouro e o destino da família, e, portanto, do amor conjugal.

As Bodas de Caná, chamadas também de autorrevelação de Jesus, o Seu “primeiro sinal” (no dizer do Evangelho de São João), nos quer indicar um caminho: somente a partir da ótica de Cristo e do Seu amor manifestado ao mundo, é que o ser humano descobre quem é Deus; descobrindo-O, descobre-se, revelando-se a si mesmo, a outrem e ao ‘Outro’; e tendo a sua própria ciência identitária, é capaz de descobrir e aceitar o ‘outro’, o que inclui as suas fragilidades, naquele mesmo pensamento de renúncia própria, tal como foi pedido por Jesus (cf. Mt 16,24).

Que Maria, Mãe e Educadora das famílias, ensine-nos o caminho do Cristo, e, portanto, do ‘Belo Amor’. Que, imbuídas no espírito da fé de Maria, cultivem no centro de seus lares Deus, em torno de Quem deve gravitar toda a experiência domiciliar, o que comporta também as dificuldades. E, tendo o ‘Belo Amor’ como eixo destas experiências, descubram Nele a fonte inesgotável de onde flui todo bem e toda graça. Que a Virgem Santíssima não cesse de olhar com carinho para todos lares, em especial os que estão em diversos tormentos, inclusive no da separação, da desunião, da crise.