Padre Everson Fontes Fonseca,
Administrador da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Mosqueiro.
Desde quando da Páscoa do Senhor, a Igreja nunca se esqueceu de seu gesto
redentor, doador de vida plena para todos. Ao final de cada transubstanciação, fazendo
o que Jesus lhe pediu até que, glorioso, voltasse, a Igreja, em cada Eucaristia,
proclama: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição.
Vinde, Senhor Jesus!”. O nome desta recordação grata do anúncio da salvação
operada por Cristo é kerigma.
O anúncio querigmático envolve a nossa vida em gratidão, e deseja, pelo nosso
testemunho pascal, envolver a vida dos outros pela conversão. E esta consciência já
tinha São Pedro, o ‘Príncipe dos Apóstolos’, quando da manhã de Pentecostes, em seu
discurso repleto do entusiasmo provocado pelo sopro das línguas de fogo do Espírito
Santo: “E agora, meus irmãos, eu sei que vós agistes por ignorância, assim como os
vossos chefes. Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de
todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. Arrependei-vos, portanto, e
convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados” (At 3,17-18).
Sim, o Cristo morreu e ressuscitou porque grande era a nossa culpa, a nossa dívida
para com Deus. Entretanto, a Sua Páscoa não deve ser estéril em nossa passividade;
mas, na nossa atividade, deveremos, mergulhados no Seu mistério pascal, converter-
nos para viver o Ressuscitado. “Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para
entenderem as Escrituras, e lhes disse: ‘Assim, está escrito: O Cristo sofrerá e
ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome serão anunciados a conversão
e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém’” (Lc 24,45-47),
começando pelos filhos da Igreja, a “Jerusalém do Alto, nossa Mãe” (Gl 4,26).
Permitir-nos à conversão é o desejo forte de querer fazer o que é verdadeiro, de querer
guardar a Palavra de Deus, que abaliza a nossa vida. Por isso, São João instruir-nos:
“Naquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado”
(1Jo 2,5a). Converter-se é querer amar o que ganhamos de mais precioso – a salvação
dada por Deus – em zelo; amor que supera a possível vergonha do recomeço, por ser o
foco do amor maior do que a tibieza do constrangimento. Esta experiência a
vislumbramos no Evangelho dos Discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-53), onde,
superada a desilusão e o desânimo, Cléofas e o anônimo (eu, você…) são capazes de
voltar e contar “o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus
ao partir o pão” (Lc 24,35). E mais: foi mediante o anúncio da experiência que o
coração dos outros discípulos se dilatou em comoção, de maneira que acolheram a
presença ressuscitada de Jesus, que se pôs presente no meio deles, desejando-lhes a
paz. E, se me permitem ainda: comoveram-se e experimentaram de maneira que a
experiência que também fizeram com o Ressuscitado dispensou o restante do
testemunho dos que vieram de Emaús, porque estes foram interrompidos.
Eis o nosso dever no mundo, cristãos: convertidos pela experiência com o Senhor
Crucificado-Ressuscitado, convertermos outros pelo kerigma, de maneira que possam
ser, também eles, transmissores do feliz anúncio que comove e transforma vidas.