ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 23:28:15

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O diabo trama contra a família

 

Padre Everson Fontes Fonseca,

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro.

 

Convido o caro leitor a pensarmos juntos nas tentações que afligem a vida familiar nos nossos dias. E, como toda tentação se constitui uma investida do diabo, àquelas que se debatem contra a família cristã, tal como esta foi pensada por Deus, não poderia ser diferente.

O diabo odeia as famílias porque, no plano original de Deus, no Seu sonho eterno para a vida em família, o lar cristão fundamenta-se no amor. Um amor não mero ‘sentimentalismo’; mas, o amor enquanto realidade de um Deus que se apresenta como tal, convidando-nos a Si: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). O diabo tenta os membros do lar cristão como tenta os filhos de Deus. A tentação é uma proposta que busca anular a fonte, o meio e o fim do amor, que é o próprio Deus, visando subverter a Sua obra.

Quando se pensa e se fala da família como querida por Deus, de imediato se os vem à memória o modelo da Sagrada Família, Jesus, Maria e José. O lar de Nazaré, portanto, deve se repetir no interior de cada domicílio onde o Coração Jesus é o centro, o primordial. E assim a família será, de fato, o lugar de comunhão com Deus e com aqueles que lhe são partícipes; é centro de educação para a fé, para a vida e para o mundo em sociedade. Logo, “a família cristã é evangelizadora e missionária” (Catecismo da Igreja Católica, 2205).

A família, perseverante na união, vive o interesse recíproco entre os membros, numa coesão de vida tal que, a necessidade de um é a dor do outro; a alegria de um é o sucesso dos demais. É bem verdade que é um desafio viver assim, principalmente num mundo tão individualista, onde as pessoas tendem ao isolamento, criando os seus mundos e subterfúgios, principalmente pelos meios de comunicação e seus ditames atrativos e enfeitiçantes. Porém, se não há um esforço, uma dura luta para que “todos sejam um” (Jo 17,21), acontece o previsto por Nosso Senhor no Evangelho: “Se uma família se divide contra si mesma, não poderá manter-se” (Mc 3,25).

O demônio peleja contra a família, prova-nos isto o trazido pelo Gênesis, onde a serpente maldita engana a mulher, e a humanidade, por sua vez, é ameaçada: “Então o Senhor Deus disse à serpente: ‘Porque fizeste isso, […] porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela’” (Gn 3,14.15). Não entrevejamos aqui os diversos significados teológicos, mas pensemos na praticidade destas palavras em relação à vida familiar. Neste mesmo sentido, em sua profunda Exortação Apostólica Familiaris Consortio, o Papa São João Paulo II, analisando a situação da família do mundo de hoje, dirá que não lhe “faltam sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambiguidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas, que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores; o número crescente dos divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais frequente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva. Na raiz destes fenômenos negativos está muitas vezes uma corrupção da ideia e da experiência de liberdade concebida não como capacidade de realizar a verdade do projeto de Deus sobre o matrimônio e a família, mas como força autônoma de afirmação, não raramente contra os outros, para o próprio bem-estar egoístico” (n. 6).

Mas, o que nos cabe? Ficaremos inertes ante às tentações e investidas do demônio que quer destruir as famílias? Não. Como filhos da grande família de Deus, constituída Igreja pelo Sangue de Jesus, deveremos evangelizar a cultura que aí está, evangelizando, por primeiro, os nossos lares, os nossos filhos, os nossos pais, enfim, as nossas famílias, fazendo com que “sejam reconhecidos os verdadeiros valores, sejam defendidos os direitos do homem e da mulher e seja promovida a justiça também nas estruturas da sociedade” (Familiaris Consortio, 8).

Peçamos a Maria, a Mulher, a Mãe que, em tudo, soube fazer a vontade de Deus, e por isso é bendita, que nos auxilie nesta peleja contra Satanás, a fim de que, evangelizando nossa família, o mundo inteiro seja, também, evangelizado.