ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 10:54:17

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Para estar a serviço do Reino

 

Padre Everson Fontes Fonseca,
Administrador da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro

Para estarmos unidos à dinâmica da Igreja no Brasil, que, neste ano, na comemoração do trigésimo aniversário da Exortação Apostólica Christifidelis Laici, celebra o Ano Nacional do Laicato, faz-se interessante uma catequese com o nosso povo sobre a vida e o ministério dos leigos, contemplando a atividade dos fiéis batizados na missão de, no mundo serem sal, luz e fermento.

Creio que, antes de qualquer informação, sejamos inseridos na reflexão acerca do que é o Reino de Deus. Assim, poderíamos dizer, inspirados pelo Concílio Vaticano II, mais propriamente pela Constituição Dogmática Lumen Gentium: “A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus” (LG 3).

Se estamos no mundo, passíveis às suas realidades que inquirem o valor e a qualidade da nossa fé, exigindo de nós mesmos o discernimento necessário para dar a “César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mc 12,17), estamos igualmente atormentados pelas diversas situações históricas, inclusive pelo sofrimento, que, misteriosamente, nos exige estar a serviço do Reino, da Igreja.

A Igreja é o sacramento do Reino: “sacramento de unidade” (SC 26; LG 1.9); sacramento “universal de salvação” (LG 48; AG 1); é “sacramento brotado do lado de Cristo” (SC 1). Mas, o que é Sacramento? O Cardeal bolonhês Giacomo Biffi, no seu livro ‘Para amar a Igreja’, explicitar-nos-á como a Igreja é sacramento: “A nossa é a estação dos ‘sacramentos’, que medeiam justamente entre as vazias prefigurações e as atuações sem véus, permutando e sintetizando umas pelas outras a sua natureza inédita e sobrenatural. São realmente prefigurações que contextualmente se realizam; e são atuações justamente em virtude daquilo que significam. Imersa nesta estação, alma desta época e protagonista deste tempo, a Igreja é ela mesma ‘sacramento’: é sacramento cumulativo e unificante de toda a realidade pascal, que é distribuída aos homens nos atos rituais. Daqui brotam as ‘sete ações sacras’, que progressivamente assumem a criatura na comunhão e na partilha do mundo redimido e renovado que é justamente o ‘Reino de Deus’. A Igreja é, portanto, o ‘sacramento do Reino’: esta parece ser a formulação mais adequada da relação entre a ‘ecclesìa’ e a ‘basileia’”. No vislumbre da realidade do ‘já’ e do ‘ainda não’, o purpurado continuará: “[…] a Igreja é já o Reino de Deus, como o batismo é já inserção no ‘Christus totus’ e o rito do ‘corpo doado’ e do ‘sangue derramado’ já é participação antecipada no banquete eterno. […] Quem está real e totalmente na Igreja, já está real e totalmente no Reino” (Ibidem). Isto é válido também para o serviço.

Servimos a Igreja porque servimos o Reino e vice-versa. Não obstante as nossas fragilidades e irritantes infidelidades. Esta consciência de serviço faz-nos conscientes de nossa importância ao Corpo Místico do Senhor (cf. 1Cor 12). Por nossas mãos, sejamos pastores ou fiéis, temos a atuação da Igreja, do Reino, da sua missão no mundo, como continuidade da Redenção querida e operada por Cristo. Enquanto leigos, sejam conscientes das tarefas e serviços referentes ao seu apostolado, isto é, o seu peculiar modo de tornar Cristo presente nas estruturas da ordem temporal e civil. O serviço que o leigo presta na vida da Igreja parte, única e exclusivamente do Batismo, da Crisma, e, nalguns casos, do Matrimônio, tudo isto alimentado pela Eucaristia. Daí, excluirmos toda e qualquer pretensão de o leigo ser afogado pelo exagerado número de atividades pastorais ou de movimentos. A qualidade de sua missão independe da lotação de sua agenda. O Cardeal Joseph Ratzinger, em relação ao exercício do apostolado do leigo, vai dizer: “O exercício de semelhante tarefa não transforma o leigo em pastor: na realidade o que constitui o ministério não é a tarefa, mas a ordenação sacerdotal”.

A ação ‘da’ e ‘na’ Igreja é ação ‘do’ e ‘no’ Reino, é ação ‘do’ e ‘em’ Cristo mesmo. E, se os servimos, também poderemos cair na tentação demoníaca de prestarmos desserviços. Porque, quando pecamos, traimos a causa, anulamos o bem. Tudo o que a Igreja faz, inclusive por nossas frágeis mãos, é ação mesma de Cristo, e vice-versa. “Dessa forma, nada de pecaminoso ou, de qualquer forma, censurável pode ser assumido pela Igreja como tal, porque viria por isso mesmo atribuído também ao imaculado Filho de Deus” (Cardeal Biffi).

Que a consciência da sublimidade da missão do leigo, encarada com responsabilidade por cada batizado, seja um grande serviço, para que a grande mensagem da Igreja, assimilada por todos corações, faça com que sejamos, em Cristo Jesus para o mundo, sal, luz e fermento.