ARACAJU/SE, 24 de abril de 2024 , 21:54:49

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José Carlos Machado fala sobre a fusão DEM/PSL e os reflexos em Sergipe

Na última quarta-feira (6), o partido União Brasil, fruto da fusão entre Democratas (DEM) e Partido Social Liberal (PSL), foi oficialmente formalizado em convenção nacional, em Brasília. Apesar de a mudança já ser prevista, as lideranças sergipanas do DEM foram surpreendidas com a falta de aviso prévio da cúpula do partido, quanto à decisão de entregar a presidência do Diretório Regional em Sergipe para o ex-deputado federal André Moura. O atual presidente do DEM no estado, José Carlos Machado, tomou conhecimento da mudança através das redes sociais de Moura. O Jornal Correio de Sergipe conversou com Machado sobre o assunto. Confira.

 

Correio de Sergipe: Machado, qual é o objetivo dessa fusão?

José Carlos Machado: O objetivo com essa fusão é que o partido que nasceu seja um partido maior que os dois partidos individualmente. Se prevalecer o bom senso, essa nova legenda pode se transformar na segunda maior força política do estado.

 

CS: Sabe-se que o novo partido acumulou um grande vulto de Fundo Partidário com a fusão.

JCM: É verdade. Isso não é tudo num processo eleitoral, mas ajuda. Não se faz eleição sem gastos. São recursos que precisam ser bem conduzidos e quem for recebê-los tem que ser bem orientado para utilizar da forma correta. De que adianta se eleger, cometer um deslize na aplicação dos recursos do Fundo Eleitoral e daí responder a um processo?

 

CS: Como se chegou ao nome de André Moura para presidir o diretório em Sergipe?

JCM: Se você me permite fazer um histórico, eu já tinha essa fusão como fato consumado. Eu vinha pregando antes das convenções que as partes interessadas aqui em Sergipe promovessem uma reunião. Partes interessadas são aquelas que representam o Democratas e o PSL. Eu cheguei a combinar uma reunião com André Moura, mas veio aquele julgamento do Supremo Tribunal Federal e o encontro foi adiado. Mas eu continuava pregando a necessidade de sentarmos para conversar com total desprendimento e ele chegou a dizer que iria conversar comigo, com a senadora Maria do Carmo, com Luciano Nascimento e outros segmentos do partido. Mas essas reuniões defendidas por mim e por ele não aconteceram até a última quarta-feira. As convenções decidiram aquilo que já estava resolvido, mas, para a minha surpresa, eu tomei conhecimento através das redes sociais que André Moura tinha sido escolhido pelo presidente da nova legenda para presidir o destino do partido aqui em Sergipe. Uma hora depois, André me ligou, já no fim da tarde de quarta. Eu disse a ele que estava tudo certo, porque ele era um dos nomes previstos para presidir o destino do partido. Quando eu colocava a necessidade de fazermos reunião, sem antecipar nomes, com total desprendimento, poderia ser André, Machado, Luciano Nascimento, Ana Alves, Georlize, poderia ser a própria senadora Maria do Carmo. Mas tomamos conhecimento através das redes sociais quem era o novo presidente do novo partido. Ele me ligou e disse de pronto: “Machado, temos que fazer uma reunião”. As reuniões que estavam previstas e não aconteceram, necessariamente se impõem agora. De pronto eu aceitei, porque era o que eu defendia, e eu espero que essa reunião aconteça até no máximo segunda-feira. Quero ouvi-lo.

 

CS: A senadora Maria do Carmo participará?

JCM: Antes de responder, gostaria de dizer que o que me causou estranheza nesse anúncio e no telefonema do André foi que eu esperava que, antes de qualquer decisão, nós fôssemos avisados pela Executiva do meu partido. Eu não fui comunicado dessa decisão pela cúpula do DEM. Dona Maria também não foi comunicada. Eu acho que a lógica e o bom senso eram que, antes de qualquer decisão lá em Brasília, a senadora, principalmente, que estava lá na convenção, fosse avisada da decisão. Mas o fato é que nós não fomos e agora só posso lamentar. Eu tenho certeza de que a Executiva do DEM vai promover uma reunião para discutirmos isso. E dessa reunião deve participar eu, a senadora e ACM Neto para ouvirmos da nossa Executiva o porquê dessa decisão. Não há, de minha parte e de Dona Maria, nada contra o nome do André Moura, ok? Mas eu e ela estranhamos tomar conhecimento pelas redes sociais do próprio André Moura, quando a lógica e o bom senso mandam que, antes de qualquer anúncio, nós, que fazemos o DEM aqui, fôssemos comunicados dessa decisão, através da Executiva do nosso partido. Mas isso aconteceu, essa reunião comigo e André vai acontecer e deve ser estendida para a senadora. Se é importante uma reunião comigo, uma com a senadora é fundamental. André já fez uma visita de cortesia a Dona Maria, mas, na conversa que eu tive com a assessoria da imprensa da senadora, ela me disse que a maioria só vai se manifestar sobre o assunto depois dessas reuniões.

CS: Que reuniões?

JCM: As que ela, Dona Maria, terá comigo, com  Luciano Nascimento, com outras pessoas e com André Moura, e depois da reunião que nós vamos ter (um encontro) com a Executiva do nosso partido.

 

CS: Podemos dizer que o anúncio dessa forma gerou desconforto e constrangimento nas lideranças de Sergipe?

JCM: Eu não coloco como constrangimento, porque quem está na política há 40 anos como eu já se acostumou com tantas coisas, que fatos para me constranger precisam ser de um teor elevadíssimo. Eu fiquei surpreso. Não pela indicação do nome de André. O que me chateou um pouco foi o fato de nós não termos sido comunicados pela Executiva do nosso partido. Não é pelo fato de ser André, porque quando eu pregava a necessidade de um encontro, de uma conversa desprendida, eu tinha em mente a possibilidade que poderia ser ele, assim como poderia ser Luciano Nascimento, a própria senadora ou eu, a própria Georlize ou outro nome do partido, como Zé Franco.

Eu conversei com ACM Neto e disse que não há constrangimento nenhum da minha parte. Ele me explicou as razões que levaram o partido a avançar nessa fusão, explicou quais os objetivos da nova legenda. Segundo ele, pretende-se aumentar o número de senadores existentes pelo menos em 50%, manter esse número de 80 deputados federais nas próximas eleições e elevar o número de representantes na Assembleia Legislativa, E isso não é uma missão fácil. Está aparentemente fácil até agora porque nós estamos em convenções, que são quase uma reunião festiva. Depois é que vêm as nomeações das Comissões Executivas Instituidoras. Aí é que tem que ouvir os interesses dos que representam o DEM e representantes do PSL, para se chegar a um bom termo aqui em Sergipe.

 

CS: Então, sem ressentimentos.

JCM: Nenhum! Vou sentar com Neto, com a Executiva do meu partido e vou ouvir. Ele deve ter as suas explicações. Ele me disse hoje (sexta-feira) que quer uma reunião para discutirmos exatamente isso: o futuro do partido em Sergipe. O grupo do André não é o PSL aqui. O grupo dele hoje está lá no PSC. O partido resultado dessa fusão, se houver unidade, pode se transformar num partido forte, eu não tenho dúvida, mas precisa haver desprendimento para encontrarmos uma fórmula que atenda à maioria ou a quase totalidade dos filiados. E quem não se sentir bem depois do anúncio da nova Comissão Instituidora, deverá deixar o partido. Já recebi recados de filiados importantes da legenda altamente contrariados. Um filiado de Socorro manifestou sua contrariedade. Essas coisas acontecem. Vamos sentar, conversar e encontrar a melhor forma para fortalecer a nova legenda e pensar, sobretudo, no nosso estado, que convive hoje com graves problemas, como o desemprego.

 

CS: Espera-se muita desavença interna?

JCM: Eu não sei. Se eu tivesse essa capacidade de prever o futuro, diria, mas não tenho. Eu já ouvi umas manifestações contrárias.

 

CS: Pode dizer quem?

JCM: Ele autorizou, é de Zé Arinaldo Filho. José Arinaldo pai faz parte da história do DEM em Sergipe. Nós somos os fundadores do antigo PFL. Então, essa postura de Zé Arinaldo pode se repetir em maior ou menor intensidade. Eu pedi a ele que tivesse paciência. Vamos seguir a orientação dada por Tancredo Neves para conduzir a política: paciência, paciência e paciência. O DEM tinha muito peso na política de Sergipe, do Nordeste e do Brasil. Talvez você não saiba, mas em 1986, o MDB ganhou a eleição para governador em 26 estados, contando com o Distrito Federal. Só perdeu em Sergipe, para o PFL. Nós já tivemos todos os governadores do Nordeste pelo PFL. Já tivemos mais de 100 deputados federais. Isso é história. Numa entrevista que dei numa rádio, um eleitor de Socorro estava revoltado com isso, dizendo que o partido novo deveria ser comandado por uma pessoa que tem laço com João Alves Filho. Poderia ser Maria do Carmo, Machado, etc. São muitos que pensam assim? Não sei.

 

CS: Que consequências essa mudança trará para Sergipe?

JCM: Se houver bom senso, as consequências serão positivas tanto para os agrupamentos quanto para Sergipe, porque a exigência com o compromisso social e em resolver o problema do desemprego é do Democratas, e ela terá que ser absorvida pelo PSL.

 

CS: A conversa entre a senadora e André foi frutífera?

JCM: A conversa entre duas pessoas educadas é sempre boa. A minha conversa com André também será boa, não há dúvidas. Mas o mais importante do que o nível da conversa, se ela foi boa ou regular, são os seus desdobramentos. Nós vamos ouvir André e ele vai ter que de forma clara e precisa dizer o que pretende e eu vou dizer o que nós pretendemos. Se houver condições de conciliar, vamos conciliar.

 

CS: Senão?

JCM: Senão, aqueles que ficarem insatisfeitos só têm um caminho: deixar a legenda. Veja bem, não estou dizendo que eu, especificamente, cogito deixar a legenda. Quero dizer que vamos buscar um entendimento. Se encontrarmos uma fórmula, vamos expô-la. Minha obrigação é expor essa fórmula aos aliados do meu partido e André vai expor a fórmula aos aliados dele. E naturalmente aqueles que não ficarem satisfeitos com o que ficou definido vão ter que deixar a legenda. Vou torcer para que as coisas deem certo.

 

CS: Você teme uma debandada?

JCM: Eu não sei, porque nós temos alguns compromissos e algumas metas que eram do DEM. Neto me incumbiu de formar uma chapa para candidatos a deputado federal com a probabilidade de eleger pelo menos um. Foi o objetivo que me entregaram. Foi dito à senadora, na minha presença, que a candidatura dela ao Senado era fundamental. Ela de pronto afastou essa possibilidade.

Eu dizia que estávamos prontos para conversar com todos os segmentos da política e pensamos: temos quadros para participar de uma chapa majoritária e estamos abertos para conversar com todos. Daí surgiram os rumores da possibilidade dessa fusão, há pelo menos 30 dias. Então, toda aquela estratégia que tínhamos teve que ser diminuída na espera dessa fusão. A estratégia hoje é outra. O resultado dessa união é muito mais forte do que os partidos individualmente. Se coloca aí de forma muito clara e precisa que André Moura pode ser candidato ao Senado, mesmo com aqueles julgamentos do STF. Ele se diz elegível, e pode ser. Mas antes preciso ouvir quais as suas pretensões, ouvir e tentar arrumar com desprendimento e sobretudo com paciência, porque não vamos conseguir resolver isso numa só conversa. Depois de encontrar André, temos que conversar eu, André, Maria, enfim, a cúpula do partido.

 

CS: Com a confirmação de André Moura como novo presidente do novo partido, você deixa sumariamente a presidência do DEM?

JCM: Veja bem, o que ficou definido foi o seguinte: foi criada uma Comissão Executiva Nacional Instituidora e ela se reunirá para discutir e nomear as Comissões Provisórias Instituidoras nos estados. As Comissões em cada estado vão ter a missão de nomear as Comissões Instituidoras nos municípios. Isso é um trabalho interno. As medidas externas são: após a convenção, os novos estatutos, o manifesto dos delegados da convenção, tudo que foi aprovado tem que ser encaminhados ao Tribunal Superior Eleitoral e ser aprovado até 60 ou 90 dias. O partido precisa estar legalmente constituído até fevereiro ou março do próximo ano, senão voltamos à estaca zero. Senão o DEM apresentará seus candidatos e o PSL os seus.

 

CS: Já se especula pré-cantidatos à Presidência pelo União Brasil?

JCM: Neto acredita muito na possibilidade de candidatura própria para a Presidência da República e fala isso com muita firmeza. Defende a terceira via e já anunciou que o partido nasce com total independência de apoio ao presidente da República. Então, o partido já nasce com o objetivo de fazer essa oposição e em hipótese alguma apoiará a reeleição de Jair Bolsonaro.

 

CS: Tem algum nome para Sergipe?

JCM:  Um dos objetivos do DEM era a candidatura da senadora Maria do Carmo. Quando ela disse não, informamos que temos nomes que podem ocupar esse espaço. Se não for de senador, tem a vaga de vice-governador. Nunca pensamos numa candidatura ao governo, embora alguns setores do partido, representados sobretudo por Luciano Nascimento, Zé Franco, defendiam candidatura própria ao governo, mas são coisas que conversamos muito e daí veio essa possibilidade de fusão e tudo voltou à estaca quase zero. Não sei qual a pretensão dessa nova legenda. Pode ser que algum membro do novo partido seja candidato ao Senado. Se for, nós já estamos na chapa majoritária. Há alguma dúvida que André Moura fará parte do grupamento de Belivaldo Chagas? Não! Isso obrigatoriamente leva o União Brasil ao grupamento de Belivaldo. Ou seja, outro fato novo que temos que sentar e discutir. E aqueles que não concordarem com isso o que devem fazer? Deixar a legenda. Ou então a legenda tomar um caminho: apoiar um candidato, mas liberar para quem quiser apoiar outro. Eu não sei.

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