De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Canabinóides (BRCANN), os pedidos para importação de produtos de cannabis medicinal mais do que dobraram em 2021 no comparativo com o ano de 2020. No ano passado, foram 40.191 novos pedidos de importação de medicamentos com CBD (canabidiol), 110% a mais do que no ano de 2020, que contabilizou 19.150 importações.
A cannabis medicinal tem tido cada vez mais aceitação por parte dos brasileiros, tanto que 70% da população apoia o uso medicinal da cannabis, segundo a pesquisa “Cannabis é Saúde”, realizada pelo CIVI-CO, polo de negócios de impacto cívico-sócio-ambiental.
Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já liberou 23 produtos terapêuticos à base de cannabis medicinal no Brasil. Os produtos são utilizados para diversos tratamentos como dores crônicas, epilepsia, insônia e ansiedade. Para continuar descobrindo as propriedades da cannabis medicinal no tratamento de outros transtornos e doenças, e garantir que o medicamento possa ser utilizado pelos pacientes de forma segura, é fundamental que eles sejam estudados e avaliados através de pesquisas clínicas.
“As pesquisas clínicas são realizadas para avaliar a segurança e a eficácia de um determinado medicamento e também descobrir novas opções de tratamentos para diversas doenças. Em suma, é quando voluntários participam de testes com medicamentos que estão sendo produzidos para saber se ele é de fato eficaz e se existem efeitos colaterais”, explica Fernando de Rezende Francisco, Gerente Executivo da Associação Brasileira de Organizações Representativas de Pesquisa Clínica (ABRACRO).
As pesquisas clínicas têm um papel fundamental no avanço do uso medicinal da cannabis, já que através delas foi possível comprovar seus benefícios e, dessa maneira, quebrar alguns tabus ligados ao seu uso. Esse preconceito inclusive é um dos entraves que faz com que o Brasil acabe ficando para trás quando o assunto é pesquisa clínica com cannabis medicinal.
“Para ajudar na desconstrução desse preconceito é necessário conscientizar as pessoas sobre o assunto e criar estratégias públicas para que o tema consiga atingir diversos âmbitos da sociedade brasileira. Isso iria deixar as pessoas cientes da segurança do produto e ele poderia se tornar mais acessível à população”, pontua Francisco.
Um outro entrave ocorreu no ano passado, quando uma nova norma do Conselho Federal de Medicina (CFM) restringiu o uso de medicamentos de canabidiol apenas para casos de epilepsias. A decisão foi suspensa “temporariamente” após críticas de médicos e entidades. “Um estudo feito durante seis meses pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu, com 28 pessoas diagnosticadas com doença de Alzheimer, mostrou que o uso diário de um composto de THC (Tetrahidrocanabinol) e CBD (Canabidiol) ajudou no tratamento desses pacientes”, diz Francisco.
Além disso, aqui no Brasil, existe um atraso muito grande no tempo de aprovação dos estudos, e isso acaba deixando o país atrás de países como Argentina e Chile no ranking de lugares que mais avançam em pesquisas clínicas. Como no Brasil não existe autorização para cultivar a planta para uso medicinal, os fabricantes precisam importar a matéria-prima de outros países, o que acaba elevando grandemente os custos do produto final.
“Investir em pesquisas clínicas de cannabis é um ganho enorme para o país, pois além de contribuir com o avanço da medicina e colocar o Brasil em lugar de destaque no campo da ciência e saúde, faz com que os brasileiros tenham acesso a tratamentos de ponta por um custo bastante reduzido”, finaliza Francisco.