Autoridades sanitárias e organizações não governamentais estão pedindo que as pessoas busquem exames para detectar hepatite, já que milhões de pessoas no mundo todo estão portando a doença sem saber.
A hepatite mata mais de um milhão de pessoas por ano — e o número está crescendo.
O que é hepatite e por que ela é tão mortal?
A hepatite é uma inflamação do fígado, geralmente causada por uma infecção viral. Pode provocar diversos problemas no fígado, inclusive câncer.
Existem cinco tipos de vírus, do A ao E. As hepatites B e C são as mais perigosas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,3 milhão de pessoas ao redor do mundo morrem de doença decorrentes da hepatite. Isso equivale a uma morte a cada 30 segundos.
No Brasil, as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D (mais comum na Região Norte do país) e o vírus da hepatite E, que é raro.
Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade da hepatite C pode ser comparada ao HIV e tuberculose.
O quão disseminada é a hepatite?
A OMS estima que 254 milhões de pessoas estão vivendo com hepatite B crônica e 50 milhões de pessoas têm hepatite C crônica. Há mais de dois milhões de casos novos a cada ano.
A hepatite B afeta:
– 97 milhões de pessoas na região da OMS chamada de Pacífico Ocidental (que inclui China, Japão e Australásia) estão infectadas de forma crônica;
– 65 milhões de pessoas na África;
– 61 milhões de pessoas na região da OMS chamada de Sudeste Asiático (que inclui Índia, Tailândia e Indonésia).
A OMS diz que a hepatite E infecta 20 milhões de pessoas por ano no mundo todo e provocou 44 mil mortes em 2015. Ela é mais comum no sul e no leste da Ásia.
Dados do ano passado no Brasil estimam que 520 mil pessoas tinham hepatite C, mas sem diagnóstico e tratamento. Até 2022, cerca de 150 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas, tratadas e curadas da hepatite C, afirma o governo brasileiro.
No caso da hepatite B, a estimativa oficial é que quase 1 milhão de pessoas possuam o vírus no Brasil e, destas, 700 mil ainda não foram diagnosticadas. Até 2022, 264 mil pacientes tinham recebido diagnósticos com a doença e 41 mil estavam em tratamento — segundo dados do Ministério da Saúde.
Como se pega hepatite?
A hepatite A é pega ao comer ou beber alimentos e líquidos contaminados com fezes, ou através do contato direto com uma pessoa infectada.
É comum em países de renda média e baixa onde há condições sanitárias precárias.
Os sintomas desaparecem depois de pouco tempo, e quase todo mundo se recupera. Mas pode causar problemas renais fatais.
A hepatite A costuma surgir em epidemias em locais com comida e água contaminada, como aconteceu em Xangai, na China, em 1998, quando 300 mil pessoas foram infectadas.
A hepatite B costuma ser transmitida de mãe para filho, no parto; do contato de uma criança com outra; de seringas, agulhas, tatuagem, piercing ou exposição a sangue e líquidos corpóreos (como durante o sexo, por exemplo).
As hepatites C e D também são transmitidas através do contato com sangue infeccionado, como quando se compartilha agulhas e seringas, ou através da transfusão de sangue contaminado.
Só pessoas com hepatite B podem pegar hepatite B. Isso acontece com cerca de 5% das pessoas que têm infecção crônica com hepatite B, e faz com que a infecção seja muito intensa.
A hepatite E é transmitida através do consumo de água ou comida contaminadas. É mais comum no sul e leste da Ásia, e é especialmente perigosa para mulheres grávidas.
Como saber se tenho hepatite?
Os sintomas mais comuns são: febre, fadiga, perda de apetite, diarreia, náuseas, dor na região do estômago, fezes claras e urina escura, olhos amarelados.
Quais são os testes e tratamentos para hepatite?
É possível fazer exames de sangue para hepatite A, B e C.
Não existe um tratamento específico para hepatite A. Mas a maior parte das pessoas infectadas costuma se curar rapidamente e criar imunidade.
Hepatites B e C crônicas podem ser tratadas com antirretrovirais, que retardam a progreção da cirrose e as chances de se desenvolver câncer de fígado.
Há vacinas que previnem contra a hepatite A e B. Dada a bebês no nascimento, a vacina para hepatite B previne contra a doença ser transmitida pelas mães — e também protege contra a hepatite D.
Não existe vacina para hepatite C, e a vacina para a hepatite E não é amplamente distribuída.
Como é a prevenção para evitar pegar hepatite?
Segundo a OMS, a hepatite A pode ser evitada das seguintes formas:
– Lavar com frequência as mãos antes de refeições ou após o uso do banheiro;
– Fornecer água potável para comunidades;
– Tratamento adequado de esgotos em comunidades.
A OMS afirma que hepatites B, C e D podem ser evitadas:
– Com prática de sexo seguro, usando-se camisinhas, e reduzindo o número de parceiros sexuais;
– Evitando o compartilhamento de agulhas no uso de drogas, ou em tatuagens e piercings;
– No caso da hepatite B, lavando as mãos ao ter contato com sangue, líquidos corpóreos ou superfícies contaminadas;
– No caso da hepatite B, se vacinando. As vacinas tomadas na infância duram cerca de 20 anos.
A hepatite E é evitada com boas práticas de higiene e cozinhando carne de fígado por bastante tempo, especialmente fígado de porco.
O que as autoridades estão fazendo para eliminar a hepatite?
A OMS diz querer reduzir em 90% o número de pessoas que pegam hepatites B e C e em 65% o número de mortes até 2030.
Centenas de milhões de pessoas ainda têm dificuldades de testar para hepatite porque apenas 60% dos países ao redor do mundo oferecem exames gratuitos ou subsidiados e tratamento. Na África, a OMS afirma que apenas um terço dos países oferece testes assim.
Fonte: BBC News Brasil