Um trabalho artístico e lúdico que toca fundo o coração de pessoas, põe brilho num olhar distante e consegue transformar a dor em riso há duas décadas, distribuindo alegria e amor. Assim é a Unidade de Tratamento do Riso (UTRiso), um grupo de voluntários que atua no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), levando um mundo mágico de música e alegria a crianças e adolescentes hospitalizados, além de interagir com seus acompanhantes e funcionários. Ontem (13), o UTRiso completou 20 anos com histórias emocionantes de garra, superação, mas também de perdas.
O grupo é formado por atores e músicos profissionais que conseguem transformar por alguns instantes o estado de saúde do paciente. Especializados na arte de fazer palhaçada, os artistas colecionam diversos trabalhos com resultados positivos, já que a arte tem a função de incluir, inserir, transformar. De acordo com uma das fundadoras do grupo, Fátima Bastos, conhecida artisticamente pela “Drª Risoleta”, com especialidade em “mãodeatra”, o trabalho trouxe um diferencial não só para o serviço dentro do hospital, mas especialmente para a vida de cada paciente infantil.
“A função do grupo UTRiso é resgatar a alegria da criança, interagindo com ela, já que em um ambiente hospitalar ela perde aquela coisa lúdica que tem por natureza, e o nosso papel é trazê-la de volta para o mundo dela. Então, no decorrer dos anos a gente foi aprendendo também com as crianças. Na época que iniciamos conseguimos juntar uma equipe multidisciplinar de excelentes profissionais da casa, para reestruturar o nosso trabalho com a segurança que esse trabalho pede e tivemos ajuda de oncologista, pediatra, psicólogo, enfermeiro, entre outros que nos ajudaram a ensinar sobre infecção hospitalar, sobre patologias, para que a gente pudesse fazer um trabalho artístico dentro das condições que um ambiente hospitalar pede”, explicou Fátima Bastos.
Ela diz ainda que ao longo desses 20 anos, muitas coisas aconteceram, principalmente com alguns dos integrantes do grupo. “Alguns palhaços entraram, outros saíram, os integrantes do grupo muitas vezes não podem estar no dia a dia das atividades, mas chegam junto na maioria dos eventos e apresentações. Nesses 20 anos alguns dos nossos artistas adoeceram como o Everton Batista, conhecido artisticamente como o Dr. Cibaleno, que sofreu um AVC em dezembro. Tínhamos um que era conhecido como bestagiário e está tratando um câncer aqui no hospital. Essa é a parte mais dolorosa do trabalho, porque eles estão vivendo o outro lado da história, vivendo essa coisa do ser cuidado”, afirmou.
O trabalho do grupo UTRiso transformou a vida dos artistas em termos profissionais. De acordo com Fátima Bastos, as atividades a fizeram enveredar pelo ramo da arte terapia, antroposofia, terapia artística. “Tive que fazer uma formação de atriz para integrar esse trabalho e todos que estão conosco é ator ou músico profissional. Eu até prefiro estar acompanhada por músicos porque já chegam prontos, a gente está com menos tempo para treinar pessoas, pois muita gente se interessa em participar, mas tem que ter uma formação artística, porque a gente sempre seguiu o mesmo padrão dos Doutores da Alegria que foi quem nos apoiou no início”, destacou.
Reencontros
Durante esses 20 anos, alguns reencontros aconteceram. “É uma alegria olhar para trás e ver tanta história linda que a gente dividiu com os pacientes. Uns que já se foram, outros que estão curados e adultos que encontram a gente na rua e que antes, olhava para baixo para abraçar, hoje olha pra cima porque já são adultos, estão saudáveis e eles agradecem, relembram fatos, isso é emocionante”, disse Fátima.
A receptividade dos pacientes e seus acompanhantes durante as apresentações do grupo UTRiso é um termômetro para medir a intensidade da alegria durante os encontros. Mesmo quando tem uma criança que sente o medo da figura de um palhaço, os artistas interagem com os pequenos pacientes levando brinquedos e instrumentos musicais para que eles também participem da animação. É difícil conter a emoção como ressalta a “Drª Risoleta”.
“A gente se emociona o tempo todo, mas não podemos chorar na presença deles, estamos aqui para transformar isso. Mas quando a gente entra no carro chora, porque estamos vivendo um momento que é um palhaço vivo, que está numa realidade bem diferente do circo, da rua, de uma plateia saudável. E a gente entra nesse universo e canta junto, dança junto, sente junto, mas se o paciente chora a gente precisa trocar essa lágrima por um sorriso”, enfatizou.
Novo integrante
O grupo UTRiso sempre atualiza suas parcerias e novos integrantes chegam para compor a brincadeira. O mais recente contratado foi o “bestagiário” Flávio Taji, músico que chega para encantar as crianças com música e muita descontração. “Estou muito feliz em compor esse grupo. Eu conheci a Fátima através da música e ela me convidou para participar desse projeto. Eu não tenho nem palavras para dizer o que ele representa, mas todas as vezes que a gente está junto com as crianças e podemos resgatar a alegria e a vontade de viver, isso não tem preço”, disse o novo integrante do UTRiso.
Fátima Bastos explica que durante esses anos de atuação algumas mudanças dos profissionais foram inevitáveis, mas a qualidade e a alegria durante os encontros continuam intensas. “Esse é um trabalho que a gente não está só para fazer, eu confio muito nisso. A gente está num ambiente de morte, vida e esperança que é um ambiente hospitalar e muita coisa acontece, e a gente também sente tudo isso. É preciso confiar para dar certo. Só tenho que agradecer a todos os meus amigos que iniciaram esse trabalho comigo que foi o Flávio Porto e o Everton Batista, se não fosse por eles eu não estaria fazendo esse trabalho, formamos uma família grande para essa missão de sorrir sempre”, concluiu Fátima Bastos.
Fonte: Ascom SES