ARACAJU/SE, 16 de abril de 2024 , 0:53:46

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A democracia do rio

Dia desses 00fui à Barra dos Coqueiros. Olhei impávido para Aracaju, admirado pela beleza singela que permeia o horizonte tão perto dessa cidade menina.

– A guria é bonita mesmo, bradei retumbantemente para mim mesmo.

Olhei o Rio Sergipe e vi uma canoa, pano alto (ainda bem que não havia mãos no barco nem ladrões na travessia!). Pouco tempo depois: uma lancha singra as águas do Sergipe. Parei. Refleti.

Eita democracia absorta! O mesmo Rio que recebe a canoa e o Tototó recebe a ostentosa lancha.

Será que existem outros locais democráticos como o Rio Sergipe, que, durante décadas, foi a casa preferida de Zé Peixe (aquele simpático prático amigo de Poseidon, dono de feitos que mereciam uma odisseia só sua)?

Pois é, acho que não há espaços tão democráticos assim disponíveis para todos. O Rio Sergipe é tão dado que vários outros seres também usufruem da sua benevolência. As bactérias e outros microscópicos agentes do mal são exemplos disso. As toneladas de esgoto in natura e de lixo que são despejadas no referido Rio conduzem mortais seres pequeniníssimos, poluindo a água como se fossem as milhares de substâncias tóxicas que adentram no pulmão do fumante. Acredito que os peixes se sintam asmáticos aquáticos com a falta de oxigenação gerada pela dileta e diária poluição.

Tal qual o armazenamento maldito pulmonar, a sujeirada micro e macroscópica enaltece o bojo da falta de tratamento dos resíduos jogados no amigo Sergipão… e tome lixo! Jererés, varas de pesca e tarrafas, vez em quando, são vistas pela Beira-Mar (nunca entendi este nome, já que é um rio beirado pela avenida. A não ser que o nome tenha se remetido à grandeza do Rio Sergipe e absorvido no nome…vá lá!), pegando o quê? Não sei.

Também são vistos tesouros da imundície, a exemplo de garrafas pet, pets, sofás, ‘carrinho de mão patá patapatapá’ (lembra do Terrasamba?)…

Ah, o único lugar onde nem bactéria existe deve ser o mangue da Praia 13 de Julho. Ali até a própria vegetação já está se rendendo. Olhe, vou dizer uma coisa: sei não, viu?!

DÁ UM SORRISO AÍ, RAPÁ!

Também dia desses entrei em uma loja de conveniência para comprar água mineral. Mas a gente nunca compra uma coisa só, né verdade? E tome chiclete, chocolate, chá de pêssego (acabaram os produtos com ch). Esse meu afã de consumidor compulsivo foi pego de surpresa e perdeu o sentido quando vi e ouvi um cliente da loja chegando e cumprimentando outro que estava a tomar (em bom gerúndio lusitano) um café, sentado à mesa do estabelecimento:

-Bom dia, campeão, tudo bem?

– …

– Ei, rapaz, falei com você!

– …

– Tudo bem se não quer falar. Me desculpe aí porque cumprimentei você.

– Leve a mal não. É que não tô bem.

– Então sorria, mesmo sem motivo. Só assim pra coisa melhorar.

– É, tá difícil. Bom só o café.

– Pelo menos alguma coisa.

Desviei os meus tímpanos da conversa, mas percebi que a boa energia do rapaz que chegara já surtira um efeito positivo no taciturno deprimido. Parei e pensei:

– É, um bom dia salva muita coisa!