ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 1:40:09

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A Deus é devida a glória, a nós, o trabalho

Com esta frase do grande Santo Antônio é que desejo iniciar esta minha reflexão, trazendo à tona o trabalho apostólico no alvorecer da Igreja de Cristo.

No quinto capítulo dos Atos dos Apóstolos, como efeito de Pentecostes, onde o Espírito Santo robustece os trabalhadores da primeira hora da seara do Senhor (cf. Mt 20,7), temos o corajoso testemunho que eles dão da ressurreição de Jesus e são acusados pelo sumo sacerdote e pelo Sinédrio, em meio às proibições que lhes foram impostas, de terem enchido a cidade de Jerusalém com a doutrina e o ensinamento de Jesus. Quem dera que todo o mundo ficasse cheio das palavras de Cristo, condutoras de vida e salvação, e que o nosso testemunho audaz fizesse frente aos empecilhos postos ao amor de Deus e à luz que brota do Espírito do Ressuscitado… Testemunhamos Jesus e, infelizmente, o desafeto e a indiferença que Ele, neste mundo, sofre ainda permanecem. Testemunhamos. Quem testemunha? Nós e o Espírito Santo.

Mais adiante, temos a satisfação dos Apóstolos que, açoitados, saíram do Conselho do Sinédrio “muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do nome de Jesus” (At 5,41). Diante dos revezes, nos momentos em que a atitude de vida e de testemunho cristãos se faz necessária quantas vezes, por um mero respeito humano, de pensar que ter fé em Jesus – e manifestá-la – não convém, escondemos o Senhor para pousarmos como simpáticos, modernos, atraentes? Creio que precisamos ponderar isso também. Quantas vezes nos envergonhamos de Jesus, do Seu “amor que nos constrange” (2Cor 5,14)? Quantas vezes prezamos por uma prática de fé aplaudível aos olhos do mundo para aparentarmos, em vão, o que nossa fé não é: querida pelo mundo, porque isto nos alertou o Senhor: “O  mundo vos odeia” (Jo 15,18)? Sim, a fé cristã escandaliza o mundo. E a forma de degredo com que somos tratados é a nossa recompensa diante do relativismo e da mundanidade e a prova de que estamos no caminho do bem e da Verdade-Cristo: “Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,11-12).

Quando sofrermos injúrias por causa da realização da vontade de Deus, consoantes ao Evangelho neste mundo, tenhamos o contentamento apostólico, seja claro em nosso coração, como ação de graças, o que respondeu o servo ao seu Senhor, na parábola contada por Jesus: “Somos simples servos, só fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10). O Cristo, o grande Servo, também padeceu com satisfação. E a incompreensão por parte do que é terreno é o que nos cabe. O Cardeal guineense Robert Sarah, numa espécie de plano para o cristão atual, que deve ser convicto de sua fé, dando razões para todos do que cremos, afirma: “A Igreja deve reencontrar sua visão. Se o seu ensinamento não é compreendido, não deve ter medo de retomar cem vezes sua tarefa na obra. Não se trata de suavizar as exigências do Evangelho ou de mudar a doutrina de Jesus e dos apóstolos para se adaptar aos modismos passageiros, mas de repormos em causa a maneira como vivemos o Evangelho de Jesus e apresentamos o dogma” (Deus ou nada: entrevista sobre a Fé. São Paulo: Fons Sapientiae, 2016, p. 222). Ou o que, antes, disse George Bernanos: “Não se compreende absolutamente nada da civilização moderna, se não admite inicialmente que ela é uma conspiração universal contra toda vida interior” (La France contre les robots). Eis o nosso árduo trabalho!

No Apocalipse de São João, temos como toda a criação, redimida, em número incalculável, eleva, em adoração, ação de graças a Deus, cantando a Sua glória. Se somos dignos de sofrer injúrias, “O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor. […] Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, o louvor e a honra, a glória e o poder para sempre” (Ap 5,12.13). Eis o que cabe a Deus.

Nem sempre será fácil trabalhar para a glória de Deus, fazendo tudo para tanto, porque sempre fazemos pouco para glória tão infinda. Ao “Fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31) poderemos, em nossa ânsia ou em nosso cansaço, fraquejar. São nesses momentos que sentimos o olhar do Senhor a nos inquirir: “Amas-me?”. E a resposta para Aquele que, de tudo, sabe deverá ir ao encontro de Sua onisciência: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo” (Jo 21,17). Não queiramos remediar com inverdades, com fantasias. Que, como João, porque amamos o Senhor, reconheçamos a Sua constante presença em nosso meio, e O apontemos para todos, para que reconheçam: “É o Senhor!” (Jo 21,7), e todos se salvem, governando as suas existências para a glorificação de Deus e pelo espinhoso labor de nossa santificação pessoal, sempre fazendo o que nos cabe.