ARACAJU/SE, 24 de abril de 2024 , 3:03:27

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A eternidade pela Eucaristia

Padre Everson Fontes Fonseca,

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro.

 

No discurso do Evangelho de São João, Jesus se apresenta como “Pão de vida eterna” (cf. Jo 6,47.51), e, portanto, Pão que ressuscita a quem O degusta. Com esta promessa divina, desejo refletir acerca da dimensão escatológica da Divina Eucaristia, principalmente no vislumbre da Solenidade de Todos os Santos (em 01 de novembro) e da Comemoração do Fiéis Defuntos (no dia seguinte).

Em primeiro, explico-lhes o termo “Escatologia”. Do grego antigo Escatós (“último”, mais o sufixo “-logia”) é uma parte da Teologia (e, assim, das verdades de nossa Fé Católica) que trata dos últimos eventos na história do mundo ou do destino final do gênero humano, bem como da realidade da Vida Eterna e dos Novíssimos (a saber: a morte, o juízo, o destino eterno: o céu ou o inferno). Desta maneira, como os sacramentos são realidades temporais que, pertencentes à Igreja, nos remetem à plena manifestação da vitória do Senhor ressuscitado, igualmente isto se dá na Liturgia Eucarística, só que maneira sobrelevada: na Santa Missa, e por ela, somos felizardos por saborearmos, antecipadamente, a consumação destas realidades últimas para qual todo homem e a criação rumam.

Somente Deus pode dar ao homem a felicidade eterna e, assim, autêntica, pois para isto fomos criados. No entanto, quando do pecado, a nossa humanidade foi ferida em tudo, inclusive no referente à liberdade. O mesmo Jesus, que nos abriu uma torrencial porta de esperança quando da Encarnação, é a meta para qual rumamos (cf. Jo 6,44). E falando que Cristo é a meta a ser atingida, vem-nos à tona o encorajamento do Anjo a Elias, ainda no Antigo Testamento, quando o profeta era tomado pelo desânimo (cf. 1Rs 19,7-8). Este ‘Cristo-meta’, vitorioso sobre o pecado e a morte, torna-se presente para nós de maneira especialíssima na Eucaristia. Neste sentido, o Papa Bento XVI frisa: “Embora sejamos ainda ‘estrangeiros e peregrinos’ (cf. 1Pd 2, 11) neste mundo, pela fé participamos já da plenitude da vida ressuscitada. O banquete eucarístico, ao revelar a sua dimensão intensamente escatológica, vem em ajuda da nossa liberdade” (Sacramentum Caritatis, 30).

O próprio Jesus inaugura, objetivamente, o tempo escatológico, os tempos últimos, os tempos plenos (cf. Gl 4,4). Em Si mesmo, veio convidar o povo de Deus disperso à unidade. Esta não é um simples ajuntamento, mas uma congregação inédita sob o selo de uma Aliança eterna e indissolúvel, tal como o próprio Deus havia, outrora, prometido, em muitas vezes, desde o Antigo Testamento. Jesus, ao cear com os Doze – número especialíssimo na Escritura, já que, dentre outros sentidos, evoca as doze tribos de Israel –, expede um mandato para estes: o de celebrarem a sua memória (cf. Lc 22,19). Com esta ordem, o Senhor quer deixar claro que a Igreja, comunidade por Ele fundada, tem a missão de ser, dentro das características temporais (“aqui e agora”), uma antecipação real daquilo que virá. E, ao mesmo tempo em que virá, já se encontra em nosso meio, porque Ele está já está conosco pela Divina Eucaristia, e nos forma em comunhão consigo e com os irmãos. Na Missa temos a realidade mística da unificação escatológica do Povo de Deus, onde somos congregados ‘por’, ‘com’ e ‘em’ Cristo. Em todas as vezes que assembleia dos batizados se reúne para celebrar a Eucaristia, isto se manifesta. Logo, o que dizemos Missa é uma antecipação real daquilo que já é anunciado desde os profetas (cf. Is 25,6-9) e narrado pelo Apocalipse (cf. Ap 19,7-9).

A celebração da Eucaristia é garantia da glória celeste, quando os nossos corpos serão glorificados. Quando celebramos o memorial da nossa salvação, “reforça-se em nós a esperança da ressurreição da carne juntamente com a possibilidade de encontramos de novo, face a face, aqueles que nos precederam com o sinal da fé” (Sacramentum Caritatis, 32). A experiência da Missa é certeza do que professamos no Credo no tocante à ‘Comunhão dos Santos’. Por isso, recordo-lhes da importância de rezar pelos nossos falecidos. Esta prece de sufrágio encontra maior eficácia dentro da Celebração Eucarística, para que, purificados pela misericórdia de Deus, os nossos defuntos possam alcançá-Lo na visão beatífica, no Céu, herdando, refinadamente, a glória dos eleitos, dos santos.

Se quisermos viver eternamente, rumemos ao Altar, degustemos de seu fruto, que é o próprio Deus, que visita o nosso interior, para, dele, nos ressuscitar; para nos conceder de Sua vida divina. Esta é a verdadeira vivacidade para o mundo: a imortalidade divina a nós outorgada.