ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 9:51:19

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A oração do justo

A oração sempre é conveniente para a vida do cristão, não existindo momento algum da nossa vida que nos dispensemos de rezar. Nesta feita, incutindo aos filhos da Igreja a importância da oração constante, desejo fazer uma pequena catequese, meditando sobre a súplica de Abraão e a ordem de Jesus para que nos unamos em prece a Deus.

Mas, o que é a oração? Em um curto pensamento, digo-lhes: é uma conversa íntima de amor com Deus. E, neste sentido, Cristo, Filho do Pai, no Espírito Santo, é mais que capaz de instruir-nos, com as Suas palavras e Seus gestos, sobre a conveniência do ato de orar, porque Ele é um com o Pai e o Espírito Santo, naquela intimidade eterna existente no seio da Santíssima Trindade. Compreendendo isto, que a oração é um diálogo amoroso com Deus, com certeza, seríamos mais orantes, ao tempo em que encararíamos o rezar como uma máxima necessidade de nossa alma, na antecipação do Céu e naquela perspectiva do salmista: “A minh’alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus?!” (Sl 42,2).

Abraão, que, obviamente, viveu antes de Cristo entrar na nossa história, já tinha a oração com esta grandeza de intimidade, pois falava com Deus e O escutava como a um amigo. No Gênesis, observamos que o Patriarca ousa abusar da paciência e da misericórdia de Deus, intercedendo em favor dos habitantes de Sodoma e Gomorra. Para tanto, o nosso ‘Pai na fé’ se vale dos méritos dos possíveis justos que poderiam existir naquela cidade: “Vais realmente exterminar o justo com o ímpio?” (Gn 18,23). E o que vemos? O princípio da justiça divina prevaleceu diante da ausência da diminuta quantidade de pessoas retas naquelas cidades que foram destruídas.

A oração toca o coração de Deus. E se Deus tivesse alguma fraqueza, poderíamos afirmar que Ele não resiste à nossa oração confiante; porque, como ato de amor, Ele quer ser amado, também, pela oração. Ainda em relação ao valor da vida e da oração dos justos, o Papa São João Paulo II, em uma de suas homilias, afirmou: “A oração de Abraão é muito atual nos tempos em que vivemos. É necessária uma oração assim, para que todo o homem justo trate de resgatar o mundo da injustiça” (Homilia de 27.07.1980). É por isso que nos beneficiamos das preces dos santos, daqueles que já estão no Céu, no vislumbre da eterna glória de Deus, e dos que ainda peregrinam neste mundo, sem nunca se esquecerem da realização da vontade do Senhor.

“Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11,9-10). A insistência na oração é imprescindível, ainda que nos pareça abusar da bondade misericordiosa de Deus, que é Suma Bondade, e dá o Espírito Santo, que ora em nós, aos que Lhe pedem (cf. Lc 11,13). Abraão não conseguiu que a ira divina se afastasse daquelas cidades, porque, nelas, sequer foram encontrados dez justos. Mas, pela oração, rompemos as portas da majestosa cidade do Céu, destino dos justos, sem deixarmos a cidade terrena. Abraão não contava com o intercessor Cristo, que nos justifica com a Sua Cruz, tal como São Paulo observa: “Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na cruz” (Cl 2,14). Por Cristo e em Cristo, portanto, somos mais felizardos do que o grande Patriarca da fé.

Diante da oração ensinada pelo Unigênito de Deus, onde ousamos chamar de nosso o Pai de Jesus, o bispo mártir São Cipriano exorta-nos a que sempre repitamos a prece ‘Pai-Nosso’, afirmando: “O homem novo, renascido e, por graça, restituído a Deus, diz, em primeiro lugar, Pai!, porque já começou a ser filho” (Do Tratado sobre a Oração do Senhor).

Não apenas chamemos Deus nosso Pai, mas, também, vivamos como Seus filhos, fazendo sempre a Sua vontade “assim na terra como no Céu” (Mt 6,10). Amém.