Estamos no platô da crise sanitária da COVID-19. Uma média móvel nos últimos sete dias de 2800 mortos, cerca de 1800 mortos por um milhão de habitantes, sendo o país das Américas onde mais mortos proporcionais existem, ultrapassando os Estados Unidos.
O Brasil sozinho tem mais mortes por COVID que a União Europeia inteira, o que significa que mesmo tendo a metade da população da Europa continental temos mais mortes.
Esse quadro nos entristece porque demonstra de forma inequívoca que o estado brasileiro foi incompetente, leniente e irresponsável com uma crise anunciada e monitorada pelo mundo inteiro.
O desmanche proposital dos centros de pesquisas e a redução drástica do número de pesquisadores pelo fim dos incentivos e bolsas, sob o pretexto de que eram instrumento da “esquerda”, fez com que a burrice da extrema direita contribuísse decisivamente para a morte de milhares de brasileiros e brasileiras, e enlutasse milhares de lares.
A ignorância e a descrença na ciência desses grupos mais para “xiitas religiosos” que pensam em se apossar do estado brasileiro é um verdadeiro câncer nas estruturas e que está destruindo a capacidade do Brasil reagir a uma crise sem precedentes na saúde pública, com suas mentiras, negações e maus exemplos.
Hoje choramos a morte de mais de 375 mil homens e mulheres, até crianças e adolescentes. Amanhã nos espera um quadro de consequências graves com a redução da expectativa de vida, já demograficamente estudada com a possibilidade de reduzir em até mais de 3 anos, coisa que não acontecia há 40 anos. Além disso, grupos de médicos e pesquisadores da saúde já investigam sequelas de ordem neurológica, psiquiátrica e fisiológica nos pacientes que não morreram, e nem mesmo precisaram de internação.
Uma nova demanda que custará bastante ao país, pois irá impactar a previdência social com afastamentos e aposentadorias, o sistema público de saúde e o sistema complementar para dar suporte e atender essas comorbidades decorrentes da COVID, e ao setor produtivo que terá trabalhadores mais suscetíveis de afastamentos e de redução da capacidade produtiva.
E o mais desolador é perceber que diante de tantas informações, a malta dos negacionistas insistem em divulgar notícias falsas, criar narrativas absurdas e empurrar a sociedade para o caos, quando deveriam contribuir com esforço e competência para minimizar os danos que não são apenas os imediatos, como a internação e morte, mas mediatos, como uma sociedade mais doente física e psicologicamente.
Seria a hora de pensar em centros de acompanhamento específico dos pacientes dessa doença, com uma visão holística, para não termos que correr atrás do prejuízo quando não tivermos a capacidade de atender a alta demanda que advirá como rescaldo da pandemia.
Não sabemos ainda como o direito à saúde atuará nessas novas demandas, o certo é que os conselhos profissionais da saúde já devem começar a estudar novos protocolos dentro de regras científicas e não de interesse ideológico ou partidário, como se viu, infelizmente nos casos do CFM ao facultar e permitir, sem qualquer critério científico, o discurso de medicamentos sem eficácia e a sua prescrição off-label (fora da bula).
A história, com toda a certeza, não perdoará os que foram negligentes e imprudentes no combate a pior crise sanitária dos últimos cem anos.