ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 7:42:38

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Amar como Jesus

São Francisco de Assis, numa das suas máximas, dirá que “o Amor não é amado”, percebendo e apontando assim o quanto menosprezamos Deus com tantas práticas de desafeto, de ingratidão. Anteriormente, São João, na sua Primeira Carta, afirmando a essência de Deus como amor, conclui: “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é o mandamento que Dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1Jo 4,19-21). Logo, o Amor não é amado não apenas em Seu Ser divino, como também naqueles que, interpelando-nos na vida (as pessoas que são postas em nosso caminho, em nosso lado), não sabemos amá-los.

Devemos amar a Deus. Devemos também conjugar o amor divino no amor ao próximo. Perceba que, na Sua despedida, no momento crucial em que seria entregue, Nosso Senhor, falando em glória, falará também do Seu imperativo para o amor (cf. Jo 13,34-35). Uma ordem que deverá marcar, identificar o nosso discipulado, o nosso seguimento Àquele que mais perfeitamente amou a humanidade, de tal maneira que foi à Cruz, para salvar-nos, imolando-Se por nós.

O Senhor institui na véspera da Sua Paixão redentora o mandamento do amor. Na realidade, não era, de per si, nova a sua instituição, porque se lê na Lei de Moisés, no Levítico, a seguinte ordem de Deus: “Não procurarás vingança, nem guardarás rancor contra os filhos de teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Então, qual é a novidade? O inédito está na perfeição em que é vivida, posta em prática pelo próprio Salvador, que vai até o inimaginável para amar-nos: entregar-se, totalmente, até a morte. Então, Jesus inaugura o amor “ágape”, e não somente o inicia, como o leva à perfeição com a Sua Páscoa.

O amor desinteressado, tal como inova Jesus, oblativo, agápico, é conceituado pelo Papa Bento XVI “como expressão do amor fundado sobre a fé e por ela plasmado” (Deus Caritas Est,7). Logo, na vida de quem tem fé, é a modalidade de amar que deve ser praticado para com todos, sem exceções. Amar assim é um desafio, justamente porque o Senhor mesmo se coloca como parâmetro para a nossa atitude de amar: “Amai-vos como eu vos amei” (Jo 13,34). Neste tipo sublime de amor que Deus é glorificado; glorificado em nossas boas obras pautadas no amor sincero, oblativo, de grande custo e de autodesgaste. Creio que esta seja uma resposta silenciosa, porém ativa, à selvageria em que o mundo está caindo, se é que já não está imerso completamente.

Amar como Jesus é uma atividade de coragem, porque, muitas vezes, quem ama sofre. E como sofre… principalmente humilhações. São Paulo e São Barnabé, exortando e encorajando os discípulos à permanência e à firmeza da fé, diziam: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). A vivência do amor agápico – a saber: à altura e ao modo de Jesus – ainda que sofrível, é ingresso para o Céu. E àqueles que desejam se aventurar no amor sincero, que chega ao cúmulo de imolação num caminho de sofrimento, é recompensado pelo próprio Deus, que “enxugará toda a lágrima dos seus olhos” (Ap 21,4), porque o Senhor faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,5).

Se amar como Jesus é uma aventura corajosa, aventuremo-nos, pois, em amar a todos, indistintamente, porque, somente assim, seremos felizes herdeiros do Reino dos Céus e alcançaremos a coroa dos que, em Deus, souberam amar nesta vida.