Uma preocupação, dos profissionais da saúde e das autoridades da área, que está ocupando boa parte das análises com a pandemia tem sido os efeitos da doença no campo mental.
Esse longo período de distanciamento social a concentração das atividades laborativas, domésticas e lazer em um único espaço, tem elevado o número de casos de depressão, de ansiedade generalizada, e o reflexo disso nas relações familiares e profissionais já é notado.
Dessa forma estamos vivendo uma crise sanitária sem precedentes nos últimos cem anos, convivemos com a incerteza das pesquisas sobre a vacina que nos permita a sonhar e a viver novamente uma vida normal.
No entanto, até o momento, só a incerteza conhecemos.
No meio dessa loucura (sic) estamos presenciando a falta de compromisso de governantes que acham que os seus interesses pessoais são mais importantes do que a vida das pessoas, e que banalizam a morte pela doença como se fosse isso normal. Empresários, sufocados pela questão econômica, querem o suicídio coletivo desde que aumentem suas vendas e os seus negócios não fechem.
Vivemos a era do individualismo em um contraponto civilizatório, pois a ordem da vez é a fraternidade e a solidariedade, que são execradas pelos extremistas que acham que a terra é plana e que a natureza é eterna.
E o distanciamento social tem provocado um efeito “liquidificador” misturando o medo da COVID-19, a exacerbação dos sentimentos e dos transtornos de ordem mental que nem sempre os portadores admitem ou são diagnosticados, a suspensão de tratamentos psiquiátricos ou psicológicos e, tudo isso, gera consequências que ainda serão estudadas.
O fato é que, do mesmo jeito que a guerra e grandes tragédias, quase certo é o efeito do estresse pós-traumático no caso da pandemia do coronavírus.
O problema, se realmente ficar comprovado for esse, o Estado precisa ter estrutura para atender e suportar as demandas decorrentes dessa consequência. Passo a elencar entre elas: o desemprego, o afastamento do trabalho por doenças mentais, aposentadorias precoces, o aumento de dependentes químicos por antidepressivos e outras drogas lícitas, bem como de drogas ilícitas.
Entretanto sabemos que não temos no país psiquiatras e profissionais no setor público para atender a demanda que se anuncia, e muito menos a capacidade para fornecer os medicamentos que serão necessários.
O alerta é para que os setores públicos da saúde comecem a se planejar também para o pós-pandemia, como se tivéssemos saído de uma guerra onde além de contarmos os mortos e feridos, teremos de tratar das almas dos sobreviventes.