ARACAJU/SE, 24 de abril de 2024 , 22:45:01

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As flores de ninho

Dia desses eu estava desfrutando de bons momentos na Feira do Santo Antônio, uma imensidão de produtos que encantam os olhos de quem é apaixonado por bancas de produtos e gritos promocionais do tipo: “Chegue pra loja, meu patrão!”.

Como fui criado indo pro mercado, antiga Feirinha das Oficinas (lá no antigo Aribé), Feira de Itabaiana (a Meca das feiras), dentre muitas outras, tenho gosto pelo desfile de Sergipe em sabores, aromas e cores, pela linguagem própria dos feirantes, pela sociologia marcante das relações de mercado nessas organizações comerciais populares tão importantes para o nosso povo.

Mas há um lugar que, particularmente, desperta-me a atenção na Feira do Santo Antônio: a Banca de Ninho. Pense num lugar magnético, com energia positiva de sobra, doce como a água de coco que ele vende (coco orgânico topado).

Pra começo de conversa, quem chega à sua banca é chamado logo de “boi” (entrar na brincadeira é saudável e gracioso). Sempre usando um chapéu nelore (aquela raça bovina), Ninho não esconde de ninguém que já sofreu traição amorosa. O tema, inclusive, tornou-se a atração de sua banca, recheada de hortaliças e verduras que ele mesmo produz na sua “fazenda”, localizada no Iraque (calma, é no povoado entre Areia Branca e Itaporanga).

Até o aniversário dele foi realizado dentro de um curral, com direito à comida no cocho e faixa comemorativa com foto de Ninho com duas pontas). A idealizadora da produção afetiva e emocionante foi sua atual esposa e maior incentivadora do sucesso de Ninho: Rita (esta é incapaz de qualquer facada!).

Emocionado ao ver o curral todo enfeitado e com uma produção feita especialmente para ele, Ninho desaguou-se em lágrimas de felicidade e emoção incontida. Afinal, nunca tivera uma festa na vida…

O que poderia ser chacota virou motivos de risos leves e soltos, sem qualquer tipo de desrespeito. Quem já teve motivos para se revoltar por conta de traição amorosa consegue transformar a realidade ao seu redor e nos ensina uma lição que não se apaga: a vida segue, precisa seguir.

Essa indumentária realidade me remete ao argumento poético de Charles Baudelaire (o pai do Simbolismo francês) quando aponta que devemos saber tirar flores do mal. Ninho foi além de Baudelaire. Ele tirou flores, frutos e alegrias.