ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 9:23:25

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As paixões

Quando lemos os evangelhos, percebemos, juntamente com a Sua divindade, os traços da humanidade perfeitíssima de Jesus, percebendo Nele paixões muito bem ordenadas, o que nos faz entrever que Deus não inseriu nada de mau à natureza humana: vemos o Senhor que chorou a morte do seu amigo Lázaro e pela Jerusalém insensível ao Seu apelo; deixou-Se levar pela ira santa quando viu o templo como um comércio; sofreu tristeza, medo e desalento; mas, sobretudo, amou com o coração, e não somente com a vontade. O fato de o Senhor ter paixões ordenadas faz-nos entrever ainda que essas mesmas paixões sempre estiveram sob o domínio da vontade, sendo inteiramente subordinadas à Sua natureza divina.

Na Carta de São Paulo aos Gálatas, temos a seguinte condicional: “[…] se sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei” (Gl 5,18). E ainda: “Os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e maus desejos” (Gl 5,24).

São Paulo igualmente elenca as paixões desordenadas, chamando-as obras da carne. Para tanto, cita, explicitamente, quinze pecados, aos quais podemos chamar ‘vícios’: “fornicação, libertinagem, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias, e coisas semelhantes a estas” (Gl 5,19-21). Percebam que, não achando suficiente, o Apóstolo põe reticências, que, para nós, são válidas porque podemos inserir tantas outras maldades que  se escondem da recordação de Paulo, e que podem estar manifestadas em nossa vida. Todas elas devem ser mortificadas e disciplinadas.

As paixões desordenadas, que são aquelas que se versam sobre tudo o que não se refere a Deus, possuem graves efeitos na vida do cristão: cegam a alma; fazem o espírito sofrer de aflição e de insatisfação, debilitam a vontade de fazer o que Deus quer, pondo-nos no relaxamento e na tibieza, atraindo outros vícios; mancham o nosso interior, tornando-o feio e não imagem fiel de Deus.

Se quisermos chegar à união com Deus, faz-se necessário mortificar todas as nossas paixões, ainda as mais pequenas, no que tenham de vontade própria e, portanto, pecaminosa e desordenadas.

Porém, São Paulo, como meta a que devemos sempre atingir, também nos apresenta os frutos do Espírito: “[…] caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, lealdade, mansidão, continência” (Gl 5,22-23); porque tais frutos “são perfeições que o Espírito Santo forma em nós como primícias da glória eterna” (Catecismo da Igreja Católica, 1832). Tais frutos nos oferecem as virtudes, a força para levar uma vida justa e santa, numa humanidade perfeita como a de Jesus.

As paixões bem ordenadas “são na verdade forças vivas, ardorosas, que incitam a atividade do entendimento e da vontade, e nos ajudam poderosamente” (Adolphe Tanquerey. Compêndio de Teologia Ascética e Mística). Tais paixões, conformes a de Jesus, facilitam-nos a construção e a vivência da vida em comunidade, seja social, eclesial ou mesmo familiar. Percebam que todos os demais frutos são encabeçados pela caridade, pelo amor, fazendo justiça ao que diz Santa Teresa d’Ávila: “Quem ama, faz sempre comunidade, nunca fica sozinho”.

Convido a que cada um nós, séria e profundamente, meditemos estes conselhos de São Paulo, ponderando a vida, revisando as ações, propondo metas de conversão para que os frutos do Espírito estejam sempre em nós, inspirando-nos a que, vencendo-nos nas obras da carne, vivamos pelo Espírito, em procedimentos conformes ao Espírito, corretamente (cf. Gl 5,25), esmerando-nos para sempre agradar a Deus.