ARACAJU/SE, 23 de abril de 2024 , 22:24:34

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Batizados e enviados

No último outubro, o Santo Padre Francisco convocou toda a Igreja para o Mês Extraordinário Missionário. E toda a reflexão vinha à tona sob a temática: “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”. Percebemos que este um tema rico e que muito tem haver com a vida de todos os cristãos. Mas, por que estamos tratando deste assunto se não estamos mais naquela dinâmica do Mês Extraordinário Missionário? Porque, havendo a Igreja celebrado, no último domingo, a Festa do Batismo do Senhor e a consequente inauguração de Sua vida pública, somos levados a pensar no nosso Batismo e no encargo que, para nós, dele provém.

Num primeiro momento, entendemos e introjetamos o fato de ser batizados. E, assim, deveremos entender que, muito mais do um costume cultural (como pensam alguns ou algumas famílias), o Santo Batismo é, na vida do cristão, um chamado. E deveria ser uma irrecusável vocação. Batizados,  somos chamados à filiação divina; batizados, vivemos na graça de Deus, interando-nos das coisas do nosso Pai, inclusive  (cf. Lc 2,49).

O fato de sermos batizados, necessariamente, põe-nos em marcha. Porque, na Confirmação do nosso Batismo, pelo Sacramento da Crisma, ungidos pelo Espírito de Cristo, somos enviados após termos criado vínculos espiritualmente profundos com Aquele que nos chamou e deseja enviar: o próprio Deus. Mas, enviados para onde? Para o quê? Para quem? E, por quê?

No Evangelho de São Marcos (cf. Mc 1,14-20), depois de Seu batismo no Jordão, Jesus inaugura o Seu ministério público, fazendo cumprir o desejo de Deus, que “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Para tanto, procura aqueles aos quais fará participar da Sua missão salvadora. E onde vai buscá-los? No seu trabalho profissional. E muda-lhes a vida, porque, ao chamado cativante de Jesus – “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens  (Mc 1,17) -, decidem segui-Lo completamente, sem impôr condições, reservas ou cálculos. Ao deixarem tudo para o seguimento de Jesus, Cristo será o centro de suas vidas; o Senhor exercerá sobre eles uma atração indescritível, de maneira tal que São Pedro, um dia, exclamará: “A quem iremos, Senhor? Somente tu tens palavras de vida” (Jo 6,68).

O Senhor chamou-nos pelo Batismo. Cotidianamente, fala-nos ao coração, procurando-nos em nossas tarefas diárias, para enviar-nos. Esta fala do Senhor e este envio que Ele nos faz acontecem em simultâneo. Assim, no meio dos nossos trabalhos, dos nossos afazeres, Jesus convida-nos a segui-Lo, para que O coloquemos no centro da nossa existência, para que o nosso serviço a Ele passe pela evangelização que fazemos do mundo. O Senhor escolhe-nos e, na maioria dos casos, deixa-nos no lugar em que estamos: na família, no estudo, no trabalho que realizamos, na roça que eu cultivo, no meu lazer, no meu esporte… para que, nesse lugar e nesse ambiente, O amemos e O demos a conhecer. Já que optamos por Ele, e, a partir desta escolha, toda a nossa vida e o que fazemos tornam-se afetados por essa decisão.

O Senhor consagra-nos pelo Batismo, procurando-nos, e envia-nos ao nosso ambiente e à nossa profissão. Mas quer que, assim como toda a nossa vida, esse trabalho cotidiano seja diferente. No seu livro “Sulco”, São Josemaría Escrivá exemplifica como a consagração do Batismo e o nosso envio da parte do Senhor modificam-nos: “Escreves-me na cozinha, junto ao fogão. Está começando a tarde. Faz frio. A teu lado, a tua irmãzinha – a última que descobriu a loucura divina de viver a fundo a sua vocação cristã – descasca batatas. Aparentemente – pensas – o seu trabalho é igual ao de antes. Contudo, há tanta diferença! – É verdade: antes ‘só’ descascava batatas; agora, santifica-se descascando batatas” (n. 498).

Para fazermos do nosso trabalho um apostolado missionário, nos nossos encargos, devemos assemelhá-los ao de Cristo ou ao trabalho dos Apóstolos. Devemos fixar a nossa atenção no Filho de Deus humanado enquanto trabalhava, e perguntar-nos: que faria Jesus no meu lugar? Como realizaria as tarefas que me absorvem? Fazer tudo bem feito, como faria o Senhor, com perfeição humana, sem coisas mal-acabadas. Por exemplo: entregaria as encomendas no prazo combinado; faria tudo – até o mais simples – com amor, pensando na alegria dos clientes ao serem satisfeitas as suas necessidades; trabalharia com afinco, mas sempre na justiça, na honestidade, na retidão, ainda que isto O cansasse… Entretanto,  além da perfeição humana, Jesus executava as Suas tarefas com plena eficácia sobrenatural, pois, ao mesmo tempo, com esse trabalho, realizava a redenção da humanidade, unido a Seu Pai por amor e com amor, e unido aos homens por amor também deles. Então, façamos do nosso trabalho – por mais simples que seja, mas sempre importante – nossa missão, nosso apostolado, conseguindo de Deus, pelo que nossas mãos desenvolvem, a nossa santificação e a de todo o mundo, principalmente para maior glorificação de Deus.

Seja o nosso âmbito missionário a nossa faina, o nosso costumeiro, porque é para aí que Deus nos consagrou e enviou, tal como os discípulos, que não deixaram a pesca, mudaram, apenas, o elemento pescado: de peixes, passaram para a pesca de homens.