ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 3:53:09

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Castidade: dom e luta

 

Pe. Everson Fontes Fonseca,

Administrador da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro

 

No Sexto Mandamento, temos: “Não pecar contra a castidade”. Num mundo onde o erotismo, a vaidade e o relativismo se fazem latentes e a sexualidade parece mais aflorada (principalmente nos seus desvios), o que a Igreja entende sobre a virtude da castidade?

O Catecismo da Igreja Católica, ao nos fornecer um amplo conceito, ensina-nos: “A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher. A virtude da castidade engloba, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação” (n. 2337). Logo, a castidade não envolve apenas o âmbito corpóreo do humano; antes, engloba também a sua dimensão psicológica e espiritual, tendo o homem numa conta de integralidade com Deus, consigo – inclusive com a sua história de vida – e com os outros. O termo que usamos, integralidade, faz-nos, de imediato remeter à ideia de ordem e bem-estar. É justo que pensemos assim. Entretanto, tal ‘ordem’ não é de fácil alcance; tampouco é uma realidade mágica, instantânea, automática. É uma construção, principalmente quando se tem presente o fator concupiscência, que acompanha a humanidade, mesmo quando esta foi remida por Jesus, tornando-se livre do pecado original pelo Santo Batismo.

O termo ‘castidade’, do latim “castus”, traz em si o significado de pureza. Jesus mesmo, no Sermão das Bem-aventuranças, felicitará os castos: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!” (Mt 5,8). E é interessante deparar-nos nesta promessa do Senhor: ver Deus. Na tradição bíblico-teológica, veem Deus os anjos (cf. Mt 18,10). Um grande teólogo francês, Adolphe Tanquerey, em seu Compêndio de Teologia Ascética e Mística, unirá o desejo de castidade à natureza angelical: “Dize-se com razão ser a castidade uma virtude angélica, porque nos assemelha aos anjos, que são puros por natureza” (n. 1100). O que os anjos são por substância, nós, suscetíveis à concupiscência, à fragilidade, se quisermos ver Deus, teremos que nos empenhar em esforço para alcançar a pureza. Daí que Tanquerey continuar: a castidade “é uma virtude austera, porque não se consegue chegar a praticar senão disciplinando e domando o corpo com seus sentidos por meio da mortificação” (Ibidem).

Ninguém, entretanto, defina castidade tendo em mente apenas a vida de solteiro, e, nesta, mais estreitamente, a celibatária. A castidade é um dom a ser vivido por todos, sem exceção. Vejam: é dom enquanto presente de Deus; é empenho ascético para o homem. É a união do querer de Deus em conceder-nos a sua pureza e o nosso esforço em querer abraçar, em posse, tal desejo divino para nós. Se Deus muito nos quer santos, puros, castos, para Se nos revelar a nós eternamente, o pecado, com as suas amálgamas, dita, no mundo, os contra-valores para, lesando-nos na castidade ao refutarmos a pureza de Deus, sermos roubados do nosso destino final.  O imperativo das paixões, da luxúria, da pornografia, da prostituição, da fornicação, do adultério, dos diversos fetiches, da masturbação, do estupro e das práticas homossexuais (bastante em evidência pelo infundado doutrinamento da Ideologia de Gênero inclusive) se constituem graves ofensas à pureza, dom de Deus e nosso esforço.

Nesta vida presente na carne, de acordo com o nosso estado de vida e vocação, o Senhor quer que antecipemos o céu pela vivência estrita da pureza (cf. Mc 12,25). Não desanimemos na dificuldade em viver fielmente esta virtude. Se assim o fizermos, poderemos não avançar na resposta afirmativa a Deus de querer copiar em nós a Sua santidade, não obstante os aguilhões da carne (cf. 2Cor 12,7), enfrentados com a valentia ascética. Para uma salutar vivência da castidade, auxiliar-nos-á a experiência com a misericórdia de Deus, que nos deseja, inteiramente, para Si.