ARACAJU/SE, 18 de abril de 2024 , 23:50:22

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Cobertura vacinal e o retorno a idade das trevas

A cobertura vacinal, ou seja, a população máxima a ser vacinada contra determinada doença, é o caminho para a imunização e sucesso no combate de doenças como a poliomielite, a gripe, o sarampo e, esperamos que em breve, a COVID-19.

Tudo isso parece razoável pois estamos em pleno século XXI e o avanço da biotecnologia e o uso de equipamentos de maior precisão nos coloca com a capacidade de buscar soluções vacinais efetivas em tempo recorde. Bem diferente do início do século passado quando a varíola, a febre amarela e o sarampo causaram muitas mortes pelo mundo, em particular, nos países mais pobres.

No entanto, no mundo inteiro tem surgido um movimento das trevas e da ignorância que nos remete a idade média, era da escuridão e do medo, contra a vacinação, usando a rede mundial de computadores – a internet, para espalhar mentiras e pensamentos negacionistas da ciência. E qual o resultado? Doenças como a pólio e o sarampo estão reaparecendo em lugares que eram considerados livres dessas endemias.

No Brasil a taxa de imunização contra o sarampo em média não chega a 10%, segundo dados do Ministério da Saúde, muito preocupante quando sabemos que o sarampo tem a capacidade de ser transmitido para muitas pessoas e em pouco tempo, e que pode levar à morte adultos e crianças.

A própria vacinação contra a gripe sofreu com notícias falsas de que faria mal aos idosos, ao contrário, os protege da síndrome gripal que pode evoluir para infecções respiratórias graves com alto potencial de causar a morte.

Em 2020 se conseguiu o melhor índice de cobertura da gripe pela campanha ter sido incisiva e diante do apelo da pandemia do coronavírus. Muitos idosos foram protegidos e até explica que o número de infectados pela COVID-19 não ter crescido tanto entre os mais velhos, não pela vacina, mas pela redução de internação pela gripe, que poderia em ambiente hospitalar ser infectado pelo coronavirus.

O que nos preocupa é que esta ideia de que a liberdade das pessoas atinge também o espaço da proteção através da vacina, e por isso não se pode obrigar ninguén a se vacinar é de uma estupidez que beira a ignorância medieval.

A Constituição Federal garante a liberdade do mesmo jeito que garante a segurança e a saúde, individual e coletiva. Esses direitos coexistem no texto da Lei Maior com o mesmo peso e autoridade, devendo ser sopesados na prática qual deles naquele momento deve ser prioritária a sua aplicação.

Assim, diante de uma pandemia ou mesmo de uma endemia, a saúde de todos, portanto, direito à saúde coletiva, tem prevalência sobre outros direitos individuais. O Estado pode, e deve, se for o caso, tornar obrigatória a vacinação. Aliás, a prova disso é que existem normas, até internacionais no caso de imigração, que uma pessoa para entrar em determinado país é obrigatória a vacinação contra determinadas doenças. Os pais têm obrigação de vacinar seus filhos menores, caso contrário terão penalidades no trabalho, no acesso a políticas públicas de natureza social, como o bolsa família, por exemplo.

As últimas notícias de que governantes e seus seguidores defendem a não obrigatoriedade de uma vacinação no caso da COVID-19 é muito preocupante. Como é preocupante ver milhões de pessoas se comportando como se a pandemia tivesse acabado. O afrouxamento da vigilância em relação a uma conduta de distanciamento social, o uso de máscaras, a não aglomeração e a higiene das mãos, seja com água e sabão ou álcool em gel, somado a desativação de leitos de enfermaria e de UTI em muitas cidades, nos leva a possibilidade de uma segunda onda como está a ocorrer na Europa.

Não podemos deixar que a ignorância e as trevas dominem este século. Seria um retorno a escuridão da idade média.