Vi muita troca de murro quando os dois, que discutiam, invocavam a mãe do outro. Tudo se desenrolava de forma simples. Um deles fazia um risco no chão. Dizia: esse risco é sua mãe. Ora, a mãe estava em casa. Então, do que fez o risco no chão, a ameaça: veja o que faço de sua mãe. Em seguida, com o pé apagava o risco, como se esmagasse a mãe do desafeto. O pau, então, comia. Era soco para um lado e para o outro, até que alguém conseguia desapartá-los, para completa decepção de tantos quantos corriam ao local para melhor assistir a refrega.
Não ficava só nisso. Os mais velhos manipulavam as crianças e as faziam brigar. Colocavam uma moeda no chão no meio de três ou quatro meninos. Anunciava: quem pegar é o dono. A meninada, na tentativa de se apossar do dinheiro, ficava a se esmurrar, até um ser considerado vencedor, e, assim, reconhecido pelos demais contendores. Os que assistiam desabavam em rir. A disputa da cédula fazia com que a meninada esquecesse a paz vivida para se utilizar de recursos físicos de tempos bem primitivos. Mas, era assim mesmo que ocorria.
Tudo era motivo para inimizade. Até o namoro encerrado se constituía em fator de discórdia. Uma família se sentia ultrajada e, para sempre, os seus membros não voltavam a falar com os familiares do ex-namorado ou da ex-namorada, numa ira que, às vezes, se esticava tanto que até atingia a namorada que o ex-namorado, depois, muito depois, à frente, arranjasse.
Então, me lembrei do casal de políticos do interior que morou, por pouco tempo, em edifício onde eu tinha residência, o suficiente para esquecer de pagar a taxa de condomínio. Anos depois, ocorreu tumultuada ruptura. Ação criminal por delitos praticados quando ocuparam a chefia de um município foi movida contra os dois. No interrogatório, após ouvir o acusado, era a vez da acusada. A servidora, que me auxiliava, não sabia do passado dos dois, pedindo ao ex-esposo para avisar a ex-esposa que podia entrar. A cara ficou mais feita ainda, o olhar a espalhar fogo. Um servidor fez a chamada. O contraste formou-se. Ele, a barriga na frente, a cara de quem engoliu brasa. A acusada, que ainda não tinha perdido o encanto, ingressou na sala, leve e lépida. Foi interrogada. Contou sua versão. Cada um mais inocente que o outro. Dava pena.