ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 1:37:29

logoajn1

De doenças, mortes e de remédios

O conterrâneo, lá da Itabaiana, carregando para onde ia o diabo da diabetes, a luta hercúlea para superar tanta pedra no caminho, foi aconselhado a tomar urina, recomendada como o remédio ideal para curar sua infeliz moléstia. E ele, que amava a vida, e, mais que a vida, a polêmica diária onde colocasse o pé, não passando em branco onde quer que estivesse, não perdeu tempo: passou a ingerir urina. Não sei quantas vezes assim o fez, ou se parou no primeiro gole. Tudo o desespero de se livrar da diabetes, que, aliás, já tinha levado seu pai e dois irmãos para o mundo dos pés juntos. Foi o que circulou.

O conterrâneo faleceu, e ao que sabemos, suavemente, no final da tarde de domingo, depois de um banho, ocasião em se recolheu para descansar, e, quando percebido que dormia demais, descobriu-se que já tinha viajado para o outro mundo, estando ali, na cama, apenas o corpo inanimado. O desenlace se deu há alguns carnavais, deixando um vazio na arte das manifestações públicas, nas quais sua voz era a mais alta de todas, não escondendo suas posições, sempre barulhentas, a língua respeitadíssima. Poucos polemistas atingiram seu nível, não se registrando reconhecimento de derrota. Estranhamente a morte se deu sem qualquer discussão, nem da morte, nem dele, parecendo ter feito, de antemão, um pacto para nenhum dos dois abrir a boca.

Em outra ocasião, uma paciente, também de Itabaiana, que, examinada, teve do dr. Luiz Carlos Andrade recomendação de cirurgia urgente, no outro dia, hospital já com reserva de apartamento, cirurgião escolhido, era só sair dali direto para se internar. A paciente ouviu calada. Ao final, disse que retornaria a Itabaiana para ouvir um rezador muito afamado, Manoel Barraca, sobre a providência a tomar.  Assim o fez, começando um calvário que, tempos depois, findou em uma sepultura no Cemitério das Almas.

Me lembrei dos fatos ante a notícia, quase que diária, dos remédios milagrosos, simples e acessíveis, que são indicados para evitar o contágio com o covid-19, ou para combatê-lo, que nos tem chegado, indo do suco e da casca do limão até fabricados em laboratórios, um caçuá cheio até as beiras, sem se falar na aclamação do isolamento ou de seu combate, etc. e etc., e a gente cada vez mais se acovardando, sem dispor de um pote para se esconder dentro, correndo da rua, trancado em casa, onde só o vento entra, e, assim mesmo, pelas janelas.

Foi nesse ambiente que alguns amigos me passaram o nome de vários remédios que já teriam em casa, para tomar se fossem contagiados pelo vírus fatal. Em duas ocasiões, mandei mensagem para o dr. Luiz Carlos, com a exibição das caixas dos remédios e a pergunta: e aí, o que acha? A resposta veio nas buchas: – Pode acrescentar: sal grosso, vassourinha e espada de São Jorge. Em outra mensagem, ante a notícia de uso de certos remédios, que deram certo, o consultei. E a resposta: – estariam do mesmo jeito com banho de alfazema e sal grosso.

Bom, sal grosso, recomendado também para churrasco, eu compro, na próxima vez que for a um supermercado. O resto, talvez só no Mercado Central, e, bem, lá, por ora, não piso os pés.