ARACAJU/SE, 23 de abril de 2024 , 23:54:44

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Ei-Lo como nós!

Natal! Hoje, contemplamos a manifestação inaudita do nosso Deus, que “desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações” (Is 52,10).

Aquele que era o invisível, hoje ganha um rosto: o da Sua criatura mais querida, a humanidade, porque “a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como filho unigênito, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). O meu rosto, o seu rosto, caro homem, a fisionomia do pobre e do sofredor é inspiração para que Deus se manifeste em nossa frágil carne mortal, em nossa débil natureza humana. Ele irmanou-Se, sobremaneiramente, conosco!

O Menino da manjedoura é a mensagem mais eloquente do amor do Senhor, um amor que permite a divindade transmutar o Seu Ser, passando a Deus e homem. Aquele que, na Trindade, é o Filho eterno, consubstancial ao Pai e ao Espírito, entra no mundo como filho de Maria, como rebento de homem, porque “Um menino nasceu para nós: um filho nos foi dado!” (Is 9,6). Gerado na eternidade; gerado no tempo no ventre virginal de Maria. Sustentando tudo com o Seu poder infinito (cf. Hb 1,3), permite-Se ser sustentado, alimentado, cuidado por Suas criaturas; Ele, o Criador. A beleza insondável de Deus toca a feiura que o pecado nos causou, mostrando, pela candura da Criança do Presépio, o rosto do “homem novo”, redimido pela Cruz, que aguarda os membros pequeninos do Infante Jesus. Desta forma, contemplamos, de maneira ampla e privilegiada, toda a vida do Senhor sobre este mundo, de Belém a Jerusalém, da gruta do Seu nascimento àquela da Sua sepultura e ressurreição, e a nossa salvação, pois “os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus” (Sl 97,3cd).

A beleza de Deus está, visivelmente presente, em nosso meio, podemos tocá-la, sentindo-a, copiá-la, já que nos inspira a vida: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: ‘Reina teu Deus!’” (Is 52,7). Ver o Menino, contemplá-Lo, copiar-Lhe os sentimentos após uma longa e saudável expectativa, é-nos um consolo a nossas tantas e passageiras preocupações, porque a verdadeira inquietude deve ser a nossa alegria, a nossa satisfação está em fazer de tudo para sermos contados no número dos que são de Cristo, acolhendo-O, pois, nascendo Ele para nós, nascemos para Ele, porque nascemos ‘para’ e ‘conforme’ a vontade de Deus (cf. Jo 1,11-13).

Esta nossa reflexão não pretende esgotar o admirável e indizível mistério da Encarnação e do Natal do Senhor. Mesmo com a nossa limitação interior, estejamos abertos à graça de Deus, que nos permite alargar, pela fé, os nossos horizontes espirituais, para que, no nosso cotidiano, o nosso semblante, os nossos gestos e atitudes transmitam a pureza e a beleza do Filho de Deus feito filho do homem.