ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 23:24:31

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Famílias cristãs geram vocações para a igreja

Muito é falado sobre a crise vocacional na Igreja: isto é um fato. A causa da crise para o sacerdócio, para a vida consagrada e matrimonial é mais ampla do que se imagina, porque atinge, seriamente, a noção de vivência cristã. Não tenho dúvidas de que, em as nossas comunidades, há certamente sementes vocacionais, faltando o ambiente propício para que elas floresçam, porque o Senhor não cessa de passar, chamando operários para a Sua vinha (cf. Mt 20,7).

A crise da vida cristã reflete-se, imensamente, na família que, por carência ou isenção de formação de consciências a partir do sacramento matrimonial e de tudo que dele dimana, não é muito estruturada. Neste sentido, vemos os crescentes colapso e desdém da visão de família cristã (que, outrora, era natural pela fé) quando o ambiente em que cresce a criança, o adolescente e o jovem não reflete o compromisso primariamente cristão, e disto, por seguinte, não se pode esperar do futuro das novas gerações uma resposta ao chamado de Deus. Confesso que tal realidade me preocupa como pastor. Se não dermos uma atenção devida, uma melhor base às famílias, se não apostarmos seriamente na formação dos casais, dando-lhes o apoio necessário à vida familiar, se não formarmos bem os jovens, mostrando-lhes o caminho da fé em Deus, não chegaremos a lugar algum e os valores humanos e cristãos jamais penetrarão no coração das pessoas. Muito pelo contrário, a desordem, o senso do trivial e do descartável, de uma irresponsabilidade existencial e do permissivismo adentrarão feroz e destrutivamente para minar a base da sociedade e o nascedouro das vocações: a família.

A crise de vocação sacerdotal e vida consagrada é naturalmente o que reflete a crise ética, social e moral da própria comunidade cristã. Cito um exemplo: pais e familiares que são batizados, portanto cristãos, ficam admirados quando um membro da família pensa em ser padre, freira, frade ou até mesmo em querer casar seriamente na Igreja. Este é um sinal de que algo vai muito mal na vivência pessoal da fé cristã católica. E do pessoal ao familiar, ao comunitário, ao social, sentimos a “falta de valores”. Sem eles, como acima aferi, a família é afligida por primeiro. Sem famílias sadias, fortes na fé e nos valores humanos e cristãos, esta crise, que se expande nas diversas vocações, não será vencida. Tenho certeza: se trabalharmos melhor as famílias, a tensão será vencida e as sementes vocacionais nascerão e se desenvolverão. Certa vez, disse o Papa São João Paulo II que estava “convicto de que as vocações crescem e amadurecem nas igrejas particulares [nas dioceses], facilitadas por contextos familiares saudáveis e robustecidas pelo espírito da fé, de caridade e de piedade”. Creio que, no investimento às famílias (incluindo os casais e filhos), acabamos por “despertar” a sociedade que dorme e entorpece a própria comunidade cristã. Isto cabe a todos. Promovendo e despertando as famílias para a fé, veremos o caminho da promoção vocacional ampliar-se grandemente, facilitando o discernimento dos corações para o chamado sacerdotal ou para a vida consagrada ou ainda matrimonial. Recordo-me do ainda dito por São João Paulo II: “A família é celeiro de vocações”. Mas, família de que tipo? Consciente de quem ela realmente é, e daquilo que ela piamente crê pela fé de seus membros numa adesão total a Cristo Jesus.

Como Cura de almas, questiono: valorizamos devidamente a família? E do questionamento ao apelo: compreendendo a importância da família, é preciso ver a dinâmica e a abertura que se dá para os jovens escolherem livremente o caminho a tomar. Assim, todas as vocações terão o devido lugar no panorama do serviço à Igreja.

Pontuando a importância da família como geradora e incubadora de vocações, trago um último pensamento do Papa Emérito Bento XVI: “Os homens […] sempre têm necessidade de Deus, também o nosso mundo tecnológico, e sempre haverá necessidade de pastores que anunciem sua Palavra e que façam encontrar o Senhor”. Que nasçam santos pastores, religiosos, famílias e leigos engajados da santa e salutar convivência familiar!