ARACAJU/SE, 18 de abril de 2024 , 20:45:07

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Maria anima-nos na esperança

“Deus deixará seu povo no abandono, até ao tempo em que uma mãe der à luz; e o resto de seus irmãos se voltará para os filhos de Israel” (Mq 5,2). Quando lemos o Profeta Miqueias, escutamos palavras que inspiraram esperança ao povo de Israel num tempo difícil: o da escravidão por parte da Assíria; por isso, anuncia tempos novos de libertação.

Ao longo de sete séculos, a expectativa pela chegada do Messias, o Libertador, foi sendo alimentada por todos os que ansiavam a libertação de Israel, e preparavam-se para esse momento. Daí, é que o próprio Senhor ter dito, no Sermão das Parábolas, felicitando-nos: “Bem-aventurados são os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque escutam! Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que estais vendo, e não viram. Desejaram escutar o que estais escutando, e não escutaram” (Mt 17,12-13).

Misticamente, também esperamos a libertação que um Menino nos trará. E, pela Sagrada Liturgia, percebemos o sinal da proximidade da Redenção: Maria está grávida de um Filho, que é Deus. Acompanha a profecia de Miqueias outra, a de Isaías: “O próprio Deus vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14). Tal rebento de que fala Isaías, no mesmo período de Miqueias, não é o rei Ciro, dos persas, mas se refere, sobretudo, à gestação virginal do Cristo no seio puríssimo de Maria Santíssima.

Como já vimos dos lábios do próprio Senhor, numa espécie analítica de Sua chegada, muitos profetas e justos O esperaram, nutrindo nos seus corações uma alegre expectativa. Neste rol, temos Isabel e João Batista. Segundo São Lucas (cf. Lc 1,39-56), a estéril, ainda grávida de João, rejubila pela alegre notícia que a Virgem-Mãe lhes oferece, ao visitá-los: a libertação chegou; Deus tirou o Seu povo do abandono. E isto entoará a Virgem Maria também na casa da velha Isabel, com o Magnificat, reconhecendo que Deus “amparou Israel, seu servo, lembrando-se da misericórdia, como prometera a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre” (Lc 1,54-55).

É Isabel ansiosa por esta libertação trazida por Deus no seio de Maria. Aquela exultação do seu enrugado ventre que portava João é revelação do Alto, do Espírito Santo que a tomou em louvor ao grande sinal que se fazia presente diante de si: a chegada do Reino de Deus, pois este “não é comida e bebida, mas é justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). Isabel, neste reconhecimento, garante a sua pertença ao reinado do Messias, permitindo-se ser libertada. E mais: como resultado de sua adesão ao influxo do Espírito Santo, proclama, ainda, a divindade de Jesus, chamando a sua Virgem prima de “Mãe do meu Senhor” (cf. Lc 1,43), e “ninguém será capaz de dizer: ‘Jesus é o Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo” (1Cor 12,3).

Na sua sensibilidade espiritual unida à esperança de salvação, assistida pelo Espírito Santo, Isabel não apenas reconhece o seu Redentor, como, de igual maneira, eleva o canal por onde nos vem a libertação: Maria, a Mãe do Senhor. A voz profética da mãe de São João Batista é a de toda Igreja, porque Isabel, antecipada nos séculos, fará a proclamação do dogma da maternidade divina de Maria, acontecida em Éfeso, em 431, dando-lhe contributo teológico. Ainda mais: a voz profética de Isabel é a de toda Igreja que honra Maria, a “Crente por excelência”, porque ninguém com maiores expectativas e perfeição aguardou e preparou a chegada do Salvador do que a escolhida Virgem-Mãe: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! […] Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,42.45).

Maria, nestes dias em que nos preparamos para o Natal de seu Jesus, nos anima na sua mesma esperança. Nós, que lhe somos filhos e devotos, que a proclamamos bem-aventurada porque o Senhor lhe fez maravilhas (cf. Lc 1,48-49), inspiramo-nos na sua piedade, no seu recolhimento interior, nesta preparação imediata e espiritual. Não existe autêntica espiritualidade natalina se é esta for disforme a da Mãe do Senhor. Que aprendamos, portanto, com ela a vivência de um salutar Natal.