ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 8:28:57

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“Naquele tremendo e glorioso dia…”

Ao entrar no Tempo do Advento, ou seja, da preparação para o Natal do Salvador, a palavra-chave que haverá de acompanhar-nos é ‘espera’. Esta espera não é apenas para a celebração mística da Natividade do Senhor. Urge esperarmos também a Sua vinda gloriosa quando do final dos séculos. Uma belíssima oração da Missa para este Tempo, chamada Prefácio do Advento I-A, relembra-nos a segunda vinda de Cristo, chamada Parusia, afirmando: “Naquele tremendo e glorioso dia, passará o mundo presente e surgirá o novo céu e a nova terra”.

O dia do Senhor será o do cumprimento da promessa feita ao Rei Davi, relacionada à permanência de sua linhagem no trono de Israel: “Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então suscitarei depois de ti a tua posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo e firmarei para sempre o seu trono real. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho” (2Sm 7,12-14). Que prole será essa a que, Natã, em profecia, se refere? Quem será este “filho” de Davi que será firmado por Deus no trono “real”? Quem é o Ungido-Eleito para Filho de Deus senão Aquele a quem esperamos vir em glória para julgar os vivos e os mortos, cujo Reino não terá fim, tal como afirmamos no Credo Niceno-Constantinopolitano?

O dia da consumação do Reinado de Cristo – consumação esta já iniciada no “Dia da Cruz”, quando disse: “Tudo está consumado!” (Jo 19,30) – será conhecido como o “Dia do Senhor, nossa justiça” (cf. Jr 33,16). Até lá, assistiremos tantas situações e eventos detratores da vontade de Deus, que visam, principalmente, abater o coração daqueles que se esforçam para praticar, antecipadamente, a justiça do Senhor em suas vidas, no intento de agradá-Lo e alcançarem a recompensa da felicidade eterna do Reino de Cristo. Por isso, é que o Senhor Jesus nos adverte no Evangelho: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36).

O dia da justiça fará frente à onda de injustiça tão presente no mundo atual. Santo Afonso Maria de Ligório, já no século XVIII, notava quão arredio estava o mundo a Deus e à sua justiça (o que hoje não foi amenizado; muito pelo contrário: foi agravado). Dizia o Santo Bispo: “Considerando bem, não há no mundo quem seja mais desprezado que Jesus Cristo. Trata-se com mais consideração um aldeão do que o próprio Deus. Receiam que o aldeão, ao ver-se por demais ofendido, se encolerize e tire vingança. Deus, porém, é ofendido incessantemente e de caso pensado, como se não pudesse vingar-se quando quisesse”. E, no relativismo do mundo de hoje, do “politicamente correto e de um falso respeito humano”, escondem-se os verdadeiros valores para dar vazão às paixões, aos contra-valores e ao assassinato de Deus, como bradava, em vão, o tresloucado filósofo alemão ateu, Frederico Nietzsche. Em nossos tempos, os malfeitores são mais valorizados do que os justos, o que é princípio de idolatria.

E Santo Afonso ainda comenta, na afirmativa do porquê do Dia da justiça do Senhor: “O Senhor marcou um dia (chamado, com razão, na Escritura Sagrada, o dia do Senhor,  Dies Domini), quando vai dar-se a conhecer tal como é: ‘O Senhor se manifestou e fez justiça’ (Sl 9,17)”. “Naquele tremendo e glorioso dia”, todos seremos submetidos ao poderio de Cristo, e os maus, com as suas obras pérfidas, cairão por terra. “Se no horto de Getsêmani, com as palavras de Jesus Cristo ‘Eu Sou’, caíram por terra todos os soldados que o tinham vindo prender. Que será quando Jesus, sentado para julgar, disser aos condenados: ‘Aqui estou. Sou eu Aquele a quem tanto haveis desprezado’? Que será quando pronunciar contra eles a sentença eterna: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno!’?” (Santo Tomás de Aquino).

Não hesitemos, caro leitor, para, neste sagrado Advento, prepararmo-nos interiormente para um digno acolhimento de Jesus, porque é Bendito [é Todo Santo] O que vem em nome do Senhor” (Sl 117,26), e quer nos encontrar purificados para, entre nós, no meio de nós, em nosso coração, montar a Sua tenda, permanecendo conosco, dispostamente.