ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 9:49:47

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“O banquete já está pronto”

No Evangelho segundo Mateus, falando, mais uma vez, aos sumos sacerdotes e anciãos do povo (cf. Mt 22,1-14), o Senhor se utiliza de parábolas, comparando o Reino dos Céus “como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho” (Mt 22,1).

A este comparativo, duas perguntas nos poderão vir ao coração: por que Jesus se utiliza da imagem das núpcias? Quando este enlace se realizou? Como resposta à primeira indagação, tenhamos presente a dinâmica do livro do Cântico dos Cânticos, que nos apresenta a trama da busca do amado pela amada, e vice-versa, designando, assim, o anseio de Deus em amar a alma humana e a única satisfação verdadeira que esta tem: Deus. Em relação à ocasião em que as núpcias aconteceram, São Gregório Magno afirma, apontando para a encarnação do Verbo: “Deus Pai fez as núpcias por Deus Filho quando O juntou à natureza humana”.

Entretanto, não imaginemos a encarnação do Verbo divino como evento isolado de Sua Páscoa. Não. Porque, pelo mistério do Seu Corpo imolado e do Seu Sangue derramado na Cruz, fomos estabelecidos numa Aliança de amor, nova e eterna, com Deus. De tal modo que, do corpo de Cristo encarnado ao mesmo corpo imolado na Cruz, chegamos à realidade da Eucaristia, onde o único Corpo do Senhor continua oferecido, de maneira atualizada, para a nossa salvação, para que, degustando-O, participemos do Seu Corpo Místico, da Sua Igreja, portanto. Que mistério profundo! Por isso que, em cada Santa Missa, a Igreja, pelo sacerdote, faz um forte convite, ecoado desde as Sagradas Escrituras, mais exatamente do Apocalipse: “Felizes os convidados para o banquete nupcial do Cordeiro!” (Ap 19,9).

As núpcias traduzem-se como lugar de fartura. Isto se expressa no Evangelho pelo apelo do rei-pai: “Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo já está pronto” (Mt 22,4). O banquete de Deus, iniciado pela mesa eucarística, cuja plenitude é o Céu, não é mesquinho; é onde somos infinitamente saciados, nada nos faltando (cf. Sl 22,1). E a sua grandeza também é trazida pelo Profeta Isaías: “O Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um baquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos” (Is 25,6); e o Salmo, por sua vez: “Preparais à minha frente uma mesa […] e o meu cálice transborda” (Sl 22,5).

Mesmo sendo gratuito, por ser obra da imensa misericórdia de Deus, que nos faz dignos de tão alta participação da Sua vida divina, sem mérito algum de nossa parte, é-nos exigido um sincero esforço de correspondência, de maneira que não estejamos aquém de tão grandioso dom. Percebemos na Parábola um dado que se repete também em nossos dias: ainda que o Cristo, estendido na Cruz, tenha Se derramado por todos, promovendo a universalidade de Sua salvação, muitos fazem pouco caso de Seu convite de amorosa Aliança, vivendo na indiferença e no relativismo da fé e dos costumes cristãos; pessoas que põem interesses outros, e não Deus, como prioridade: “Mas os convidados não deram a menor importância: um foi para o seu campo, outro para os seus negócios, outros agarraram os empregados, bateram neles e os mataram” (Mt 22,5-6). Outros, até ouvem o chamado às núpcias com Cristo, porém vivem e agem indignamente ao dom recebido, no afã de quererem recebê-Lo de qualquer modo, sem a consciência de que o banquete celestial, que nos vem pela Hóstia Sagrada, deve comprometer, radicalmente, a vida de quem a recebe. E a Parábola nos disse: “Quando rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando um traje de festa e perguntou-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu. Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Aí haverá choro e ranger de dentes’” (Mt 22,11-13). Pois, como disse São Paulo: ”Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação” (1Cor 1,29).

Deus deseja ver a Sua Igreja cheia, ela que é arauto do convite à salvação, destinando tal chamado a todos, de maneira que os maus se convertam e os bons perseverem nas boas obras, segundo a imaculada fé que receberam no Batismo. Não sejam os cristãos insensíveis a tão salutar, alegre e glorioso convite. Esmeremo-nos em conservar o nosso traje festivo impoluto, sem mancha, digno. Para que, neste cuidado, nos preparemos para louvarmos, adorarmos e nos deleitarmos da presença de Deus para todo o sempre, vendo-O face a face, numa relação iniciada no Altar e encerrada no Céu, onde seremos eternos comensais do Senhor.