ARACAJU/SE, 18 de abril de 2024 , 22:09:03

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O Espírito Santificador é o Espírito da Unidade

Quando lemos a narrativa da Torre de Babel (cf. Gn 11,1-9), vemos a estranha relação entre aquele monumento mirabolante e o pecado, fazendo-nos entrever o desejo fadado ao fracasso que o homem tem de alcançar o céu (a felicidade, portanto) com as suas próprias conjecturas falíveis, aparecendo, assim, a confusão, a desarmonia, a dispersão, o ódio e a divisão como frutos do pecado: “De modo que não se entendam uns aos outros” (Gn 11,7).

Hoje, percebemos que a situação do homem desejar – a todo custo – ser independente de Deus é bastante catastrófica, porque, optando pelo pecado, principalmente o do orgulho, cerceamos o Espírito Santo e a sua ação em nós de comunhão com Deus, primeiramente, e com os irmãos. Entretanto, se nos pomos sob a vontade de Deus, deixando-nos nortear como dependentes de Seu Amor, o Espírito Santo, a nossa existência se torna compreensível, segundo este mesmo Amor divino, que Deus nos dá por linguagem universal. Daí, é que os Atos dos Apóstolos, apresentando o Pentecostes, é categórico no estupor dos judeus devotos de todas as nações do mundo, que moravam em Jerusalém: “[…] pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam: ‘Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? […] todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua” (At 2,6-8.11). Estejamos atentos! O espírito da divisão pode possuir, mediante o orgulho, o coração dos filhos da Igreja Una, desde os seus relacionamentos interpessoais, minando, até mesmo, os grupos, pastorais, ministérios, associação de fiéis… as famílias. Estejamos certos de que, se tal risco é possível, infinitamente mais forte e certo, contrapondo-se ao espírito da divisão, ao espírito diabólico (do grego: diábolos, divisor), temos, em nosso favor, a unidade propiciada pelo Espírito Santo.

No seio da Trindade, é-nos concedida a visão de que, no dinamismo trinitário (em grego: Pericorésis), é o Espírito Santo quem une as pessoas do Pai e do Filho. O movimento pericorético é um tipo de dança antiga, bastante ágil em sua ação, que oferece ao espectador a incerteza (inclusive sobre o número dos dançarinos) e a integração. E qual a relação de dinamismo existente entre as Pessoas Divinas, propiciado pelo Espírito Santo, e a dança pericorética? É que, mediante a unidade das Pessoas Trinitárias, a ação de cada uma delas em particular é refletida na Trindade como um todo. E esta dinâmica é obra do Espírito Santo.

É o Espírito Santo quem unifica a Única Igreja de Cristo, a Igreja Católica. No Prefácio da Missa de Pentecostes, escutamos a Esposa de Cristo dirigir-se ao Pai, dizendo: “Desde o nascimento da Igreja, é ele [o Espírito Santo] quem dá a todos os povos o conhecimento do verdadeiro Deus; e une, numa só fé, a diversidade das raças e línguas”. A Igreja só é, simultaneamente, Una e Católica graças ao Espírito Santo.  É o Espírito Consolador quem, elevando os nossos “corações ao Alto”, santificando-nos e fazendo-nos testemunhar o senhorio de Jesus (cf. 1Cor 12,3b), nos une, não somente a Deus, como também aos irmãos, numa comunhão, numa unidade em meio às diversidades de dons, ministérios e atividades; quem nos faz “formarmos um único corpo” (1Cor 12,13) porque “bebemos de um único Espírito” (Ibidem), haja vista que “a cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7) da Santa e Una Igreja do Senhor, multifacetada em sua universalidade, que denominamos também “catolicidade”.

O Espírito Santo deseja realizar em nós o pedido de Jesus ao Pai: “para que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. […] para que eles sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita” (Jo 17,21.22-23a). Abramo-nos a esta proposta de amor: o Espírito da Unidade que nos é concedido. Assim, seremos um com Deus e entre nós, numa comunhão eterna e envolvente, que se inicia em Pentecostes, e nos chega e se atualiza pelos Sacramentos.