Não é de hoje que os planos de saúde do Brasil apresentam problemas de liquidez, de gestão e de capacidade para atender os seus contratantes. Por essa razão o papel da ANS – Agência Nacional de Saúde Complementar é fundamental para evitar que o consumidor/paciente seja a maior vítima de um certo canibalismo entre as empresas de saúde complementar.
O surgimento da pandemia da COVID-19 pegou os planos de saúde em cheio com o aumento da sinistralidade, ou seja, o aumento de internações em UTI’s e milhares de vítimas que necessitaram de atendimento médico, exames e procedimentos.
É bem verdade, que apesar dos planos de saúde aumentarem os valores das suas mensalidades anualmente com o consentimento da ANS, os contratados, especialmente profissionais de saúde, já estão há mais de 10 anos com valores de consultas e exames congelados. A consequência dessa realidade é que muitos credenciados deixaram de atender os contratantes dos planos, que agora tem que pagar consultas particulares e, por vezes, exames de urgência e procedimentos, o que desagua em forma de processos no judiciário.
O canibalismo no mercado também é um fato. Em menos de dois anos poucos planos sobreviverão, e alguns, na tentativa de escapar da falência, estão investindo em serviços próprios, sejam de consultas, exames simples e complexos, hospitalização e tratamento de doenças crônicas. Se por um lado pode ser uma solução a médio e curto prazo para enxugar despesas e garantir a sobrevivência, por outro, limita o acesso do contratante a serviços de referência nas diversas especialidades clínicas.
A crise econômica, que não é fruto da guerra na Europa, mas um defeito de origem do Estado brasileiro que não tem a cultura do planejamento econômico, mas do oportunismo que depende do humor dos governantes e do período eleitoral, tem levado milhares de pessoas a sair dos planos de saúde pelos preços cada vez mais caros, e passando a utilizar o sistema único de saúde que está aos tropeços.
O problema de gestão não é somente dos planos de saúde, mas neste caso a situação é mais difícil porque envolve investidores, mercado, consumidor/paciente, profissionais de saúde e empresas prestadores de serviços de saúde credenciadas pelos planos. Uma verdadeira cadeia de serviços e consumo que ao ter uma falha coloca em risco a vida de pessoas, o emprego de outras e a existência de empresas.
O futuro dos planos de saúde numa economia fragilizada e após uma pandemia é o encolhimento com os mais fortes adquirindo os mais frágeis, o que pode se tornar um problema muito grave, com a formação de oligopólios e cartéis, que determinarão os preços diante da ausência de concorrência. Tudo sob o olhar do Estado brasileiro.