ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 14:13:18

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O que é a verdade?

No injusto processo sofrido por Jesus, quando da Sexta-Feira Santa, temos, dentre algumas perguntas feitas por Pôncio Pilatos, uma que se sobressai: “O que é a verdade?”. O governador, tendo escutado aquele réu, Nosso Senhor, afirmar que veio para dar testemunho da verdade e quem é da verdade escuta a Sua voz (cf. Jo 18,37), dirige-Lhe tal indagação da qual não espera a resposta. Diante da identidade de Jesus como “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6), creio que devemos explorar o significado da verdade.

E a pergunta do covarde Pilatos retorna: “O que é a verdade?”. A ciência, em conjunto com a Filosofia, poderá nos dizer que é a ideia adequada à realidade. Porém, no seu âmago, a verdade não deve ser indagada como um objeto, e sim como uma pessoa – e esta divina -, de maneira que o pronome relativo não é “que”, mas “quem”: quem é a verdade? A resposta a temos no Evangelho dada pelo próprio Senhor: “Eu Sou a verdade”.

A verdade-Cristo não é, como propõe o relativismo, uma dentre as demais. Mas, no dizer do Papa São João Paulo II, “a Verdade, que é Cristo, impõe-se como autoridade universal” (Carta Encíclica Fides et Ratio, 92), que ilumina todas as dimensões da vida humana e social, pondo-nos em constante contraste com Deus, a verdade absoluta, que nos sonda e nos faz discernir conforme a Sua vontade. O Senhor possui a resposta autêntica para todas as nossas inquietações, porque só n’Ele encontramos o significado da nossa existência e do nosso procedimento.

O Catecismo da Igreja Católica, referindo-se a Deus como Verdade, pontuará em exortação: “Deus é a própria Verdade, suas palavras não podem enganar. É por isso que podemos entregar-nos com toda confiança à verdade e à fidelidade de sua palavra em todas as coisas. O começo do pecado e da queda do homem foi uma mentira do tentador que induziu a duvidar da palavra de Deus, de sua benevolência e fidelidade. A verdade de Deus é a sua sabedoria que comanda toda a ordem da criação e do governo do mundo. Deus, que sozinho criou o céu e a terra, é o único que pode dar conhecimento verdadeiro de toda coisa criada em sua relação com ele” (nn. 215-216).

Para o homem descobrir-se, de verdade, acerca de si mesmo, não há outra clarividência senão o próprio Deus, que nos apresenta quem somos (em nossos defeitos e qualidades) e o que devemos ser, o patamar que devemos alcançar. Fora de Deus, tudo é mentira, engano, porque tudo é pecado. Logo, a importância da fé, que nos faz conhecer Cristo, a Verdade, é imprescindível. O Cardeal guineense Robert Sarah, então Prefeito para a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, no seu livro-entrevista “Deus ou nada”, dirá: “[…] o Ocidente vive como se Deus não existisse. […] As consequências aparecem de tal modo dramáticas. […] a maior parte das populações ocidentais não vê mais em Jesus senão uma forma de ideia, e não um acontecimento, e ainda menos uma pessoa que os apóstolos e numerosas testemunhas do Evangelho encontraram, amaram e à qual eles consagraram toda a sua vida. […] O homem não quer mais refletir sobre a sua relação com Deus, porque ele entende tornar-se Deus. […] Desde então, Deus é considerado como aquele que cria obstáculos para aprisionar nossa vontade, impondo-lhes leis; Deus se torna o inimigo da autonomia e da liberdade” (págs. 213-214). Nos seus relativismos, o mundo cria os seus ídolos conformes as fantasias mais convenientemente absurdas para satisfazer todos os gostos quantos possíveis. E a verdade passa longe disto tudo.

A Igreja, pregoeira e guardiã da Verdade-Cristo, é incansável neste anúncio e, por isso, denuncia erros e mentiras. Para estar mais próxima do Senhor, no seu Senhor, é “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus” (1Pd 2,4). Mas, nada que a Igreja anuncia se perde: para os que acolhem a Verdade, esta será critério de salvação e de vida; para os que a desprezam, de condenação e morte. E, em nome da Verdade, porque anuncia Jesus, a Igreja é perseguida cruel ou veladamente. Por isso, o Papa São Pio X já dizia: “A Igreja Católica é tão perseguida porque assim foi também perseguido o seu Divino Fundador”. E, nós, que somos da verdade, porque escutamos a voz de Jesus, nós que somos membros, filhos, da Igreja Católica, nunca seremos aplaudidos, queridos pelo mundo; antes, por termos saído das trevas do pecado e do erro, seremos desdenhados, ridicularizados, marginalizados pelo mundo que prefere o engano e as suas fantasias à verdade. Pensemos nisto!