ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 10:15:33

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Os 5 minutos de Zé Menezes

Dia desses eu estava lembrando de Zé Menezes, meu professor de Latim na Universidade Federal de Sergipe. Recordava, mais precisamente, da fina ironia machadiana com que ele tratava as situações em sala de aula. Sempre com um riso disfarçado daquele tipo de afeto que sacaneia o outro. Mas era com afeto!

Lembrava quando disse a ele que iria ser aprovado em Latim 1 sem saber muita coisa da nossa Última Flor do Lácio. Passaria igual à cobra: arrastado. Solene e  sarcasticamente, Menezes disse:

– Reprove. Faça Latim 1 novamente. Mas, desta vez, estude. Bastam 5 minutos de estudo por dia. Chegue em casa e reveja o conteúdo. Faça direito o que você fez errado no semestre inteiro!

As palavras do dileto mestre me cortaram como navalhas afiadas. Retruquei no meu íntimo:

– Como é que vou desabafar algo que me incomodava e o Magister me diz pra reprovar? Absurdo!

A minha indagação era de revolta. Achei que Menezes havia desdenhado da minha angústia. Mas não. Ele estava certíssimo. Mesmo ‘ferido’, resolvi seguir o conselho do Professor. Comecei estudando os 5 minutos. De repente, já me pegava em mais de uma hora latinizando.

A Língua Latina se descortinou para mim de tal maneira que cheguei a ensiná-la como disciplina em um curso de nível superior. Passei a ler e escrever na língua dos romanos. Até poemas em Latim eu fiz. Graças aos 5 minutos de Menezes.

Assim somos nós: veteranos em descartar conselhos dos mais experientes. Preferimos, na maioria das vezes, não dar importância às orientações sábias que nos são passadas.

Certamente, desse episódio, uma breve e rica lição é aprendida: quem tem ouvidos use-os para levar sabedoria e humildade ao coração. Somente com esses dois ingredientes,  damos a nós mesmos a oportunidade de melhorarmos, de sairmos da mesmice, de evoluirmos.

Sapientia pulchra est!