ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 11:31:31

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Quais vidas importam?

Dia desses, mais precisamente na última quinta-feira, eu assisti a um vídeo que me deixou altamente perplexo confrontando um paradoxo diante do qual jamais imaginaria (nem mesmo sendo fã das narrativas suprafantasiosas da Marvel, da miologia grega e da engenhosidade de Star Wars e os Jedi). Uma criança, moradora de uma comunidade (nome adotado para indicar localidades com crescimento imobiliário desorganizado) no Rio de Janeiro que insistia com a mãe em brincar de cantiga de roda. Até aí, nada de mais (é assim separado, viu?). se não fosse o tiroteio que estava acontecendo do lado de fora da casa.

Facções rivais entraram em confronto pelo domínio da ‘quebrada’. A bala ‘comendo no centro’, a doce e ingênua menininha cantando feliz e a desesperada mãe tentando calar a filha, ora pedindo que calasse, ora tapando-lhe a boca. A cena era desesperadora, maltratante, surreal, desconcertantemente inumana. Nenhum cineasta, por mais criativo, teria uma imaginação tão cruel para criar uma cena assim, envolvendo horizontes tão distintos. Pelo menos minha imaginação não me deixa imaginar alguém criando um inferno dessa natureza.

Foi nesse mesmo contexto que outra mãe, dando a própria vida, protegeu sua criança com o sacrifício do seu último fôlego, a sua última força, o seu último olhar aberto. Sim, caro leitor, cara leitora. A bala zunia (em bom sergipanês) pra lá e pra cá. Ninguém sabe se mais vidas foram tiradas. Ninguém sabe. Ninguém.

O estranho é que não vi qualquer tipo de manifestação do tipo: vida da mulher importa; ou ainda: vida de alguém da favela importa. Nada. Somente o sopro do silêncio que silenciou silenciosamente.

– Mas, como assim, não houve hashtag nas redes sociais, nem uma palavra da BLACK LIVES MATTER?

Não. Não foi a polícia quem matou. Foram bandidos, esqueceu? A polícia foi proibida pelo STF de entrar nas comunidades.

– Foi?

– Foi.