ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 17:33:58

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Resplandece a cruz!

Na Semana Santa do ano de 2019, mais exatamente na Segunda-feira Maior, o mundo assistia, extasiado e atônito, o incêndio da Catedral de Notre Dame de Paris. E o que nos mais chamou a atenção foi, quando, extinguidas as chamas, reluziu, do altar-mor daquele magnífico templo, uma cruz dourada, que dominava a cena e atraía o olhar, alimentando a fé dos católicos, numa França paganizada e num mundo avesso ao cristianismo, como um sinal, um recado de esperança de Deus para nós: a Cruz vencerá, tal como na visão do Imperador romano Constantino! E por que estamos a falar da cruz? Fazemo-lo na meditação da Carta de São Paulo aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo” (6,14).

Primeiramente, a cruz do Senhor é imagem de renúncia das realidades transitórias para o abraçar de uma opção fundamental. São Paulo no-lo diz: “Por ele [ou seja: por Cristo], o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo” (Gl 6,14). Se não renunciamos o que não é de Deus, e, portanto, o que é mundano e nos afasta Daquele que é o Verdadeiro Bem, perderemos valiosa oportunidade. Mas, deixar-se crucificar é uma atitude dolorosa, porque não se renuncia o que se despreza, mas o que apraz, o que se gosta.

Em segundo lugar, a cruz se estampa como sinal de renovação na paz e no amor divinos. Ainda São Paulo afirmará: “Pois nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor; o que conta é a criação nova. E para todos os que seguirem esta norma, como para o Israel de Deus [quer dizer: para os filhos da Santa Igreja; nós], paz e misericórdia” (Gl 6,15-16). Num dos trechos de sua profecia, Isaías vai nesta mesma direção, porque, concedendo-nos a libertação integral, Deus renova a humanidade, desprendendo para os Seus eleitos toda a ternura, todo o bem-querer de Sua afeição, de Sua complacência: “Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei; e sereis consolados em Jerusalém [na Santa Igreja de Cristo, que comporta, também, a plenitude da dimensão triunfante, celeste]. Tudo isso haveis de ver e o vosso coração exultará, e o vosso vigor se renovará como a relva do campo” (Is 66,13-14c).

Terceiro: o anúncio convicto da cruz do Senhor é garantia de vitória contra os enganos e tentações do demônio. Assim como pela cruz, o Senhor venceu Satanás, anunciá-la, em testemunho, é rever a derrota do inferno. E o próprio Jesus concede tal poder à Sua Igreja, a nós, que, pela consciência de fé que eiva o nosso bom proceder, exorcizamos o mundo, afastando dos ambientes onde estamos, onde somos integrados, o inimigo de Deus, que visa perverter a obra divina pelas tentações, inclusive atiradas contra nós como dardos mortais. Por isso, Jesus dizer: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal” (Lc 10,19). Ou ainda o que diz São Paulo na Carta aos Gálatas: “Doravante, que ninguém me moleste, pois eu trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17).

Aproveito esta última citação de São Paulo para falar de um quarto ponto: a cruz como símbolo de eleição. No dia em que fomos batizados, a primeira marca que recebemos foi a da Santa Cruz, antes mesmo do banho batismal. A partir daí, a cruz passou a fazer parte do cotidiano de cada cristão. É o sinal que nos acompanha. Mas, para que fomos traçados com a silhueta da cruz? Para sermos cruzes na vida dos outros. Não digo castigo. Isso não! A cruz é sinal de benção, de santificação, de salvação. E é isto que devemos ser no mundo: sinais da cruz. Porém, poucos se dão conta deste fato. Daí, Jesus constatar: “A messe é grande, mas os operários são poucos. Por isso, pedi ao Senhor da messe que mande operários para a colheita” (Lc 10,2). Para o mundo, urge os pregoeiros da cruz, os eleitos pelo seu sinal salvador. Tenhamos consciência de que os somos!

Por fim, a cruz designa recompensa. Se vivermos de acordo com a lei do amor que ela nos inspira, alcançaremos a felicidade eterna no Reino do Crucificado. E esta realidade é ainda prometida pelo Senhor: “Ficai alegres porque os vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10,20). Que assim seja!