ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 4:49:13

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São Pio: dispenseiro da misericórdia

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro.

Celebrar um santo é colocar-se diante de sua cartilha de vivência do único Evangelho de Jesus. Na diversidade de suas vidas e carismas, os santos resplandecem como exemplos às diversas personalidades, demonstrando que a santidade é um bem possível para todos os batizados, membros diversos do único Corpo Místico do Senhor, porque, “embora sendo muitos, formamos um só corpo, e cada um de nós é membro um do outro” (Rm 12,5). No último 23 de setembro, celebrávamos São Pio de Pietrelcina, frade capuchinho italiano, que viveu no não muito distante século XX, falecendo, exatamente no ano de 1968. Mas, o que este homem nos tem a ensinar?

Na sua homilia na beatificação do Padre Pio, acontecida na Cidade do Vaticano, em 02 de maio de 1999, o Grande São João Paulo II ressaltava o aspecto de santidade neste Frade Capuchinho como ato de o cristão não viver em si mesmo, mas permitir-se que o próprio Cristo viva nele (cf. Gl 2,20). E isto São Pio não procurou apenas para si, como uma espécie de programa pessoal de vida, mas incutiu a tantos pelo duplo aspecto da vivência da misericórdia, ou seja, pelo Sacramento da Confissão e pela prática de atos da caridade.

São Pio de Pietrelcina era um sacerdote que se aplicava imensamente à restauração de vidas humanas com Deus. Vendo o homem como ser integral – dotado, portanto, de corpo e alma –, desejava ser instrumento da cura divina a partir do coração de cada fiel que procurava os seus favores, naquela mesma lógica de Jesus, ao curar tantos e tantos que se permitiam a uma experiência com o Seu amor.

O próprio São João Paulo II, ele mesmo tendo-se encontrado com o querido ‘filho de São Francisco’, sentiu e admitiu que “quem ia a San Giovanni Rotondo para participar na sua Missa, para lhe pedir conselho ou se confessar, vislumbrava nele uma imagem viva de Cristo sofredor e ressuscitado. No rosto de Padre Pio resplandecia a luz da ressurreição. Marcado pelos ‘estigmas’, o seu corpo mostrava a íntima conexão entre morte e ressurreição, que caracteriza o mistério pascal” (Homilia na beatificação do Padre Pio). Sabemos que o ‘carisma’ dos estigmas também acompanhou a vida do seu Pai Seráfico, São Francisco de Assis, de maneira que, na vida de ambos, havia uma subliminar proposta, de não apenas completar nos seus corpos o que tenha faltado aos sofrimentos de Nosso Senhor (cf. Cl 1,24), mas, também, fazer com que as chagas que atingiram o Santo Corpo do Salvador completassem as agruras de suas humanidades, numa profunda comunhão com Ele, o Homem do Calvário. E, para esta proposta, não a correspondiam com pesar ou murmurações, mas com a alegria típica do Evangelho da Ressurreição. E mais: se os estigmas eram uma proposta pascal, como sacerdote, o Padre Pio oferecia-a aos fiéis pelo conforto da alma e do corpo, refrigérios antecedidos pelos sofrimentos, porque, como o próprio Jesus lhe, pessoalmente, revelou, “junto da Cruz se aprende a amar” (Epist. I, pág. 339).

A dor da alma e do corpo, enfim, o sofrimento, é uma “escola”; e, como tal, extraímos o aprendizado indispensável para conformar-nos ao Cristo, o Homem Perfeito e Perfeito Deus. E, como toda escola, formamos a consciência para escolhas, principalmente dos valores que nos ajudarão para toda a vida. Nas vezes em que foi severo em seu confessionário, o Padre Pio fazia-o para que os pecadores, contritos, se arrependem-se da gravidade do pecado e fossem curados no espírito naquele “abraço pacificador do perdão sacramental” (São João Paulo II, Homilia da Canonização do Bem-Aventurado Pio de Pietrelcina). Quanto às suas preocupações e energias gastas para levar o lenitivo à tantas dores físicas dos que procuravam a ‘Casa Alívio do Sofrimento’, cuidava-lhes como para aliviar o próprio Cristo Sofredor, que Se conforma aos miseráveis.

São Pio é, com o seu exemplo, inspiração para tantos os que almejam a santidade. Que estes (ou seja: nós) sejam atualizadores do amor de Deus na vida da humanidade, em Cristo, crucificada e padecente, para que, segundo o nosso estado de vida, escalemos a santidade pela escada da misericórdia.