ARACAJU/SE, 23 de abril de 2024 , 18:04:56

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Acese vê morte de empresas com novo impedimento de funcionamento

Por Joangelo Custódio

Em 2020, o comércio sergipano e quase toda a atividade econômica, assim como em outros estados, foram forçados a fechar as portas por quase quatro meses em virtude do primeiro pico da pandemia da covid-19. Muitos empresários, desde então, pediram falência ou estão cambaleando para poder manter de pé o que construiu a vida inteira, sem falar das centenas de empregos que foram perdidos. Quase um ano depois da primeira notificação do patógeno em Sergipe, datado em 14 de março, um novo pico da doença vem provocando aumento no número de casos e de mortes, além de superlotar as UTI’s e enfermarias de hospitais públicos e privados. Em virtude desse cenário crítico, na última quinta-feira, 04, durante mais uma reunião do Comitê-Técnico Científico e de Atividades Especiais, foram decretadas novas medidas restritivas para conter a propagação do novo coronavírus. Seguindo o decreto estadual, até o próximo dia 21 de março, atividades consideradas não essenciais ou especiais estarão proibidas de funcionar no período noturno, das 22h às 5h, além de suspender as atividades completamente por dois fins de semana seguidos, de 5 a 7 e de 12 a 14 de março de 2021. Para falar sobre os efeitos dessas medidas sobre a economia, o jornal Correio de Sergipe e o portal AJN1 entrevistaram o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Sergipe (Acese), Marco Pinheiro. De acordo com ele, impedir o comércio de abrir as portas, seja por um dia ou dois, “representará a morte de muitas empresas”. Confira a seguir:

 

CS e AJN1 – Qual a sua avaliação sobre essas novas medidas restritivas anunciadas pelo governador?  

Marco Pinheiro – Será um cenário muito delicado para o comércio e a nossa economia como um todo. No ano passado foram mais de 130 dias com empresas impedidas de trabalhar. Apesar de algumas contribuições do Governo Federal, que permitiu flexibilizar contratos e ajudou no pagamento da folha, muitos negócios simplesmente ruíram. Faltou fôlego para ficar tanto tempo sem funcionar. Aqueles que sobreviveram estão lutando até agora para continuar com as portas abertas. Por isso, impedi-los mais uma vez de funcionar, seja por um dia ou dois, representará a morte de muitas empresas. Isso sem qualquer medida compensatória que ajude esses empreendimentos a passar por este período. Se não começarem a pensar nesses negócios, ofertando algum tipo de apoio como renegociação de tributos ou linhas de crédito especiais, será mais uma vez uma tragédia para a nossa economia.

 

CS e AJN1  – O comércio, como o senhor lembrou, ainda tenta se reerguer da recessão causada pelo patógeno no ano passado. Desde então, quantas empresas fecharam e qual é o saldo de desemprego?

MP- Não foi um ano fácil. Segundo dados da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mais de 75 mil lojas fecharam no Brasil todo. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Sergipe (Fecomércio Sergipe) indica que cerca de 770 lojas fecharam em nosso estado. Tudo isso no ano passado. E o saldo não poderia ser outro: desemprego em massa. O Caged revelou isso recentemente. Em Sergipe, 4.475 empregos formais foram extintos no total. Ou seja, os números mostram que o momento é de dificuldade e a nossa economia tem sofrido bastante com os efeitos da pandemia. É preciso uma força tarefa conjunta, entre o setor produtivo e o poder público para que a gente possa evitar perdas ainda maiores.

 

CS e AJN1 – Como presidente da Acese, qual seria, neste momento, a melhor alternativa de enfrentamento à covid-19 tanto para o comércio quanto para a população?

MP – Eu acredito bastante nos cuidados da prevenção. São medidas simples e que fazem toda a diferença como o uso de máscara, higienização com álcool gel, o distanciamento e evitar aglomerações. Mas, infelizmente, muita gente simplesmente não respeita. E é aí que entra o poder público, para fazer a fiscalização e ações de conscientização. Quem sabe até punir quem se recusa a contribuir tomando os cuidados. O comércio sempre respeitou esses protocolos, pois precisamos continuar trabalhando. E assim continuaremos fazendo. Creio que se todos acatarem essas regras de higiene as coisas podem melhorar e a nossa economia vai poder permanecer aberta, preservando assim a vida, mas também os empregos e os negócios.

 

CS e AJN1 – A Acese tem participado ou contribuído, junto ao Comitê Técnico e Científico do Governo, das tomadas de decisões no que diz respeito à estratégia de combate à doença e da recuperação econômica?

MP – O setor empresarial participa do Comitê Técnico através do Fórum Empresarial. Como a Acese faz parte do Fórum, assim como várias outras entidades do setor produtivo, nos sentimos representados.

 

CS e AJN1 – Qual a sua avaliação, até o momento, dos impactos da pandemia na economia sergipana? Quanto a economia já perdeu?

MP – É difícil fazer uma avaliação total dos impactos, pois ainda estamos no meio da pandemia e os efeitos ainda estão sendo sentidos. No entanto, podemos afirmar sem dúvidas de que as consequências são as mais nefastas possíveis para os negócios. Empresas estão fechando e postos de trabalho são extintos. Pais e mães de famílias que estão perdendo o seu sustento de uma hora para outra. É uma verdadeira tragédia sem precedentes que terá suas implicações estendidas por muito tempo ainda. Somente no futuro é que teremos uma noção do que está acontecendo e o tamanho da nossa perda.

 

CS e AJN1 – O senhor acredita mesmo que tudo isso vai passar ou está cético?

MP – Eu acredito, sim, que vai passar, mas é preciso que todos se conscientizem para que a gente volte à normalidade o quanto antes. Os casos aumentaram agora, mas, no ano passado tivemos as eleições – que causaram muitas aglomerações – e, mais recentemente, o carnaval, onde muitos viajaram e fizeram suas festas nas casas de praia e por aí. A turma relaxou e a triste conta chegou. Se todos tivessem tomado os cuidados, poderíamos estar tranquilos agora. É uma guerra coletiva que necessita de um esforço coletivo. Sem esse pensamento, os efeitos da pandemia serão demorados.

 

CS e AJN1 – Quantos colegas empresários o senhor já viu fechar as portas nesse período e o que o senhor falou para eles, como forma de consolo?

MP – Não é nada fácil. Minha empresa sobreviveu, mas enfrentou muitas dificuldades, assim como todos tiveram seus percalços. Infelizmente, muitos não sobreviveram a essa dura batalha que ainda estamos enfrentando. Fica difícil dar algum tipo de consolo, uma palavra de alívio, pois, nesses negócios estão o sustento de muitas famílias. Para alguns, ter uma empresa representou a realização de um sonho, a conquista de uma vida. Imagina o quão triste está sendo ver tudo isso ruir – e pior, com as mãos atadas por ser impedido de trabalhar por vários dias. É uma verdadeira tragédia que não temos como mensurar.

 

CS e AJN1 – Com a pandemia, a humanidade passou a se enxergar mais e a dar valor a pequenas coisas. O que o segmento empresarial está aprendendo com essa crise sanitária?

MP – É uma mudança de paradigma para toda a nossa sociedade. São novos tempos. Muitos tiveram que se reinventar para garantir a sobrevivência dos seus empreendimentos, encontrando formas de continuar trabalhando, um dia de cada vez, com as ferramentas disponíveis. Quem não se adaptou, buscando inovar, teve muitas dificuldades. Acredito que essa é a maior lição para o segmento empresarial. Mas, a sociedade também está em um processo de grande aprendizagem, de melhoria do ser humano. Aprendendo a olhar para o lado e ajudar um irmão. Colaborar com o coletivo. Ainda falta muito para nos entendermos, mas somente com a união é que poderemos vencer essa luta. O resto é confiar em Deus, trabalhar firmemente pela vacina e esperar que dias melhores cheguem.

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