ARACAJU/SE, 24 de abril de 2024 , 8:00:38

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Analgesia para alívio de dor também é método de humanização de parto

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o parto normal e assistência humanizada, a fim de diminuir o número de cesarianas e suas possíveis complicações. No parto normal, a recuperação da mulher é mais rápida, bem como o elo entre mãe e filho, graças à primeira amamentação. A médica anestesiologista da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e coordenadora do internato de cirurgia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Drª Fátima Carneiro Fernandes, diz que ajudar a reduzir a dor da gestante faz parte da proposta de humanização. A médica explica quais os tipos de anestesia existem para o parto normal, quando e como aplicá-las. Segundo ela, a analgesia de parto é usada para diminuir a percepção de dor por meio de medicamentos,  sem que essa manipulação interfira ou limite os movimentos da mulher, isto é, sem que essa intervenção dessensibilize o momento da gestante. Confira o resultado dessa conversa:


Correio de Sergipe: Quais os benefícios do parto normal para a mãe e para o bebê?

Fátima Carneiro Fernandes: A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o parto natural e a humanização da assistência – bem como o aleitamento materno, o alojamento conjunto com o bebê e a presença de acompanhante na maternidade, perfazendo um alinhamento de diretrizes cujo resultado é o cuidado integral do binômio materno-fetal, além da redução da mortalidade. O incentivo ao parto adequado, humanizado,  diminui a necessidade de realização de cesarianas e suas complicações. Além disso, promove a recuperação mais rápida da mãe e favorece o estreitamento do vínculo com o bebê, facilitando a amamentação.

Faz parte da humanização atender à solicitação da gestante de ajuda na redução da percepção da dor, e o anestesiologista pode e deve participar desse processo.

CS: O que é analgesia de parto?
FCF:
A analgesia de parto é um meio de redução da percepção da dor por meio de medicamentos,  sem interferência ou limitação nos movimentos da mulher. A analgesia se insere nesse contexto para somar, não deve impedir ou reduzir a postura ativa do parto, jamais impedir o planejamento materno de um parto vertical, ou exercícios com a bola, agachamento, etc

Existem registros do uso de métodos para redução da dor no trabalho de parto que remontam à Antiguidade e à Idade Média, seja na China, na Pérsia e na Europa. Mas a primeira mulher a receber apoio de um anestesiologista para o trabalho de parto foi a Rainha Vitória, na Inglaterra, no século 19, utilizando clorofórmio inalado.

De lá para cá, as técnicas evoluíram consideravelmente e a analgesia de parto é uma prática estabelecida para o alívio da dor. Os métodos atuais são bastante eficazes e seguros, tanto para a gestante quanto para o bebê. Podem auxiliar desde as contrações no trabalho de parto até o período expulsivo, quando da saída do bebê pelo canal vaginal. É importante que os pais sejam esclarecidos sobre as opções disponíveis para que possam tomar decisões e participar ativamente do processo, em conjunto com a equipe médica. O objetivo é tornar mais prazeroso esse momento único na vida do casal.

A analgesia de parto nada mais é do que uma anestesia, que utiliza as mesmas técnicas que são aplicadas em qualquer cirurgia. O que difere são as  doses, adequadas ao cenário, apropriadas para que se obtenha o alívio da dor, sem a perda da movimentação. Essa medida de alívio da dor é utilizada para o parto vaginal. Ao contrário da anestesia cirúrgica por definição, a analgesia de parto reduz a sensibilidade à dor, sem impedir os movimentos da mulher em processo de parturição. Mas da mesma forma que em qualquer anestesia, durante a analgesia de parto, a gestante é acompanhada e monitorada por um médico anestesiologista.

É muito importante entender como essa técnica funciona e ficar tranquila e segura para a chegada do seu filho. Durante o trabalho de parto, existem opções farmacológicas e não farmacológicas para o alívio da dor, como massagens e banho terapêutico. O anestesista tem papel fundamental nas técnicas farmacológicas, na qual se inclui a analgesia de parto.

CS: Quais os tipos de anestesia para parto normal?
FCF:
O tipo de anestesia mais usado e mais indicado para o trabalho de parto é a anestesia regional ou espinhal. O anestésico faz o bloqueio das vias de dor e preserva as funções da mãe, como movimentos e a consciência.

A anestesia espinhal pode ser: peridural, raquianestesia ou combinada. São indicadas para todas as fases do trabalho de parto, não prejudicam a mãe, nem o bebê, e permite à parturiente ter papel ativo no processo. A técnica mais utilizada é a peridural contínua (com a utilização de um cateter).

CS: Qual é o melhor tipo de anestesia para o parto normal?
FCF:
O tipo de anestesia mais usado e mais indicado para o trabalho de parto é a anestesia regional ou espinhal. O anestésico faz o bloqueio das vias de dor e preserva as funções da mãe, como movimentos e a consciência.

A anestesia espinhal pode ser: peridural, raquianestesia ou combinada. São indicadas para todas as fases do trabalho de parto, não prejudicam a mãe nem o bebê, e permite à parturiente ter papel ativo no processo. A técnica mais utilizada é a peridural contínua (com a utilização de um cateter).

CS: Como funciona a peridural no organismo para manter o movimento das pernas?
FCF:
É a mais usada para o parto vaginal. Com essa dose baixa de anestésico local é possível bloquear as fibras sensitivas sem bloquear a fibra motora, mais calibrosa.

CS: Quando é possível aplicar a peridural?
FCF:
No sentido de promover melhor bem-estar na hora do nascimento, a redução da dor se tornou um objetivo importante para profissionais da saúde que atendem a gestante. O anestesiologista tem papel fundamental nisso, pois tem à sua disposição diversas técnicas para proporcionar o alívio do desconforto para a parturiente. Portanto, a aplicação da analgesia peridural (ou qualquer outra técnica) dependerá da demanda da paciente, de seu pedido de ajuda. É possível aplicar em qualquer momento do parto, até nos mais precoces.

CS: Quais são os cuidados na sua aplicação?
FCF:
A gestante deve estar monitorizada para a realização do procedimento, com acesso venoso periférico instalado. A punção é feita nas costas, com uma agulha, inserida no compartimento peridural. Nesse local é inserido um  cateter fino e flexível, através do qual se administra pequenos volumes de uma solução de anestésico local. A dose é baixa e, se necessária, é reaplicada durante o trabalho de parto.

Em geral, a punção pode ser feita entre duas contrações, e o anestesiologista vai orientar sobre todos os momentos até o término do procedimento.

Cerca de 15 minutos após a aplicação, a gestante estará bem mais confortável, porém, continua tendo as contrações. A partir desse momento, a gestante será liberada para conduzir seu trabalho de parto, caminhar, agachar, exercitar-se, dançar…. sob a vigilância e cuidado de seu anestesiologista.

CS: Qual é o perfil de gestante que é permitida a aplicação da peridural?
FCF:
É importante destacar que a primeira indicação da necessidade do uso da analgesia no trabalho de parto, qualquer que seja a técnica, é o pedido da gestante. Só ela sabe o nível de tolerância à dor que ela sente. Além disso, é feita uma avaliação do obstetra quanto à dilatação e o bem-estar fetal.

Portanto, toda gestante tem direito de solicitar e receber ajuda. Toda gestante pode ter a peridural como uma das opções de analgesia em seu parto, salvo aquelas que têm anormalidades anatômicas impeditivas na coluna ou anormalidades da coagulação sanguínea.

CS: Esse tipo de anestesia está disponível na rede SUS?
FCF:
Analgesia de parto está disponível e presente na rede SUS. Porém, a escassez de recursos humanos e equipe qualificada dificultaM a oferta dessa assistência.

CS: Quais são as principais características das pacientes avaliadas na consulta pré-anestésica para escolher o tipo de anestesia?
FCF:
Uma das principais preocupações das gestantes sobre o nascimento do seu futuro bebê está relacionada à expectativa da dor no momento do parto. Ansiedade, experiências anteriores, tradições culturais e familiares, preparo pré-natal, toda essa construção contribuirá para a resposta comportamental e motivacional diante do início e da evolução da parturição.

Existem técnicas que permitem o alívio da dor nesse momento, com bastante segurança. A consulta pré-anestésica permitirá a criação de um cenário ideal para explicar diferentes técnicas, entender a idealização materna do momento do parto, avaliar se há alguma doença ou limitação a algum tipo de técnica, e, por fim, decidir junto com a paciente a melhor estratégia.

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