Ao pisar no gramado, o sorriso aberto da atleta Juliana Rosa, 25 anos, não nega: ela está em seu local preferido. Lateral-direita do Estanciano Esporte Clube, Juliana é uma das jogadoras beneficiadas pelo patrocínio do Governo de Sergipe à equipe, durante sua participação no Campeonato Brasileiro A3. Esta é a primeira vez que o governo irá patrocinar um time feminino de futebol, reafirmando o compromisso da gestão com o incentivo ao protagonismo das mulheres em todos os espaços.
A equipe feminina do Estanciano foi escolhida para receber o patrocínio por ser a única a representar Sergipe no Brasileirão. Em seu currículo, o time carrega o título de campeão Brasileiro e Sergipano Fut7, ambos conquistados em 2022, e o bicampeonato Sergipano de futebol, celebrado em 2022 após a vitória de 2021.
Para Juliana, o patrocínio assegura não só sua possibilidade de trabalhar, mas também de exercitar sua vocação. Tendo começado a jogar ainda na infância, a atleta considera o futebol como seu local de conforto. “Cheguei a trabalhar em outros locais, mas não me sentia bem, não me identificava. Eu vi que meu lugar é no futebol. Pode ser que amanhã ou depois eu mude de ideia, mas o meu sonho é sempre jogar bola”, afirma.
História
A história de Juliana Rosa no futebol começa por volta de seus dez anos. Acompanhada de suas irmãs e vizinhas e inspirada pelos irmãos, a atleta começou a jogar bola na rua. Com o passar dos anos, Juliana passou a ver no futebol mais do que um hobby. “Comecei a despertar para ser profissional por causa da minha mãe. Meu pai não queria que eu jogasse, mas minha mãe sempre deixava livre: ‘É o que você gosta, então você tem que fazer’. E eu lutei, enfrentei várias coisas, e hoje estou aqui. Inclusive, é algo que já mudou: ele não gostava e hoje tem orgulho quando me vê passando na TV”, conta.
Na visão de Juliana, o Estanciano é mais do que uma equipe. “É uma segunda família. A gente sempre se trata bem. Se uma precisa de uma coisa, as outras ajudam, emprestam… E assim a gente vai vivendo”, resume a atleta, que sonha com o título do Brasileirão A3 e almeja chegar à série A1 nas próximas temporadas.
A jogadora considera que o patrocínio do Governo de Sergipe será de grande ajuda não só para ela e suas colegas de time, mas para o futebol feminino como um todo. “Apoio é sempre importante. Algumas de nós não têm condições de ter uma chuteira, de ter meiões… E o material do jogador é esse: caneleira, roupa… Se não tiver, como é que a gente vai trabalhar?”, indaga.
A diretora da equipe feminina do Estanciano, Natali Coimbra, concorda. “Esse recurso vindo do Estado é um abraço carinhoso do nosso governador, um cara que gosta muito de esporte. É um valor essencial para nossa participação no Brasileiro. Vai servir para compra de material, para ajuda de custo… Pode ter certeza de que vai ser muito bem utilizado, e de que a gente vai poder ter uma capacidade até maior do que a que temos hoje”, opina.
Construção
Com significativas vitórias no currículo, a equipe feminina do Estanciano começou sua trajetória por volta de 2019. Segundo Natali, o grupo nasceu como reflexo do trabalho que já vinha sendo desenvolvido por ela na ONG ‘Eu Acredito’, que insere crianças e adolescentes na prática esportiva.
“De lá para cá, os títulos começaram a vir, e fizeram com que a gente mostrasse o potencial do futebol feminino aqui em Sergipe. A torcida vem crescendo, e é uma representatividade muito honrosa para a gente. Com fé em Deus, vamos conquistar mais títulos neste ano”, aposta, confiante, apesar de algumas dificuldades que enfrentam.
“As dificuldades existem. Sempre que tem competição, a gente corre atrás de patrocínio para a parte de uniforme. Estrutura física também, é sempre mais complexo para o mundo do futebol feminino. Hoje, a gente tem a disponibilidade de treinar no campo de uma empresa, que não é o campo do Estanciano. A casa do Estanciano é o Francão [Estádio Governador Augusto Franco], mas, por conta de distância e horários, não dá para gente se encaixar nos horários de lá”, explica. Isso porque as atletas ainda precisam se desdobrar em outras ocupações, pois não conseguem se manter do futebol.
A luta pela valorização também é constante entre as atletas, embora já haja um avanço em relação à visibilidade. Por esse motivo, o patrocínio do Governo de Sergipe se mostra como um diferencial. “O mundo do futebol feminino ainda está engatinhando. É preciso muita valorização e investimento no trabalho da base, aumentando o quantitativo de treinamento. Eu acredito muito na equidade do futebol masculino com o feminino. E eu acredito que, por meio desse patrocínio para o futebol feminino vindo do governo, vai ser um pontapé que vai fazer com que abram o olho para o futebol feminino aqui no estado”, prevê a diretora.