A planta no centro de uma descoberta da UFRJ que pode impulsionar o uso medicinal do canabidiol (CBD) já é explorada há séculos de outras maneiras. Enquanto das flores e frutos da Trema micrantha blume é possível extrair substância presente na Cannabis sativa, da maconha, mas sem alucinógeno, como provaram pesquisadores, a casca da árvore dessa espécie é usada desde tempos passados para produção de papel, pólvora e lenha.
A Trema é uma planta comum no Brasil, onde era analisada antes por servir de matéria-prima para celulose, e também em outras regiões da América Central e da América do Sul. No México, há registros que sua casca era utilizada na manufatura do famoso papel amate já em 300 d.C. No século XV, antes da chegada dos espanhóis, esse papel era usado por sacerdotes em suas vestes cerimoniais e em oferendas aos deuses. O material servia ainda para confecção de livros chamados “códices” e até para pagamento de tributos. Traço importante da cultura indígena, sua produção acabou proibida pelos colonizadores, pela associação do papel amate à capacidade desses povos originários de governar, segundo artigo da universidade mexicana Veracruzana.
Ainda de acordo o estudo, na pré-história era usada a casca de uma árvore de espécie Ficus, que pertence à família do figo, para a fabricação do papel, mas devido ao crescimento lento a espécie foi substituída pela Trema micrantha, conhecida como grandiúva no Brasil e como jonote no México). A planta é mais adequada porque pode ser descascada durante todo o ano.
— Além deste, existem outros artigos sobre o uso da casca da árvore de Trema que dizem que também pode ser produzido lenha e pólvora. Tanto que ela também é conhecida como Pau-Pólvora — conta Rodrigo Soares Moura Neto, do Instituto de Biologia da UFRJ, coordenador da pesquisa sobre o uso medicinal do CBD da Trema, que não possui tetrahidrocanabinol (THC), substância psicoativa presente na Cannabis sativa.
A árvore da Trema micrantha tem até 20 metros de altura e cresce rapidamente em áreas desmatadas e degradadas. No Brasil, sua presença é recorrente nas margens de estradas. A espécie também é muito utilizada em reflorestamento.
Já na Sierra Norte de Puebla, região montanhosa no México, as árvores fazem sombra nas plantações de café. São cortadas após oito anos para não competirem com as plantas adultas dos cafezais. Toneladas de casca por semana são retiradas a facão e comercializadas para produzir papel e artesanato.
Fonte: O Globo