Muito além do desejo sexual, a testosterona é um hormônio essencial para o equilíbrio físico e emocional. Ela atua diretamente na manutenção da massa muscular, da energia, da disposição mental e até na eficiência do metabolismo. E o que poucos sabem: ela é fundamental tanto para homens quanto para mulheres. O médico Dr. Adriano Faustino, especialista em longevidade, emagrecimento e modulação hormonal, destaca que a queda nos níveis de testosterona pode impactar diversas áreas da saúde — do rendimento físico ao humor, da libido à composição corporal. Segundo ele, compreender e tratar a deficiência desse hormônio pode ser um divisor de águas na qualidade de vida. O Dr. Adriano Faustino destaca que a testosterona é um marcador vital da saúde global. Seu equilíbrio influencia energia, humor, desempenho, autoestima e longevidade.
Confira os principais pontos abordados pelo especialista:
O que é a testosterona e por que ela é tão importante?
Adriano Faustino – A testosterona é produzida principalmente nos testículos (homens) e ovários (mulheres), com apoio das glândulas suprarrenais; É fundamental para funções como libido, disposição, massa muscular, densidade óssea, clareza mental e metabolismo; Também tem papel protetor contra doenças cardiovasculares e síndromes metabólicas.
Quais os sinais de testosterona baixa?
AF – Tanto em homens quanto em mulheres, os sintomas da deficiência hormonal podem incluir: queda da libido e satisfação sexual, fadiga constante e baixa energia, dificuldade para emagrecer, mesmo com dieta e exercícios, perda de massa muscular e força física, irritabilidade, ansiedade e sintomas depressivos, baixa motivação e dificuldade de concentração, sono fragmentado e não reparador
Como se dá o uso clínico?
Reposição em hipogonadismo androgênico (níveis baixos com sintomas clínicos):
Sintomas: fadiga, perda de massa muscular, disfunção erétil, irritabilidade, perda de libido, ginecomastia.
Sarcopenia (baixa massa muscular) e fragilidade: aumento da massa magra e da força muscular.
Melhora da sensibilidade à insulina e composição corporal. – benéfico no diabetes
Melhora cognitiva e humor: redução de sintomas depressivos e aumento de motivação.
Saúde óssea: redução do risco de osteopenia/osteoporose em homens idosos.
Performance sexual: aumento da libido, qualidade da ereção e satisfação sexual.
Quais são os níveis ideais de testosterona?
A F – Os níveis hormonais devem ser interpretados com base nos sintomas de cada paciente, mas há faixas de referência mais indicadas:
Para homens:
- Testosterona total ideal: entre 600 e 900 ng/dL
- Testosterona livre: acima de 8 e 10 pg/dL
Para mulheres:
- Testosterona total ideal: entre 75 e 100 ng/dL
- Testosterona livre: entre 1,8 e 5,0 pg/dL
Valores abaixo dessas faixas podem justificar investigação clínica, principalmente se associados a queixas físicas e emocionais.
Como tratar a deficiência hormonal?
A.F. – O primeiro passo é realizar uma análise clínica completa, com exames laboratoriais específicos e interpretação individualizada. Estímulos naturais (como sono de qualidade, treino de força, dieta rica em micronutrientes e controle do estresse) podem auxiliar a produção hormonal. Quando necessário, a modulação hormonal pode ser indicada, com opções como gel transdérmico, cápsulas, injeções ou implantes — sempre com prescrição e monitoramento médico rigoroso.
Riscos da reposição hormonal inadequada
A.F. – O uso da testosterona sem acompanhamento médico pode gerar consequências graves, alerta o Dr. Adriano: acne, oleosidade e queda de cabelo, alterações no fígado e nos marcadores cardíacos, supressão da produção natural do hormônio, infertilidade, em mulheres: engrossamento da voz, crescimento de pelos e alterações menstruais.
A relação entre testosterona e emagrecimento
A.F. – A testosterona atua diretamente sobre a massa magra e o metabolismo basal. Níveis adequados favorecem a queima de gordura e melhoram a resposta ao exercício físico. A deficiência hormonal pode levar ao acúmulo de gordura abdominal e à resistência insulínica, dificultando o emagrecimento mesmo com alimentação equilibrada.
Neuroproteção e risco de Alzheimer:
O declínio androgênico com o envelhecimento masculino tem sido associado a diversas alterações neurocognitivas. Entre elas, destaca-se o risco aumentado de Doença de Alzheimer (DA). Os níveis de testosterona (T), hormônio androgênico com efeitos neuroprotetores, parecem exercer papel relevante na fisiopatologia da Doença de Alzheimer, por meio da modulação de β-amiloide, inflamação, estresse oxidativo e plasticidade sináptica.
Quais as implicações Clínicas
A.F. – A terapia de reposição androgênica (TRT) poderia ser investigada como estratégia preventiva ou adjuvante na Doença de Alzheimer, com ressalvas quanto aos riscos cardiovasculares e prostáticos.
Baixa Testosterona X Idoso X Alzheimer
A.F. A comparação entre as pesquisas demonstrou que níveis mais baixos de testosterona estão significativamente associados a um risco aumentado de desenvolvimento da Doença de Alzheimer em homens idosos. Isso sugere um potencial papel fisiopatológico do eixo androgênico na neurodegeneração e pode abrir caminho para novas abordagens terapêuticas e preventivas.
Testosterona e o Coração
A.F. – Testosterona, tradicionalmente conhecida por seus efeitos reprodutivos e androgênicos, tem sido associada de forma controversa ao risco cardiovascular. Enquanto estudos mais antigos sugeriam um possível aumento no risco de eventos cardiovasculares com a terapia de reposição de testosterona, evidências mais recentes, tanto clínicas quanto pré-clínicas, apontam para possíveis efeitos protetores ou moduladores da função cardiovascular e do metabolismo.
Testosterona e Doença Arterial Coronária
A.F. – Níveis baixos de testosterona estão associados a maior incidência de placas ateroscleróticas, inflamação vascular e eventos coronarianos. Em modelos animais, a testosterona reduziu a formação de placas ateromatosas e melhorou a função endotelial.
Impacto Metabólico
A.F. – A testosterona melhora a sensibilidade à insulina, reduz a adiposidade visceral e modula positivamente o perfil lipídico (↓ LDL, ↑ HDL em alguns contextos). Pacientes hipogonádicos (mau funcionamento das gônadas de pacientes de ambos os sexos – testículos em homens e ovários em mulheres – produzem pouca ou nenhuma quantidade de hormônios sexuais) frequentemente apresentam síndrome metabólica.
Inflamação e Função Endotelial (funcionamento normal do endotélio, camada de células que reveste internamente os vasos sanguíneos)
A.F. – Baixos níveis de testosterona estão ligados a aumento de marcadores inflamatórios (IL-6, TNF-α, PCR).A testosterona aumenta a expressão de eNOS (óxido nítrico sintase endotelial) e promove vasodilatação mediada por NO (óxido nítrico), favorecendo a função endotelial.
Mecanismos Propostos
A.F. – A testosterona exerce efeitos anti-inflamatórios, antiaterogênicos e vasoprotetores. Modula a expressão de genes lipídicos, angiogênese e homeostase vascular. Atua na reprogramação metabólica do tecido adiposo e muscular.
Implicações Clínicas
A.F. – A deficiência de testosterona pode representar um fator de risco cardiovascular independente. A terapia de reposição de testosterona pode ser benéfica em homens hipogonádicos com risco cardiovascular, desde que bem monitorada. A abordagem deve ser individualizada, evitando TRT em pacientes com histórico recente de infarto agudo do miocárdio, trombose venosa profunda ou câncer de próstata ativo.
Risco cardiovascular e reposição fisiológica:
A.F. – A terapia de reposição de testosterona (TRT) tem sido amplamente utilizada para tratar sintomas do hipogonadismo em homens, incluindo fadiga, baixa libido, perda de massa muscular e disfunção erétil. No entanto, o impacto cardiovascular da TRT permanece controverso, especialmente em homens idosos com comorbidades cardiometabólicas.
Dada a prevalência crescente de hipogonadismo e o uso expansivo de testosterona, compreender os riscos e benefícios cardiovasculares dessa terapia é fundamental para a prática clínica cardiológica.Estudos analisaram criticamente evidências clínicas sobre os efeitos da testosterona no sistema cardiovascular, incluindo: Risco de infarto do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC), arritmias, trombose venosa profunda (TVP), aterosclerose e função endotelial e metabolismo lipídico e inflamação
Conclui-se que os dados atuais não sustentam a associação entre terapia de reposição de testosterona e aumento de risco cardiovascular, pelo contrário, níveis baixos de testosterona parecem estar relacionados a maior risco CV. Esses estudos oferecem evidência sólida de que a testosterona, em níveis fisiológicos e bem monitorada, atua como: Neuroprotetora e Cardioprotetora