Por Mateus Vargas
O secretário nacional de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, disse nesta terça-feira, 1º, que a vacina ideal contra a covid-19 seria de dose única e armazenada de 2 a 8 graus. Ele ponderou que trata-se de um “perfil desejado” e não descartou a compra de imunizantes que fujam deste padrão, como os produzidos pela Pfizer e pela Moderna, que já concluíram suas pesquisas e estão em fase de registro junto a autoridades sanitárias dos Estados Unidos e Europa.
As duas vacinas das farmacêuticas americanas precisam ser armazenadas em -70º e -20º, respectivamente. Ambas também exigem duas doses. O Brasil testa apenas uma vacina aplicada em dose única, a da Jhonson & Jhonson.
“Qual o perfil da vacina desejada? Claro, que confira proteção contra a doença. Que tenha elevada eficácia, segurança. Capaz de fazer indução da memória imunológica. Que tenha possibilidade de uso em diversas faixas etárias e em grupos populacionais”, afirmou Medeiros durante evento da pasta sobre combate à Aids.
O governo já expôs anteriormente preocupação sobre o armazenamento em temperaturas negativas, pois as unidades básicas de saúde só possuem refrigeradores para produtos que ficam em temperaturas mais altas, de 2 a 8 graus.
A Pfizer afirma que tem um “plano logístico” para apoiar o transporte e armazenamento das doses ao Sistema Único de Saúde (SUS), caso o ministério feche contrato com a companhia. “Para isso, foi desenvolvida uma espécie de container (embalagem em formato de caixa) com temperatura controlada, que utiliza gelo seco para manter a condição de armazenamento recomendada, de – 75 ° C (± 15 ° C) por até 15 dias”, diz a empresa em nota divulgada no começo do mês.
A aposta do governo, por enquanto, é no imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford (Reino Unido) e o laboratório AstraZeneca. O governo investiu cerca de R$ 2 bilhões para comprar 100 milhões de doses desta vacina, além de equipar a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), laboratório ligado ao Ministério da Saúde, para produção independente da droga. Esta vacina é armazenada em temperaturas de 2 a 8 graus, mas deve ser aplicada em mais de uma dose, segundo os estudos.
Em outra frente de atuação para encontrar uma vacina, o Brasil espera receber doses para 10% da população por meio do consórcio Covax Facility, liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) O País investiu R$ 2,5 bilhões para entrar no consórcio.
O Instituto Butantã, ligado ao governo de São Paulo, desenvolve a Coronavac, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. O produto também está no “perfil desejado” do ministério para armazenamento, mas é aplicado em duas doses. Por disputa política com o governador paulista João Doria (PSDB), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez a Saúde negar que comprará doses deste imunizante.
Nesta terça-feira, Medeiros disse que o “perfil da vacina desejada” é de produto que “idealmente seja feito de dose única, embora muitas vezes, talvez não seja possível, talvez seja possível mais de uma dose”. Ele também disse que o imunizante deve ser “fundamentalmente termoestável, por longos períodos, em temperaturas de 2 a 8 graus”. Ainda afirmou que a vacina deve ser de tecnologia de produção barata.
O secretário voltou a afirmar que o plano de imunização só deve ficar pronto após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrar as primeiras vacinas.
O plano do ministério tem 10 eixos e está sendo discutido em grupos de trabalho. Na tarde desta terça-feira, técnicos do governo e de diversas entidades apresentam estudos feitos nestes grupos. Segundo Medeiros, a conversa ajudará a formar um “esboço” para o plano final. “Esse plano de operacionalização só ficará pronto, fechado, quanto tivermos uma vacina ou mais de uma registrada na Anvisa.”