Na guerra dos aplicativos de mobilidade urbana, em que Uber e 99 operam como protagonistas no Brasil, a plataforma russa inDrive, que atua no país desde 2018, definiu uma rota clara para tentar ocupar parte desse mercado e tirar os passageiros de seus concorrentes: acelerar rumo a pequenas e médias cidades brasileiras. Nos próximos meses, a companhia vai entrar em 100 municípios com esse perfil.
Presente em 200 cidades, 40% das operações da empresa estão em municípios que figuram entre 100 mil e 400 mil habitantes. Do total de 1,4 milhão de motoristas parceiros cadastrados, também 40% dos profissionais ativos trabalham nesses locais. Entre os usuários, são 17 milhões que já fizeram uma corrida pelo aplicativo pelo menos uma vez.
“É muito difícil para um concorrente descobrir que a gente está muito forte em uma cidade de 200 mil habitantes, a ponto de avançar por lá para nos atacar. Nossa gestão tem sido muito eficiente nesses locais”, diz Stefano Mazzaferro, country manager da inDrive no Brasil, em entrevista ao NeoFeed.
“Em uma cidade pequena, o motorista sabe quanto custa uma corrida até um lugar. Muitos taxistas sequer usam o taxímetro. A gente transfere esse tipo de uso para a plataforma”, afirma o executivo, que foi o primeiro country manager da companhia, a partir de abril de 2024. Hoje, há mais quatro líderes locais, na Índia, no Peru, no México e no Cazaquistão. A inDrive atua em 49 países.
Segundo o executivo, o Brasil está no top 5 global da companhia em receita, dado que a inDrive não abre. No ano passado, a empresa registrou crescimento de 13% no país. Globalmente, a empresa tem Ebitda positivo e, segundo ele, a operação brasileira é rentável. “O país contribui com margem positiva para a organização global”.
O impacto financeiro da companhia nos quase sete anos de atuação no Brasil, segundo o country manager, atinge R$ 10 bilhões, levando em conta pagamentos de impostos, investimentos e salários.
No pilar de crescimento do core business da companhia, o avanço geográfico nessas localidades é a principal estratégia para o Brasil. Mas há outros caminhos para avançar. No caso das cidades grandes, justamente onde a concorrência é mais acirrada, o desafio é fazer com que os motoristas cadastrados façam mais corridas.
Em outra frente, a inDrive vem realizando investimentos para aprimorar o aplicativo e crescer em áreas além do principal, como entregas, food e transporte municipal, e uma fintech, para oferecer empréstimos a motoristas.
No caso de entregas, serviço já amplamente utilizado por Uber e 99, Mazzaferro diz que o diferencial da inDrive é realizar parcerias com micro e pequenas empresas, como empreendedores de locais de grande concentração e de vendas de produtos de baixo custo, como a região do Brás e a Rua 25 de Março, em São Paulo, além de Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs).
“Muitos desses comerciantes resolvem a demanda de entregas como motoboys próprios, o que gera dor de cabeça na administração. Nossa ideia é, com essas parcerias, oferecer acesso direto, garantindo benefícios aos clientes, como descontos em taxas”, afirma.
Na vertical food, a missão é ainda mais desafiadora, principalmente após o anúncio da parceria entre Uber e iFood para integrar os serviços dos dois aplicativos. “Não vamos entrar nessa briga. Um dos ângulos de entrada que podemos entrar é na operação de minicentros logísticos, pequenas lojas, e entregar de forma rápida para os clientes”, explica. “Nós não vamos entrar na entrega do restaurante. Queremos levar aquele produto de conveniência”.
A companhia, que nasceu na Sibéria em 2013 e se estabeleceu em 2018 nos Estados Unidos, adota um modelo diferente ao das rivais, em que o usuário aciona o aplicativo e a empresa informa o valor do percurso percorrido. Nesse caso, a decisão fica entre usuário e motorista.
“Nossa visão é de combater injustiças, tanto do ponto de vista do motorista como do usuário. A gente ouve como os motoristas são pressionados por causa das taxas e principalmente sobre os preços dinâmicos, que fazem os valores subirem muito”, afirma.
Ainda que a inDrive recomende o valor, o passageiro não necessariamente precisar seguir. “Quando alguém está com pressa, por exemplo, coloca um valor mais alto para conseguir um motorista rápido. Por outro lado, se está disposta a esperar um pouco mais, ela indica um preço menor”. Segundo ele, esse modelo de negociação começou a ser copiado pela concorrência.
A cobrança da taxa de administração ao motorista, que em média é de 10%, é feita no formato pré-pago. Ele deposita um valor para a inDrive, que vai sendo debitado ao longo das corridas. O desafio agora, segundo o country manager, é criar um mecanismo para garantir que o motorista continue trabalhando por um curto período mesmo quando os créditos acabam.
“Esse é um exemplo do que temos recebido de demandas dos nossos parceiros para melhorar o produto. Estamos buscando soluções tecnológicas e uma das alternativas é usar a corrida seguinte para descontar o saldo pendente”, diz. “Temos isso como uma das prioridades para os próximos meses”.
Na camisa do Flamengo
Para ganhar mais visibilidade entre os brasileiros, a inDrive decidiu entrar no futebol. Desde agosto do ano passado, a empresa patrocina o Flamengo, com inclusão da logo na camisa, no microfone da sala de imprensa e espaço nas placas publicitárias em jogos no Maracanã.
“A parceria com o futebol foi uma das oportunidades para ampliar nosso alcance. Outro ponto que pesou na decisão foi a presença grande do Flamengo em todas as regiões, incluindo o Nordeste, onde a gente também é forte”, diz o executivo.
A empresa não revela o valor do patrocínio, que vai até dezembro deste ano, mas segundo Mazzaferro, houve crescimento da demanda do aplicativo na cidade do Rio de Janeiro e em São Paulo desde o início da parceria. Ainda não há decisão sobre avanço para outros clubes.
O executivo da inDrive no Brasil avalia que o plano imediato não é correr para ultrapassar 99 ou Uber e sim se consolidar como a terceira força de aplicativos no país.
“Se a operação é superavitária, não preciso correr. Nosso crescimento seguirá sólido, que é o que mercado exige. Vamos tomar market share, mas de forma sustentável. Vamos incomodar os concorrentes”, diz Mazzaferro.
Fonte: NeoFeed