ARACAJU/SE, 20 de agosto de 2025 , 23:34:06

Pesquisadores decifram sistema de escrita de cerca de 2 mil anos

 

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Colônia, na Alemanha, conseguiu decodificar um sistema de escrita que tem intrigado os estudiosos há mais de 70 anos: o kushan, que era usado num dos estados mais influentes do mundo antigo.

O sistema foi descoberto nos anos 1950, quando escavações arqueológicas na Ásia Central trouxeram à luz dezenas de inscrições nele. Na época, os achados foram apelidados de “escritos desconhecidos”, e passaram a ser estudados por diversos linguistas independentemente.

Svenja Bonmann, Jakob Halfmann e Natalie Korobzow, do Departamento de Linguística da Universidade de Colônia, foram alguns desses pesquisadores. Eles examinaram fotografias de inscrições encontradas em cavernas, bem como personagens em tigelas e potes de barro de vários países da região, a fim de decifrar o enigma. Os detalhes desse análise foram compartilhados em artigo publicado na Philological Society.

Em março de 2023, os pesquisadores anunciaram, em uma conferência online da Academia de Ciências da República do Tajiquistão, a primeira decifração parcial da escrita Kushan. Até o momento, aproximadamente 60% dos caracteres foram decodificados, e o grupo continua trabalhando nos restantes.

Uma escrita antiga

A escrita Kushan foi usada em partes da Ásia Central entre cerca de 200 a.C. e 700 d.C. Ela é associada tanto aos primeiros povos nômades da estepe eurasiana, como os yuèzhī, quanto à dinastia dos kushans. Este segundo grupo fundou um império que, entre outras coisas, foi responsável pela difusão do budismo no leste da Ásia.

O sistema kushan era diferente de outros sistemas da Ásia, como o bactriano eo khotanese saka, que já foi falado no oeste da China. Linguistas acreditam que o sistema recém-decifrado ocupe uma posição intermediária no desenvolvimento entre essas línguas.

Além disso, os pesquisadores suspeitam que, por um certo período de tempo, o kushan tenha sido uma das línguas oficiais do Império Kushan ao lado do bactriano, do gandhari/indo-ariano médio e do sânscrito.

Quebrando o código

As inscrições avaliadas no novo estudo têm fragmentos de dois ou três caracteres e inscrições mais longas com várias linhas de texto. Elas foram descobertas em uma área que se estende geograficamente desde o atual Cazaquistão, Uzbequistão e Tadjiquistão até o sul do Afeganistão.

A chave para essa decifração ocorreu em 2022, quando foi encontrado um texto bilíngue esculpido em uma rocha em Almosi Gorge, no noroeste do Tajiquistão. Esse texto continha tanto a escrita kushan desconhecida quanto a língua bactriana, já conhecida pelos especialistas.

A equipe utilizou a mesma metodologia de decifrações anteriores, como a dos hieróglifos egípcios com a Pedra de Roseta, a escrita cuneiforme persa e a escrita grega Linear B.

Com base nesses estudos anteriores em linguística e nas inscrições bilíngues do kushan, os pesquisadores puderam fazer progressos graduais na compreensão do no sistema de escrita asiático. Os linguistas também tiveram a ajuda do arqueólogo tajique Bobomullo Bobomulloev.

Tudo começou a se encaixar quando, durante a pesquisa, o grupo encontrou algumas palavras-chaves: o nome da realeza “Vema Takhtu” e o título “Rei dos Reis”, que poderiam ser comparado com textos em bactriano. A partir disso, os linguistas foram capazes de analisar outras sequências de caracteres e determinar os valores fonéticos de caracteres individuais.

Após compreenderem as escrituras, os pesquisadores propuseram o termo “eteo-tocharian” (ainda sem tradução do inglês para o português) para descrever o sistema de escrita recém-identificado.

Agora o grupo planeja realizar futuras viagens de pesquisa à Ásia Central em colaboração com arqueólogos do Tajiquistão, pois novas inscrições promissoras já foram identificadas. “Decifrar a escrita Kushan pode contribuir significativamente para a compreensão da língua e da história cultural da Ásia Central e do Império Kushan, assim como a decifração dos hieróglifos egípcios e glifos maias impulsionou a compreensão do antigo Egito e da civilização maia”, comenta Svenja Bonmann, primeira autora do estudo, em comunicado.

Fonte: Revista Galileu

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