Uma expedição às montanhas submarinas da Cadeia Vitória-Trindade (CVT) pretende explorar o mar profundo do litoral brasileiro pela primeira vez no segundo semestre deste ano.
Chegando a três mil metros de profundidade e com topos de montes a cerca de 40 metros abaixo do nível do mar, esse alinhamento de relevos submarinos de origem vulcânica se estende por 1,2 mil quilômetros no oceano, de Vitória, no Espírito Santo, até a ilha de Trindade. A 700 km da costa brasileira, essa cadeia de montanhas submarinas tem uma biodiversidade ainda pouco explorada.
Quem fará essa viagem é um Veículo Operado Remotamente (ROV, na sigla em inglês para Remotely Operated Vehicle), um submarino robótico não tripulado e controlado a partir de um navio de pesquisa, podendo filmar e colher amostras do ambiente. Até o momento, a ciência mapeou somente 20% do fundo do mar, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), dos EUA.
“As expedições em mar profundo exigem logística sofisticada. Por exemplo: os navios que vão operar durante essas expedições devem possuir laboratórios para análise das amostras – tanto de fauna, quanto de flora e da biodiversidade em geral”, afirma à GALILEU Segen Estefen, diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO), responsável pela expedição.
Objetivos da expedição
Dessa biodiversidade a ser explorada, podem surgir materiais e bioprodutos para aplicação na medicina ou na agricultura, por exemplo. “Por serem um espaço ainda inexplorado e desconhecido, [os oceanos] também são onde as espécies se adaptaram ao longo de milhões de anos. Em um ambiente que tem alta pressão, pouca luminosidade – ou quase nenhuma – você pode encontrar nesses organismos biomoléculas ou compostos que poderão resolver problemas da humanidade”, diz Estefen.
É na Cadeia Vitória-Trindade que se localiza também o Monte Davis, onde pesquisadores descobriram ambiente marinho habitado por espécies de corais e o batizaram de Colinas Coralinas, em mapeamento da biodiversidade dos montes submarinos na CVT publicado na revista Coral Reefs em maio de 2022.
Ao realizar expedições como essa periodicamente, os pesquisadores podem analisar a evolução da biodiversidade ao longo do tempo, bem como os efeitos das mudanças climáticas sobre esses ambientes.
Outra região litorânea de interesse para expedições no mar profundo é a Elevação do Rio Grande (ERG), onde estudos prévios já indicaram a existência de depósitos de minerais nobres, como a platina, além de cobalto, níquel, manganês, entre outros.
“Caso haja uma evolução da mineração submarina em termos ambientais e de licenças adequadas, esse local pode ser um ponto privilegiado para esse tipo de exploração”, avalia o diretor. Há estudos que apontam que o local teria sido um arquipélago antes de submergir há 40 milhões de anos, com seu topo a 600 metros de profundidade, e a base, a 5 mil.
Fonte: Revista Galileu