ARACAJU/SE, 25 de julho de 2025 , 20:36:55

Morre Hulk Hogan, ícone da luta livre e do imaginário cultural dos EUA, aos 71 anos

 

Morreu nesta quinta-feira (24), aos 71 anos, Terry Eugene Bollea, mundialmente conhecido como Hulk Hogan — um dos maiores nomes da luta livre e uma das figuras mais icônicas da cultura popular dos Estados Unidos no final do século XX. A causa da morte ainda não foi divulgada oficialmente pela família. O lutador, ator e empresário deixa um legado repleto de controvérsias, sucessos cinematográficos, popularidade e influência que atravessou décadas e fronteiras.

Mais do que uma estrela do wrestling profissional, Hogan foi um arquétipo do “herói americano” em um tempo em que os EUA buscavam reforçar mitologias nacionais por meio da televisão, do entretenimento esportivo e da guerra cultural. Com seus músculos exagerados, ele personificou o ideal de virilidade norte-americana nas décadas de 1980 e 1990.

O nascimento do Hulkster

Terry Bollea nasceu em 11 de agosto de 1953, em Augusta, no estado da Geórgia, mas cresceu em Tampa, na Flórida. Começou a se destacar como guitarrista em bandas de rock da região antes de se interessar pela luta livre. Com mais de 1,95 metro de altura e um físico que evocava os super-heróis dos quadrinhos, não demorou para ser notado por promotores do esporte, entre eles Vince McMahon Sr., patriarca da WWE (World Wrestling Entertainment), à época ainda conhecida como WWF.

Foi na década de 1980, sob a liderança de Vince McMahon Jr., que Hulk Hogan se transformou de um mero personagem em um fenômeno midiático. A WWF apostou todas as suas fichas na figura do “americano patriótico” para promover uma narrativa no ringue: o bem contra o mal, a liberdade contra o comunismo, a força do povo contra a corrupção. Hogan foi o herói de crianças, adultos e marcas publicitárias, estampando brinquedos, camisetas, cereais matinais e até sua própria linha de vitaminas.

Hulkamania e o espetáculo da cultura de massas

O fenômeno chamado “Hulkamania” se consolidou com WrestleMania I (1985), evento que reuniu celebridades como Mr. T, Muhammad Ali e Cyndi Lauper. A luta principal — Hogan e Mr. T contra Roddy Piper e Paul Orndorff — transformou o wrestling em um evento global. A partir dali, a imagem de Hulk Hogan se entrelaçaria para sempre com a televisão e a indústria do entretenimento.

Com sua retórica simples, sempre apelando para o “trabalho duro, as orações e as vitaminas”, Hogan foi o personagem central de uma narrativa que misturava show business e um senso estético quase cartunesco. Em tempos de Guerra Fria e domínio do reaganismo, Hogan foi mais do que um lutador: tornou-se um símbolo cultural do american way of life.

Carreira no cinema e na televisão

A presença carismática e o visual inconfundível de Hogan logo chamaram atenção de Hollywood. Em 1982, ele teve uma participação marcante em Rocky III, interpretando o temível Thunderlips — antagonista que enfrentava o personagem de Sylvester Stallone em uma luta-show beneficente. A cena, embora breve, serviu como porta de entrada para outras incursões cinematográficas.

Durante os anos 80 e 90, Hogan protagonizou uma série de filmes, como Mr. Nanny (1993), Suburban Commando (1991) e Santa with Muscles (1996). Produções que, embora tenham recebido críticas mistas ou negativas, encontraram público entre crianças e fãs do lutador, consolidando sua imagem como astro familiar.

Na televisão, ele estrelou a série Thunder in Paradise (1994), sobre um ex-militar que patrulha o oceano em um barco high-tech ao lado de um parceiro falastrão. A série teve vida curta, mas reforçou o status de Hogan como personagem do imaginário pop, sempre ladeado por explosões, frases de efeito e confrontos morais entre o bem e o mal.

O lado obscuro da fama

A trajetória de Hogan também foi marcada por polêmicas. Em meados dos anos 2000, ele se envolveu em disputas familiares e enfrentou problemas de saúde relacionados ao uso prolongado de esteroides anabolizantes. Em 2015, o escândalo mais grave: trechos de áudios vazados de uma conversa privada revelaram comentários racistas, o que levou a WWE a cortar vínculos com o ex-astro, retirando-o do Hall da Fama por um período.

A reação pública foi dividida: enquanto parte do público o perdoou, apontando sua importância histórica para o esporte, outros jamais esqueceram ou aceitaram sua reincorporação ao universo do wrestling. Hogan se desculpou publicamente, mas sua imagem já havia sido irremediavelmente afetada.

Envolvimento com a política e apoio a Donald Trump

Nos anos 2010, Hogan assumiu uma postura mais politizada, especialmente durante a ascensão de Donald Trump. O ex-lutador foi um dos apoiadores públicos do empresário na campanha presidencial de 2016 e manteve-se ao lado do ex-presidente durante seu mandato. Ambos tinham uma história antiga: Trump promoveu edições do WrestleMania em seus cassinos de Atlantic City e chegou a participar de lutas encenadas na WWE — incluindo a famosa Billionaire vs. Billionaire em 2007.

A adesão de Hogan à agenda trumpista não foi surpresa para muitos: seu personagem sempre se alinhou com os valores tradicionalistas, militaristas e nacionalistas que o movimento MAGA (Make America Great Again) buscava ressuscitar. Ainda que evitasse se envolver diretamente com partidos, Hogan foi presença constante em convenções e eventos ligados à direita norte-americana, como ocorreu na campanha para a presidência em 2024.

Fonte: Gazeta do Povo

 

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