ARACAJU/SE, 2 de outubro de 2025 , 16:05:19

Aquecimento global pode fazer PIB despencar drasticamente até o fim do século, aponta estudo

 

Um estudo publicado na última quarta-feira (24) na revista PLOS Climate traz uma nova preocupação sobre a crise climática: se as temperaturas globais continuarem a crescer, a economia mundial poderá sofrer quedas significativas até 2100. O aquecimento persistente — mesmo em frações aparentemente pequenas, como 0,04°C por ano — tem potencial para reduzir entre 10% e 24% do Produto Interno Bruto (PIB) per capita anual em 174 países.

A pesquisa é baseada em projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), considerando diferentes trajetórias de aquecimento, níveis de variabilidade climática e cenários com e sem ações efetivas de mitigação e adaptação. Os dados foram comparados a dois cenários de referência: um que mantém a tendência histórica de aquecimento ocorrida entre os anos de 1960 e 2014, e outro hipotético, no qual não haveria aquecimento adicional.

Em comunicado, Kamiar Mohaddes e Mehdi Raissi, do laboratório climaTRACES, da Universidade de Cambridge, alertaram que a economia de nenhum país estará imune aos impactos das mudanças climáticas. “Ações urgentes são necessárias para lidar com as mudanças climáticas e proteger as economias de novas perdas de renda”, acrescentam.

Qual é a relação entre mudanças climáticas e crise econômica?

Embora os efeitos físicos das mudanças climáticas — como ondas de calor e secas — sejam preocupações visíveis, suas implicações macroeconômicas são igualmente significativas, mas difíceis de se quantificar. Segundo os pesquisadores, a maioria dos estudos já realizados sobre o tema não levaram em consideração pontos de inflexão – ou melhor, danos não relacionados ao mercado –, como mortalidade, conflitos e insegurança alimentar.

O estudo destaca que o aumento contínuo da temperatura impacta diretamente a atividade econômica. Caso as emissões sigam inalteradas e os esforços de adaptação sejam mínimos, um aumento médio de 0,04 °C por ano pode causar perdas de até 11% na renda global per capita até 2100. Somados os efeitos da variabilidade climática natural, as perdas podem chegar a 14%.

Em projeções mais extremas, as perdas podem alcançar entre 20% e 24%. E o impacto não será distribuído igualmente: países tropicais, mais quentes e com menor renda, podem sofrer perdas econômicas entre 30% e 60% superiores à média global.

Para chegar a essas estimativas, os cientistas realizaram simulações, projetando os efeitos cumulativos do aumento de temperatura sobre o crescimento da renda. A análise mostra que os efeitos econômicos já estão em curso e tendem a se intensificar nas próximas décadas, caso nenhuma ação eficaz seja tomada.

É possível evitar as duas crises?

Apesar das projeções alarmantes, os autores ressaltam que ainda há tempo para agir. Cumprir os objetivos do Acordo de Paris — limitando o aumento da temperatura a 0,01 °C por ano — poderia reduzir significativamente os danos. A estimativa é de um ganho de 0,25% na renda global per capita em relação ao cenário de aquecimento mais acelerado.

Ainda assim, os protocolos de mitigação e adaptação não seriam suficientes para anular os efeitos das mudanças climáticas. O que reforça a necessidade de políticas estruturais e coordenadas em escala internacional.

“Menos de uma década atrás, a maioria dos economistas argumentaria que as mudanças climáticas eram algo com que apenas os países mais quentes e meridionais precisavam se preocupar. Nós desafiamos essa suposição”, afirmam Mohaddes e Raissi. “Em uma série de trabalhos, demonstramos que as mudanças climáticas reduzem a renda em todos os países — quentes e frios, ricos e pobres — e afetarão setores que vão do transporte à manufatura e ao varejo, não apenas a agricultura e outros setores comumente associados à natureza”.

Fonte: GALILEU

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