O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri, disse, nesta quinta-feira (1º), que um acordo entre o Brasil e o Paraguai sobre a nova tarifa de energia da usina hidrelétrica deverá ser feito em até dois meses.
Segundo Verri, as discussões se tornaram um “problema diplomático” e caminham “no tempo das relações internacionais”, o que preocupa a parte brasileira na produtora de energia.
“Temos um grande desafio. Estamos contando com uma reunião que deve ocorrer muito em breve com os ministros de Relações Internacionais e de Energia dos dois países. Infelizmente, o tempo que temos não é o tempo das relações internacionais. Ele deve levar o acordo para mais um ou dois meses, o que é um grande problema. Precisamos pagar nossos funcionários”, disse Verri, em entrevista à GloboNews.
Verri avaliou a posição do Paraguai como “precipitada”, uma vez que as demoras no contrato trazem desconfiança do mercado sobre a usina.
“Creio que é uma coisa muito ruim para o nome da usina. Se continuarmos atrasando salários e pagamentos, teremos um downgrade, e a nossa avaliação de confiança no mercado cairá. Para o Paraguai, isso tem um efeito muito grande sobre a análise de todo o mercado do país, considerando sua dependência de Itaipu”, afirmou o diretor-geral.
Impasse
O país vizinho pede uma tarifa de energia de US$ 20,75/kW, enquanto o Brasil sugere uma taxa de US$ 16,71/kW. A proposta paraguaia tenta angariar mais recursos para investimento interno, enquanto o governo brasileiro negocia por tarifas mais baixas desde que a dívida de construção da usina foi quitada em 2023.
“Uma energia com um preço mais justo permitiria o desenvolvimento de um país de forma muito rápida, mas o Paraguai não entende assim. O que vejo é um exagero, com muito cuidado no uso dessa palavra, por parte do Paraguai de querer de forma muito rápida obter recurso para garantir seu desenvolvimento. O correto seria manter a usina funcionando e criar um grupo para dialogar sobre o que é melhor para os dois países”, declarou Verri.
Entenda
O presidente do Paraguai, Santiago Peña, veio a Brasília em 15 de janeiro para reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A reunião abordou a negociação da tarifa da usina de Itaipu.
A taxa, chamada de Cuse (Custo Unitário dos Serviços de Eletricidade), é definida todos os anos, em acordo entre Brasil e Paraguai. As duas nações dividem pela metade a propriedade da usina hidrelétrica. Como o lado brasileiro consome mais energia que o país vizinho, o acordo prevê a compra do excedente deixado pelo parceiro.
A taxa para 2024, no entanto, segue sem uma resposta final. O mesmo dilema foi enfrentado em 2022 e 2023, mas desta vez o Paraguai se recusa a assinar o documento responsável por permitir que a usina funcione provisoriamente, enquanto as partes chegam a um consenso.
Diante do impedimento, tanto o Brasil como o Paraguai ficam impedidos de pagar seus fornecedores e funcionários. A medida afeta diretamente a credibilidade de Itaipu no mercado financeiro.
Enquanto não há um decisão final sobre o assunto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a manutenção do valor do Cuse em US$ 16,71 por kW e uma redução de 12,69% na tarifa de repasse da hidrelétrica para 2024. A decisão da agência reguladora é provisória. Existe a possibilidade de um aumento do Cuse por causa da pressão paraguaia.
Fonte: Poder360