O Brasil desponta como peça-chave na descarbonização global da indústria siderúrgica e de alumínio, com potencial para se tornar o principal fornecedor global de metais de baixo carbono.
É o que revela um novo estudo lançado nesta segunda-feira, 2, pelo Boston Consulting Group (BCG), durante o evento Brazil Climate Summit Europe e concedido em primeira mão pela EXAME.
Os números refletem o tamanho da oportunidade: o país pode atrair investimentos de US$ 2,66 trilhões a US$ 3 trilhões até 2050, aproveitando suas vantagens competitivas naturais para liderar a transição rumo à economia verde.
Segundo o BCG, há um combinado de condições únicas: abundância de recursos naturais, matriz energética renovável e posição geográfica estratégica.
Ricardo Pierozzi, diretor executivo e sócio do BCG, disse à EXAME que as rotas atuais e futuras de redução das emissões de gases de efeito estufa nestas indústrias dependem fortemente das fontes diversificadas de energia em questão. Além disso, o país possui grandes reservas de matéria-prima e uma posição de destaque na mineração.
“O que fizemos foi uma análise para ilustrar o potencial, integrando essas cadeias, exportando os metais básicos e consequentemente contribuindo com a descarbonização”, destacou.
Em escala global, se o país expandisse sua participação no mercado aos mesmos níveis de sua liderança em mineração, as emissões mundiais da produção de aço poderiam cair de 3% a 4% (85 a 105 milhões de toneladas), enquanto as do alumínio reduziriam entre 10% e 13% (40 a 50 milhões de toneladas).
Potencial trilionário
O Brasil possui 17% das reservas globais de minério de ferro e 9% das de bauxita – matérias-primas essenciais para a produção de aço e alumínio. Paradoxalmente, representa apenas 2% da fabricação de aço bruto e 1% do alumínio primário, indicando um potencial inexplorado gigantesco e trilionário.
A matriz elétrica predominantemente renovável do país seria uma vantagem decisiva, reduzindo significativamente as emissões associadas ao consumo energético na indústria. Além disso, há o fator da competitividade nacional em biomassa e o crescente compromisso governamental com políticas ambientais e incentivos para projetos verdes.
Impacto global
O estudo também destaca que se o Brasil conseguir articular uma oferta competitiva de 15 a 20 milhões de toneladas de aço ou alumínio para exportação, o impacto seria transformador.
Apenas a União Europeia poderia reduzir suas emissões em até 50 milhões de toneladas de CO2 equivalente – sendo 40 milhões em aço e 10 milhões em alumínio – substituindo fornecedores de alta intensidade de C02 pela matéria-prima brasileira.
O mercado europeu representa uma oportunidade particularmente atrativa e poderia atrair entre 10 e 15 bilhões de euros em investimentos.
Entre os desafios para transformar o potencial em realidade, estão a implementação de estratégias ambiciosas de circularidade das cadeias produtivas, investimentos massivos em tecnologias e inovações de baixo carbono e a criação de um ambiente regulatório favorável com políticas claras e incentivos financeiros robustos.
“Superar as barreiras requer um esforço conjunto do governo, das empresas e da sociedade civil, com o objetivo de criar um ambiente favorável à produção de aço e alumínio verdes”, complementou Ricardo.
Líder em soluções verdes
O BCG reforça também que imagem brasileira de um país de recursos naturais exuberantes o posiciona também como potência em soluções verdes.
Da energia eólica e solar até produção de hidrogênio verde, agricultura regenerativa, biocombustíveis e restauração florestal, é possível liderar a agenda de descarbonização.
Fonte: Exame.