Criativas, protetoras ou descartáveis, as máscaras se transformaram num dos símbolos de uma pandemia que não perde força. Mas, para um país, elas também se consolidaram como uma fonte de renda bilionária: a China.
Dados da Organização Mundial do Comércio revelam que as vendas ao exterior de máscaras produzidas na China atingiram mais de US$ 40 bilhões desde o início da pandemia.
Sozinha, a China dominou 57% do mercado global, avaliado em US$ 71 bilhões nos seis primeiros meses do ano. A presença chinesa também é forte nos equipamentos de proteção, incluindo luvas e óculos. Esse mercado chegou a atingir US$ 98 bilhões entre janeiro e julho de 2020. Quase metade desse segmento é dominada por vendas chinesas. No que se refere às máscaras, o mercado praticamente dobrou em menos de um ano, com um salto de 89% e um cenário inicial de falta de produto e forte inflação. Resultado: o valor exportado pelos fabricantes chineses nos primeiros seis meses do ano é equivalente a tudo o que o Brasil exportou em alguns de seus principais produtos do agronegócio.
Dados da Confederação Nacional da Agricultura revelam que, no mesmo período, o país exportou US$ 23,8 bilhões em soja, US$ 4,2 bilhões em carne bovina in natura, US$ 3,5 bilhões em açúcar de cana em bruto e outros US$ 3,5 bilhões em farelo de soja.
No caso chinês, porém, a explosão de vendas não ocorreu de forma imediata. Quando a economia do país fechou a partir de meados de janeiro, o próprio abastecimento de máscaras na China sofreu um forte abalo e o país chegou a importar o produto em fevereiro. Mas a produção foi retomada em março e, com investimentos, as exportações deram saltos de mais de 100% em comparação aos dados de 2019. Dados oficiais chegaram a apontar que, entre março e maio, a China havia vendido ao mundo mais de 50 bilhões de máscaras.
Em certos locais, a produção se multiplicou. A fabricante BYD Co. teria uma capacidade de produção de 20 milhões de unidades. Outro obstáculo para os chineses foi a qualidade. A explosão também gerou críticas internacionais diante de denúncias de baixa qualidade dos produtos, o que levou o governo a anunciar, no final de abril, que havia identificado 90 milhões de máscaras com padrões questionáveis.
Diplomacia da máscara
Mas as máscaras também serviram de instrumento de diplomacia para os chineses. Depois de acusações de ter escondido os primeiros casos do coronavírus e de ter sido colocada sob forte pressão internacional, a China multiplicou gestos para apoiar diferentes países pelo mundo. Já em março, Pequim destinou 250 mil máscaras e 5 mil kits de exame para o Irã. Em cada uma das caixas enviadas ao país sob sanções dos americanas estava um verso de um poeta persa, Saadi Shirazi: “As crianças de Adão são os membros de um corpo, que compartilham uma origem em sua criação”.
Naquele momento, um milhão de máscaras também foram enviadas para Daegu, cidade afetada na Coreia do Sul. Entidades também foram incentivadas a mostrar generosidade. Uma câmara de comércio chinesa, por exemplo, destinou 2,5 mil óculos de proteção para os médicos da cidade de Turim. Mas a primeira grande ação na Europa foi estabelecida pelos chineses na Itália e na Espanha, os dois países mais afetados do continente europeu na primeira onda da doença. Em março, Pequim destinou 1,8 milhões de máscaras para os europeus, além de 30 toneladas de suprimentos médicos e uma equipe de especialistas.
Instantes depois da aterrissagem do material, o chefe da diplomacia italiana, Luigi Di Maio, agradeceu o gesto. “Hoje à noite a Itália não está sozinha”, disse. A mesma estratégia foi adotada na América Latina, na África e mesmo nas entidades internacionais, que viram um aumento de doações por parte de Pequim.
Fonte: Jamil Chade/UOL