A ausência de vendas de carne bovina do Brasil aos Estados Unidos no decorrer do segundo semestre pode trazer um impacto negativo de US$ 1 bilhão ao mercado brasileiro, estimou nessa terça-feira (29) o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa. O montante corresponde a cerca de 200 mil toneladas que deixarão de ser enviadas aos americanos caso seja, de fato, aplicada uma sobretaxa de 50% contra produtos do Brasil a partir de 1º de agosto, conforme anunciado pelo governo dos EUA neste mês.
“A gente vinha com 15 (mil) a 25 mil toneladas de carne por mês aos EUA e a perspectiva que fossem exportadas 400 mil toneladas nesse ano para eles. Se não houver mudança na tarifa e não conseguirmos fazer as 200 mil toneladas que faltam no segundo semestre, seriam US$ 1 bilhão que deixaríamos de exportar”, afirmou Perosa em live com a revista Exame.
O dirigente ressaltou que não se trata de um volume com possibilidade de acomodação imediata em outros mercados.
“Alternativa tem, mas nunca tão acessível quanto os americanos, com grande volume. Não tem um mercado que absorva tudo (que seria vendido do Brasil aos EUA)”, acrescentou.
Por outro lado, Perosa também acredita que os americanos não possuem um fornecedor alternativo para substituir o Brasil com o mesmo nível de competitividade de preços.
“Os canais de venda são diferentes. As carnes argentina e uruguaia competem com a americana na prateleira do supermercado, eles (fornecedores concorrentes) não têm o volume que o Brasil produz da carne que é direcionada para a indústria (americana)”, explicou.
“Com certeza terá impacto inflacionário lá (nos EUA). O Brasil é o país que fornece a carne mais competitiva do mundo, por sua característica de criação (a pasto)”, completou.
Até o anúncio da nova tarifa, o Brasil vinha sendo um parceiro relevante para complementar a oferta de carne no mercado americano, exportando cortes específicos para a formação de blends usados no processo de fabricação de hambúrgueres. Perosa ressaltou que mais de 60% da carne bovina consumida nos EUA é em forma de hambúrguer.
O rebanho bovino americano vive um ciclo de baixa oferta de gado que atingiu o menor patamar em décadas e tem chance de não voltar ao nível em que era anteriormente – daí a necessidade de trazer carne importada para atender a demanda local.
A carne brasileira já era exportada com uma taxa de 36,4% desde abril, quando foi anunciado o “tarifaço” dos EUA contra diversos países e que ao Brasil veio uma taxa de 10% além dos 26,4% que eram praticados até então.
“Uma tarifa agora de 50% levaria a taxa para 76,4% e inviabilizaria o embarque”, disse o presidente da Abiec.
No cenário ideal, o pleito do setor de frigoríficos do Brasil é uma cota exclusiva ao produto brasileiro que seja isenta de tarifa e, ao fim da cota, uma tarifação “justa”, disse Perosa, para que os exportadores possam atuar como parceiros que complementem a produção americana.
Especificamente sobre a nova tarifa de 50%, os frigoríficos tentam que a carne bovina seja incluída nas negociações em que tenham taxas reduzidas ou isentas, como se discute para o café e o cacau, itens com grande demanda americana e que não são produzidos nos EUA.
Perosa afirma que o setor tem contado com o apoio da iniciativa privada americana na interlocução. Por aqui, o dirigente também acompanha de perto as negociações do governo.
Fonte: Globo Rural