O último Censo aponta que a Região Centro-Oeste do Brasil apresenta o maior percentual de imigrantes provenientes de outras regiões do país, com 26% da população composta por moradores com origem em outros estados brasileiros. Segundo o estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a tendência no Centro-Oeste pode ser explicada por fatores estruturais como a expansão do agro, investimentos em infraestrutura e o fortalecimento dos polos urbanos.
Dos aproximadamente 4,3 milhões de imigrantes que residem na região, 43,2% são nordestinos, seguidos por 28,9% de moradores nascidos no Sudeste e 11,9% vindos do Norte do país. O Sul – região que também apresentou saldo positivo nos fluxos migratórios – tem o menor percentual.
O Estado de Goiás é o segundo com o maior volume de não naturais residentes, cerca de 2 milhões de pessoas, e ainda ficou na vice-liderança entre os estados com maior saldo migratório do país, com 186.827 migrantes, atrás apenas de Santa Catarina.
O Mato Grosso – líder nacional na produção de grãos e de carne bovina – também possui um alto número de moradores oriundos de outros estados, representando 34,4% da população total, o que equivale a 1,26 milhão de pessoas. O estado mato-grossense registrou o quarto maior saldo migratório do país, com 103 mil novos habitantes no período.
Principais origens de migrantes por estados no Centro-Oeste
Goiás: Distrito Federal (16,8%), seguido por Minas Gerais (14,1%) e Maranhão (12,9%).
Mato Grosso: Paraná (18,9%), São Paulo (10,3%) e Maranhão (9,6%).
Distrito Federal: Minas Gerais (16,1%), Goiás (13,4%) e Bahia (11,6%).
Mato Grosso do Sul: São Paulo (33,4%), Paraná (19,3%) e Minas Gerais (5,9%).
IBGE aponta para consolidação da “nova fronteira do agro” no Centro-Oeste
Segundo o estudo do IBGE, o Centro-Oeste historicamente registra o segundo maior saldo migratório regional positivo desde a adoção do quesito, em 1991, tendência que se manteve no Censo 2022, com um saldo positivo de aproximadamente 209 mil pessoas.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o analista socioeconômico do IBGE Jefferson Mariano explica que a expansão da “nova fronteira do agro” aumenta a atratividade da região por fatores estruturais e econômicos, impulsionando a vinda de pessoas de outros estados. “O fluxo migratório e o crescimento da atividade na região são processos de médio prazo e grandes fatores a contribuir com a fronteira agrícola e o desenvolvimento econômico na região”, ressalta.
Além disso, o estudo aponta que pessoas que saíram do Paraná, estado com forte vocação agrícola, estão entre os maiores contingentes de imigrantes no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, o que sugere uma ligação entre a necessidade de mão de obra e a busca por oportunidades em estados com perfis agropecuários.
No entanto, Mariano pondera que o IBGE ainda não conseguiu captar em detalhe as relações interestaduais com influência do agronegócio, o que deve ficar mais evidente com o avanço das pesquisas do Censo Agro em 2026 para mapear a atividade econômica e o vínculo empregatício. Além da agricultura, o analista destaca o turismo como outra atividade de atração no Mato Grosso do Sul, onde está localizado parte do Pantanal e a cidade de Bonito, atrações naturais da região.
Líder brasileiro de grãos e carne, Mato Grosso tem demanda técnica no campo
Analista de agricultura do núcleo técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Alex Oliveira Rosa afirma que o estado líder do setor no país tem uma grande demanda de mão de obra no campo, desde trabalhadores braçais até profissionais especializados. Na avaliação dele, a expansão do agro torna o Centro-Oeste um dos principais destinos das pessoas com qualificação para o trabalho no campo.
“Com o avanço da tecnologia, o setor precisa de profissionais especializados, como engenheiro mecânico, técnico em agricultura, técnico em agropecuária, técnico em meio ambiente e também de trabalhadores para construção rural”, comenta o analista. O Mato Grosso não é apenas atrativo para trabalhadores rurais e profissionais técnicos.
Rosa destaca a participação de investidores do Paraná e do Rio Grande do Sul na compra e no arrendamento de terras para a produção agropecuária no estado do Centro-Oeste.
Além disso, a expansão do agro atrai indústrias que buscam o beneficiamento de produtos localmente e oportunidades em logística e infraestrutura, o que alavanca a geração de emprego e renda regional. “A infraestrutura, como a duplicação da BR-163, está evoluindo e ajudará no escoamento das produções agrícolas”, acrescenta o analista.
Fonte: Gazeta do Povo